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Estado de Minas MEDICINA DO FUTURO

Desafios do trabalho di�rio no combate ao novo coronav�rus

Profissionais da �rea de sa�de convivem com o medo da contamina��o no trabalho em hospitais. Eles contam o que mudaram na rotina de trabalho e em casa


Medicina do Futuro
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Medicina do Futuro
postado em 12/07/2020 04:00 / atualizado em 01/12/2020 11:30

* Especial para o EM

O que tem sido mais dif�cil para a enfermeira Aguida de Almeida, de 47 anos, � o fato de os filhos cobrarem gestos afetuosos como abra�os e beijos e ela n�o poder d�-los. Com 20 anos de profiss�o, a coordenadora do setor neonatal de um hospital p�blico da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte nunca viu tantas mudan�as desde o an�ncio dos primeiros casos de COVID-19 no Brasil.

A rotina de cuidados da enfermeira neonat�loga sempre foi constante. Ela e o marido s�o enfermeiros e mesmo antes da pandemia, os dois, antes de chegar em casa, retiravam a roupa e os cal�ados.

Hoje, o casal percebe que a maior mudan�a est� relacionada �s quest�es do afeto. “N�o � f�cil a dist�ncia de conv�vio dos meus familiares e amigos. Meus pais moram no interior, s�o idosos e pertencentes ao grupo de risco, bem como a fam�lia do meu esposo. Desde o in�cio do ano n�o os vejo, assim como meus irm�os.”
 
A enfermeira Aguida de Almeida, de 47 anos, diz que o mais difícil neste momento é não poder abraçar e beijar os filhos (foto: Fotos: arquivo pessoal)
A enfermeira Aguida de Almeida, de 47 anos, diz que o mais dif�cil neste momento � n�o poder abra�ar e beijar os filhos (foto: Fotos: arquivo pessoal)
 
 
O carinho recebido pelo sobrinho de 2 anos, por meio de beijos e abra�os, foi o que recarregou as energias da t�cnica de enfermagem Vanessa Soares, de 37.

Ela passou o m�s de junho em casa, ap�s o Hospital Vila da Serra, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, adotar, entre outras medidas, as f�rias como preven��o � COVID-19. Quando voltou, Vanessa se deparou com um cen�rio totalmente diferente. “J� s�o cinco funcion�rios confirmados, um deles � o coordenador do CTI, que est� internado e intubado.”

A t�cnica de enfermagem acredita que o vai e volta da flexibiliza��o em Nova Lima fez com que muitos moradores e visitantes n�o levassem t�o a s�rio o isolamento. Diante disso, a falta de contribui��o da popula��o � hoje o maior desafio a ser enfrentado no combate � doen�a.

A dissemina��o r�pida do v�rus tem sido outro desafio. A enfermeira Elisangela Batista da Cruz, de 38, que coordena a barreira sanit�ria do Gameleira, acredita que a import�ncia de valorizar a profiss�o ganhou mais visibilidade ap�s a pandemia do novo coronav�rus.

“O desgaste f�sico e emocional j� era not�vel h� muito tempo devido � carga hor�ria de trabalho, porque a maioria dos profissionais acaba tendo a necessidade de ter dois empregos para complementar a renda familiar. Com a pandemia, tanto o desgaste emocional quanto o f�sico v�m se tornando cada vez mais vis�veis”, diz.

Segundo levantamento do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren/MG), at� o final de junho, 777 profissionais de enfermagem foram infectados pela COVID-19, sendo que tr�s morreram: um em Contagem, um em Juiz de Fora e um em Capit�o En�as.

Para a presidente do Coren/MG, Carla Prado Silva, al�m do medo da doen�a, os profissionais est�o cautelosos ao sair �s ruas. Alguns n�o usam mais o branco no trajeto e outros escondem a profiss�o dos vizinhos. “A situa��o � surreal, pois esse profissional deveria ser reverenciado e n�o agredido. J� tomamos conhecimento de agress�es f�sicas e verbais sofridas por profissionais de enfermagem.”
 
 
O médico Luiz Fernando Pereira de Noronha, intensivista do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, chegou a ficar 40 dias afastado das filhas, esposa, mãe e irmão
O m�dico Luiz Fernando Pereira de Noronha, intensivista do Hospital Metropolitano Dr. C�lio de Castro, chegou a ficar 40 dias afastado das filhas, esposa, m�e e irm�o
 
Epis�dios de grosseria e falta de paci�ncia j� foram presenciados pela coordenadora da barreira sanit�ria, mas segundo a enfermeira, tamb�m existem pessoas que reconhecem o valor do profissional. “Um senhor fez quest�o de entrar na barreira para dizer o quanto somos importantes, o quanto tem orgulho de n�s e que estamos em suas ora��es todos os dias. S�o pessoas como esse senhor que nos d�o for�as e incentivo a continuar com nosso trabalho.”

