A presidente Dilma Rousseff, irritada com os militares da reserva pelas cr�ticas pol�micas publicadas em nota contra o governo, acionou o ministro da Defesa, Celso Amorim, para que enquadrasse o grupo. Em plena quarta-feira de cinzas, Amorim convocou uma reuni�o com os comandantes do Ex�rcito, da Marinha e da Aeron�utica, mais o chefe do Estado Maior Conjunto das For�as Armadas, general Jos� Carlos de Nardi, e expressou sua contrariedade com o manifesto do Clube dos Militares, divulgado na semana passada.
A forte rea��o da presidente Dilma, materializada no pux�o de orelha que Amorim deu nos oficiais, surtiu efeitos r�pidos. Nessa quinta, o site do Clube Militar publicou nota em que os presidentes da entidade “desautorizam” o texto anterior, que havia sido assinado por eles pr�prios.
Na nota, os presidentes dos clubes Naval, Militar e de Aeron�utica, todos oficiais da reserva, afirmam que a “preocupa��o” da presidente Dilma “em governar para uma parcela da popula��o sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros”. O texto cita as declara��es da ministra de Direitos Humanos, Maria do Ros�rio, ao Correio, em que ela afirma a possibilidade de condena��es criminais contra torturadores a partir de informa��es coletadas pela Comiss�o da Verdade. Os militares atacam a presidente por n�o ter vindo a p�blico “contradizer a subordinada”.
No entanto, o remendo foi considerado “lac�nico” e, portanto, insuficiente. Horas mais tarde, ap�s o Correio procurar porta-vozes do Clube Militar em busca de justificativa para o recuo, ambas as notas tinham sido retiradas do ar. Para pessoas pr�ximas ao ministro da Defesa, a suspens�o de qualquer men��o ao tema no site teria deixado o chefe da pasta satisfeito.
Puni��o
Ontem, interlocutores palacianos afirmaram ao Correio que a presidente Dilma Rousseff ficou “extremamente contrariada” com a nota dos militares e telefonou para o ministro Celso Amorim para que tomasse provid�ncias. Na conversa, eles comentaram a “insubordina��o” dos militares da reserva. O estorvo alcan�ou propor��es t�o grandes que, no governo, chegou-se a buscar a possibilidade de puni��o para os oficiais da reserva na legisla��o.
Ao final, ficou acertado que o Pal�cio do Planalto n�o se manifestaria oficialmente sobre o assunto e que a iniciativa de repreender os comandantes seria creditada ao ministro. A autonomia de Amorim em tomar esse tipo de atitude decorre de uma altera��o na lei que rege a organiza��o das For�as Armadas, de 2010. Desde ent�o, o ministro da Defesa passou a exercer, legalmente, a dire��o superior das For�as Armadas. Como resultado da mudan�a, Celso Amorim n�o precisaria pedir permiss�o � presidente Dilma para atuar em situa��es de crise. Mas interlocutores da presidente asseguram que a iniciativa partiu dela: “O Celso Amorim fez isso a mando dela. Essa rea��o tem tudo a ver com o jeito Dilma de agir”, declarou uma fonte palaciana.
A estrat�gia seria uma forma de evitar mais atritos com as For�as Armadas, especialmente pela proximidade da instala��o da Comiss�o da Verdade, que ir� investigar, por um per�odo de dois anos, viola��es dos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar. A aprova��o do projeto ganhou forte resist�ncia de setores militares, que acusam a iniciativa de “revanchista”. Dilma Rousseff est� analisando os nomes que ir�o compor a comiss�o, que deve come�ar os trabalhos de apura��o em menos de tr�s meses.
A avalia��o dos pr�prios comandantes das For�as Armadas tamb�m � de que os oficiais do Clube Militar, apesar de n�o representarem os da ativa, exageraram. Pesou tamb�m, para a decis�o de recuar, a possibilidade de embates com o governo prejudicarem a negocia��o de reajustes salariais da categoria.
Porta-voz
O Clube Militar � uma institui��o centen�ria, com sede no Rio de Janeiro, que congrega oficiais da ativa, da reserva remunerada ou reformados, com o intuito de estreitar os la�os entre os integrantes das For�as Armadas. A entidade tem atua��o em todo o pa�s e s�o os oficiais da reserva que presidem os clubes. Essas associa��es costumam ser porta-vozes de manifesta��es pol�ticas da categoria, j� que os oficiais da ativa s�o proibidos de emitir declara��es com teor pol�tico. Com extensa representatividade at� o regime militar, ap�s a democratiza��o os clubes militares come�aram a ter uma atua��o esvaziada.