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Estado de Minas

Crise nos Transportes evidencia descaso com a rodovia da morte

BR-381 � o cen�rio de uma rotina cruel vivida por motoristas e moradores das margens da rodovia, que teve suas obras suspensas depois do esc�ndalo no Minist�rio dos Transportes


postado em 20/07/2011 06:00 / atualizado em 20/07/2011 07:59

Pelo menos duas vezes por dia, Marli Cerilo e os dois filhos enfrentam o perigoso trânsito para alcançar o outro lado da Rodovia da Morte (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Pelo menos duas vezes por dia, Marli Cerilo e os dois filhos enfrentam o perigoso tr�nsito para alcan�ar o outro lado da Rodovia da Morte (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Se tivesse uma estrada em boas condi��es, Jos� Augusto n�o gastaria 12 horas a mais para fazer o trajeto entre Vit�ria, no Esp�rito Santo, e Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro. Se tivesse uma estrada decente, Rosimeire n�o teria se atrasado nessa ter�a-feira para o culto na igreja. Se tivesse uma estrada segura, Marli n�o teria que arriscar a vida, e tamb�m a de seus dois filhos, atravessando uma das vias mais movimentadas e tr�gicas do pa�s. Jos� Augusto, Rosimeire e Marli n�o t�m uma estrada em que possam confiar. Todos dependem da BR-381 para tocar suas vidas, e s�o as v�timas, muitas vezes invis�veis – j� que, por sorte ou destreza, seguem vivas –, da hist�rica falta de investimentos do Minist�rio dos Transportes, agravada pela crise por suspeitas de desvios de verbas que provocou a demiss�o da c�pula da pasta.

Depois de deixar Vit�ria durante a madrugada, o caminhoneiro Jos� Augusto Martins, de 24 anos, parou por volta do meio-dia no posto da Pol�cia Rodovi�ria Federal em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Seu ve�culo, somado � carga de adubo que transportava, pesava 57 toneladas, 12 a mais que a capacidade da ponte provis�ria constru�da pelo Ex�rcito sobre o Rio das Velhas, na divisa de Belo Horizonte e Sabar�, para substituir a que ruiu um dia antes do in�cio do feriad�o da semana santa por falta de manuten��o.

Ali, Jos� Augusto ficou por cerca de uma hora, tempo gasto para desengatar uma das duas ca�ambas de seu cavalo mec�nico. Em seguida, dirigiu at� o outro lado da ponte enquanto um colega, em outro caminh�o enviado pela empresa, atravessava com o restante da carga. Encerrada a opera��o, nova parada na outra margem do rio, agora para retomar a carga e seguir viagem. O tempo gasto � o suficiente para rodar 60 quil�metros, conforme Jos� Augusto.

Em uma BR como a 381, estreita e cheia de curvas que lhe renderam o t�tulo de Rodovia da Morte, isso significa impossibilidade de ultrapassagem com seguran�a e, consequentemente, mais tempo nas estradas. “Paro em casa tr�s a quatro vezes por m�s, e fico no m�ximo dois dias”, conta Jos� Augusto, que mora em Ponta Grossa, no Paran�, � casado e tem um filho.

S� rezando

Rosimeire Paiva, moradora de Ravena, distrito de Sabar� a cerca de 30 quil�metros de Belo Horizonte, �s margens da BR 381, chegou nessa ter�a-feira �s 12h50 ao ponto de �nibus que leva � capital, onde frequenta uma igreja. O objetivo era tomar a condu��o que, pelo quadro de hor�rios da empresa administradora da linha, passaria �s 12h55. O ve�culo passou somente 1 hora e 17 minutos depois do tempo previsto. Rosimeire embarcou, mas j� sem esperan�as de participar do culto, �s 15h.

“Se fosse uma rodovia duplicada, o tempo para chegar a Belo Horizonte seria muito menor”, diz Rosimeire. Ela faz o trajeto duas vezes por semana, e, para conseguir circular mais rapidamente pela 381, s� colocando o Minist�rio dos Transportes nas ora��es.

Do ponto em que Rosimeire aguardava o �nibus, �s margens da BR-381, foi poss�vel notar a forma pela qual outra moradora de Ravena, Marli Pedro Cerilo, � obrigada a conviver com a rodovia. Sem passarela por perto, a mulher, com a filha e o filho, de 12 e 5 anos, respectivamente, avan�a rapidamente sobre uma das pistas. Atravessa e percorre cerca de 100 metros ao lado de um guard-rail, ao centro da via. Corta a outra pista e segue em caminhada �s margens da estrada, j� do outro lado, sem qualquer prote��o, at� a entrada do Bairro Acampamento Batista, onde vive. “Fa�o isso at� duas vezes por dia”, conta Marli.

Nessa ter�a-feira, ela fez todo o percurso, de cerca de tr�s quil�metros, para buscar os filhos, que est�o em f�rias, na casa da av�. Marli, assim como Rosimeire e o caminhoneiro Jos� Augusto, t�m as vidas entrela�adas com a estrada. A expectativa � de que, independentemente do que for feito em Bras�lia, as medidas deem qualidade a essa coexist�ncia.


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