SEM PRAZO 


Os cuidados referentes aos profissionais da �rea da sa�de devem ser constantes e, por isso, a ci�ncia do comportamento � melhor forma de impedir a propaga��o. No hospital onde Vanessa Soares trabalha, desde mar�o s�o feitas reuni�es peri�dicas para tratar do assunto.

Tamb�m h� uma equipe de educa��o continuada e de seguran�a do trabalho que est� disponibilizado m�scaras de filtro triplo para todos os visitantes de pacientes internados, e os hor�rios de visitas foram reduzidos.

No hospital p�blico onde a coordenadora neonat�loga Aguida Almeida trabalha, as medidas de precau��o tamb�m est�o mantidas, sem prazo para terminar. “Todos os colaboradores do hospital, independentemente do local de trabalho, foram treinados e capacitados sobre a COVID-19. Alguns trabalhadores, como gestantes ou outros de grupos de riscos, foram afastados ou designados para trabalho remoto.”
 
 
Equipe que trabalha na UTI com o médico intensivista Lucas Timm (é o quarto na foto a partir da esquerda) na Santa Casa
Equipe que trabalha na UTI com o m�dico intensivista Lucas Timm (� o quarto na foto a partir da esquerda) na Santa Casa
 
De acordo com a diretora de assist�ncia em sa�de da Prefeitura de Belo Horizonte, respons�vel pelas barreiras sanit�rias, Renata Mascarenhas, est�o sendo testados todos os profissionais da enfermagem com sintomas respirat�rios e os demais que est�o na linha de frente. Tamb�m est� em andamento o apoio psicol�gico aos profissionais, por telemonitoramento.


EQUIPE 


Um time completo de profissionais do maior hospital 100% SUS de Belo Horizonte, a Santa Casa de Miseric�rdia, tem sido a maior companhia do m�dico intensivista Lucas Timm Pisoler. Em uma UTI est�o na linha de frente, todos os dias da semana, quatro m�dicos, tr�s enfermeiras, tr�s fisioterapeutas, um nutricionista, quatro t�cnicos de enfermagem, um t�cnico de radiologia e uma psic�loga.

No p�s-plant�o, o desgaste f�sico e emocional d� sinais de que � hora de descansar, mas, segundo o m�dico, desligar-se do trabalho n�o � t�o f�cil assim. “O corpo denuncia o cansa�o f�sico com dores e necessidade de um bom per�odo de sono, mas a preocupa��o com o andamento da pandemia tamb�m tem sido o maior motivo de ins�nia”, diz.

A exist�ncia do medo � compartilhada com a esposa como forma de desabafo. “Ela tamb�m � m�dica e a nossa preocupa��o � de que o n�mero de casos de COVID-19 e outros doen�as que j� existem continuem ocorrendo e crescendo, chegando ao ponto de a capacidade do sistema de sa�de n�o aguentar atender a todos e pessoas morrerem sem a oportunidade de assist�ncia adequada.”

Segundo Lucas, todos os que trabalham em UTIs passam por um aumento muito grande da carga de trabalho e novas fun��es. “Vejo que todos fazem com amor e preocupados em oferecer o melhor cuidado aos pacientes. Tamb�m tivemos novos colegas m�dicos e da equipe multidisciplinar com menos experi�ncia entrando na equipe e isso tem exigido dos mais experientes aten��o e cuidados com treinamento e orienta��o”.
 
 
Técnica de enfermagem Vanessa Soares, de 37 anos, voltou das férias e se deparou com um cenário ainda pior
T�cnica de enfermagem Vanessa Soares, de 37 anos, voltou das f�rias e se deparou com um cen�rio ainda pior
 
O desafio de n�o contaminar um familiar � outro enfrentado por toda a equipe que trabalha nos centros de terapia intensiva, dedicados aos pacientes com suspeita ou confirma��o de COVID-19. Esse �, inclusive, o principal fator de estresse na vida do m�dico Luiz Fernando Pereira de Noronha, intensivista do Hospital Metropolitano Dr. C�lio de Castro. Ele j� chegou a ficar 40 dias afastado das filhas, da esposa, m�e e irm�o.

A necessidade de que toda a sociedade tenha mais aten��o com os profissionais de sa�de � vista diariamente por Luiz Fernando. “Por parte da popula��o, o isolamento social, os cuidados com a higiene das m�os e o uso das m�scaras s�o fundamentais no combate ao novo coronav�rus e possibilita aos �rg�os competentes prepararem estruturas para receber os pacientes gravemente enfermos”, recomenda.


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