(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PENSAR

Primeira leitura: os poemas do novo livro de Bruna Beber

"Veludo rouco" � o sexto livro de poesias da escritora nascida em Duque de Caxias (RJ) e radicada em S�o Paulo


23/09/2023 04:00 - atualizado 23/09/2023 05:55
671

Bruna beber
Bruna Beber: novo livro de poemas (foto: Renato Parada)


Bruna Beber


Angular

O que os meus mortos n�o sabem e nunca v�o ouvir falar 
� que ainda estou de p� e sorrindo em uma cena perdida
no passado de suas vidas; cores-sombras, vivos, sorrindo
dentro da minha vida. De manh�, ao derramar o caf�
fora da x�cara, ainda sou crian�a e ou�o o tlectlectlec
da m�quina de escrever da minha tia. Vov� cruzou
a copa pela porta da cozinha, com pressa, sozinha
sobre a f�ria de quem vai socorrer a carne assada

A porta do quarto bate, eu salto, um quadro
cai da parede na escrivaninha, a geladeira
esguicha. Ondas. Calor e energia. N�o sabem
n�o querem, n�o pedem, mas deslizam e eu
rastejo na eletricidade — um sopro, um eco
um tra�o, um tique — das palavras, da estada
permanente das palavras que disseram um dia

Ainda n�o terminei o caf�, tampouco sinto saudade
pois sei que assim que me levantar desta mesa
vou reviver o mundo em altura e gra�a
sentada na cacunda do meu tio.

Chuvisco

Na tarde que me despedi de seus ossos
fiz promessa aos urubus no horizonte
dos meus trinta e tr�s anos

No final disse a eles: andorinhas,
por favor, ora cotovias, massageiem
o passado desses trinta e quatro anos

S� agora aos trinta e cinco � que come�o
a dar adeus � sua voz; long�nqua caminha
para a mudez, mas h� pouco vibrava

ao falar sobre a loja de guarda-chuvas
que visit�vamos todo m�s s� para entoar
nosso bord�o — sombrinha pra sobrinha!

Anos e anos depois continuo descendo
a rampa do cemit�rio, e j� naquela tarde
pressinto que nunca chegar� ao fim


Mas hoje aos trinta e sete tento balizar
a l�grima e os dias e, olhando o retrato
daquele s�bado em Juiz de Fora, sorri.

Milagre dos peixes

Toda montanha � uma onda parada.
Do jardim avisto a flor que cresce
resistiva no beiral do telhado

Toda culpa � circunst�ncia.
Do pombal assisto � gota de chuva
submergir no desn�vel da estrada

Habitar o trilho � habitar o p�ssaro.
Tanta pedra mo�da! Mas � no rasante
da sanfona que o p�ssaro rastreia

Mando um recado pelo ar
da manh�zinha: maquinista
n�o sai do lugar, � o destino
de costas que orienta seus dias.

Casar�es


O cora��o � o povoado da mem�ria;
      aparentado com o f�gado � o sentimento
                  a indigna��o ocupa o est�mago
        mas o desejo faz do pulm�o um pomar

A cabe�a � inquilina
          ou propriet�ria do corpo,
                                        e quem morre primeiro?

�gua suja

Ano que vem
fantasia de carne
de sol temperada
com �dio.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)