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Estado de Minas

Corrup��o avan�a sobre os cofres dos pequenos munic�pios

Investiga��es da CGU mostram que fraudes e desvios de recursos em prefeituras de cidades do interior s�o t�o nocivas � popula��o quanto os grandes malfeitos de repercuss�o nacional


postado em 29/04/2012 06:50 / atualizado em 29/04/2012 06:56

Creche municipal inacabada em Ouro Fino: obra que até ganhou placa tinha previsão para término em 2009, mas continua sem janelas e portas, além de sofrer depredação(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Creche municipal inacabada em Ouro Fino: obra que at� ganhou placa tinha previs�o para t�rmino em 2009, mas continua sem janelas e portas, al�m de sofrer depreda��o (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Ouro Fino – A corrup��o mi�da, que n�o desvia milh�es, mas leva propinas em pequenos contratos, � t�o nociva quanto os grandes esquemas, alvos de investiga��o nacional e de grande repercuss�o. Programa de fiscaliza��o da Controladoria-Geral da Uni�o (CGU) j� investigou 1.941 munic�pios do pa�s, com at� 500 mil habitantes, e constatou falhas graves em 20% das cidades, sendo que nos 80% restantes s�o encontradas falhas m�dias. O Estado de Minas visitou quatro pequenas cidades nas regi�es Sul e Norte do estado e detalha como os desvios de recursos e atos malfeitos dos administradores lesam a popula��o, que deixa de ter necessidades b�sicas atendidas, seja uma creche n�o constru�da at� um banheiro mal-acabado e repleto de defeitos.

Em Ouro Fino, no Sul de Minas, cidade de 31 mil habitantes, um esquema de corrup��o foi desmanchado este m�s pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG). Nove funcion�rios da prefeitura foram presos e cinco permanecem na cadeia. O efeito dos desvios pode ser percebido na constru��o inacabada da creche do Programa Pr�-Inf�ncia, no Bairro Jardim Patr�cia. Com previs�o de t�rmino para 2009, a constru��o tem paredes erguidas, telhado e parte do acabamento, mas permanece sem janelas, portas e a cada dia que passa a depreda��o aumenta.

Em vez de crian�as recebendo educa��o no hor�rio em que os pais est�o trabalhando, a creche � local de estrume de vaca e muros pichados. “Conto com a minha cunhada para levar o Davi � creche do outro lado da cidade. N�o d� para ir a p�”, reclama o pai do menino de 4 anos, Alexandre Marcelino da Silva, que trabalha na empresa de chicotes el�tricos vizinha da creche inacabada. Quem tamb�m passa aperto para deixar o filho na creche � Ana Cl�udia Alves, m�e de Kau� Alves da Silva. “Saio do trabalho �s 17h e tenho que ir correndo para dar tempo de buscar o Kau�. Fico triste porque a creche � feita com dinheiro da gente”, lamenta Ana Cl�udia.

Os motivos que levam � creche inacabada s�o complexos e objeto de investiga��o detalhada, comandada pelo promotor de Ouro Fino, M�rio Corr�a da Silva Filho. Ele descobriu um esquema de cobran�a de propina comandado pela servidora Simone Beltrami de Souza, funcion�ria da �rea de licita��es. “Como o recurso da creche � de um conv�nio federal, o pagamento � feito em etapas. Uma medi��o grande foi antecipada e a obra foi dada como conclu�da, sem ter sido acabada”, explica o promotor.

Simone est� presa. Procurada pela reportagem na cadeia de Ouro Fino, a acusada n�o quis conceder entrevista. Foram encontrados R$ 600 mil na conta do filho adolescente da ex-servidora. “Toda vez que sa�a um pagamento a Simone recebia propina”, afirma o promotor. Tamb�m foram encontrados nas contas de Simone v�rios dep�sitos em cheques de empresas com contrato com a prefeitura. Al�m disso, o prefeito Luiz Carlos Maciel (DEM) est� afastado. Maciel afirma que faz o poss�vel para esclarecer os malfeitos na sua administra��o e que colocou � disposi��o da Justi�a o seu sigilo banc�rio, fiscal e telef�nico.

Para piorar a situa��o em Ouro Fino, o vice-prefeito Deocl�cio Consentino (DEM) tamb�m est� cassado e preso, em regime semi aberto. O motivo � o uso de notas fiscais superfaturadas quando era vereador na legislatura passada. “Os vereadores iam para a posse de um deputado em Belo Horizonte, que era de um dia, e traziam notas fiscais para a semana inteira. Em local que se lanchava por R$ 3 eles traziam notas de R$ 50”, lembra o promotor.

A C�mara Municipal abriu uma comiss�o processante contra o prefeito afastado, mas n�o consegue encontr�-lo para ser notificado. A reportagem tamb�m foi at� a casa de Maciel, deixou recado com sua mulher, mas n�o obteve retorno para uma entrevista. No comando da cidade est� o presidente da C�mara, Lauro Tandeli (PSDB). “N�o gostei da experi�ncia e n�o me sinto � vontade no cargo”, afirma Tandeli. O or�amento previsto da cidade para este ano � de R$ 44 milh�es, mas o prefeito tamb�m n�o sabe precisar o tamanho do rombo.

Lauro Tandeli promete tentar resolver o problema da Ponte do Mercado, destru�da por uma enchente no fim de 2010. “J� veio uma verba, mas a reforma n�o foi liberada, pois o projeto previa vigas fora da especifica��o”, explica. J� em rela��o � creche, ele diz que n�o pode fazer mais nada, pois o dinheiro previsto j� foi gasto.

Fiscaliza��o

Mesmo quando as falhas n�o s�o t�o latentes, elas prejudicam a popula��o. Uma das cidades mineiras sorteadas para receber a fiscaliza��o da CGU foi Minduri, de 3,8 mil habitantes, tamb�m no Sul de Minas, onde foram encontrados diversos problemas. O principal diz respeito � constru��o de uma creche do programa Pr�-Inf�ncia. A obra deveria ser entregue em novembro de 2009, mas ainda n�o est� pronta. A inspe��o do CGU encontrou uma s�rie de falhas, como destelhamento, uso de material de baixa qualidade, excesso de argamassa, falta de reboco e outros pormenores.

A prefeitura se explicou � CGU e disse que iria reparar os danos, mas n�o convenceu. “Em que pese a apresenta��o de fotos, como forma de dar suporte a cada um dos itens justificados acima, a efetividade das a��es implementadas pela administra��o municipal somente poder� ser ratificada mediante nova inspe��o in loco; destacando que as falhas apontadas, se examinadas em conjunto, podem vir a comprometer a qualidade do empreendimento como um todo”, afirma o �rg�o federal de controle.

Enquanto isso, os moradores de Minduri seguem como os mais prejudicados. Lu�za Helena Justina teve que deixar o emprego de dom�stica para tomar conta da filha, Francileia Justina, de 1 ano e 3 meses. “Meu marido trabalha em S�o Jo�o del-Rei e fica 10 dias l� e quatro aqui. Para poder trabalhar teria que coloc�-la na creche”, afirma Luiza. A reportagem procurou o prefeito Edmar Geraldo da Silva na sede do Executivo municipal, mas ele n�o concedeu entrevista.

De acordo com a CGU, os problemas graves constados s�o obras inacabadas ou paralisadas, apesar de pagas; uso de notas fiscais frias e documentos falsos; simula��o de licita��es ou irregularidades no processo de licita��o, incluindo a participa��o de empresas fantasmas; superfaturamento de pre�os, falta de merenda escolar e de medicamentos; gastos sem licita��o; n�o comprova��o da aplica��o de recursos; favorecimento de empresas, entre outros.


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