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Estado de Minas

Lembran�a do sofrimento no c�rcere emociona presidente Dilma

Relato de integrantes da comiss�o mineira que ouviram o depoimento da ex-militante em 2001 ilustra a emo��o que tomou conta da presidente ao relembrar o sofrimento vivido no c�rcere


postado em 24/06/2012 07:16

Para ter direito � indeniza��o �s v�timas de tortura oferecida pelo Conselho de Defesa de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), n�o bastava ter sido perseguido pol�tico durante o regime militar. Era necess�rio denunciar a tortura sofrida em territ�rio mineiro, revelando as t�cnicas usadas pelos algozes, pormenores do ambiente das celas e, se poss�vel, a identidade dos torturadores. “A pessoa precisava dizer como foi torturada. � por isso que o depoimento da Dilma conta a viol�ncia que ela sofreu em Minas”, pontua Caroline Bastos Dantas, que tinha 25 anos em 25 de outubro de 2001. Ela havia sido contratada como secret�ria-executiva da comiss�o mineira, encarregada de digitar os depoimentos pessoais. Trechos do testemunho de Dilma abriram a s�rie de reportagens que o Estado de Minas publica desde domingo passado sobre a tortura a que a presidente foi submetida nos por�es da ditadura em Juiz de Fora.

Caroline n�o sabia que estava sendo testemunha ocular de um momento hist�rico, quando a ent�o secret�ria das Minas e Energia do Rio Grande do Sul e futura presidente, conhecida por sua postura firme e decidida, deixou a emo��o aflorar e chorou. Dilma j� havia se emocionado em outros momentos da conversa, quando revelou ter sido colocada no pau de arara, levado choque el�trico e um soco no maxilar que fez o dente se deslocar e apodrecer. Mas desabou ao falar sobre o tratamento feito para conter a hemorragia no �tero. “N�o sei se foi pelo fato de ser mulher, mas nessa passagem ela n�o conseguiu se segurar”, diz o fil�sofo Robson S�vio, ent�o com 31 anos e presidente da Comiss�o Especial de Indeniza��o �s V�timas de Tortura de Minas Gerais (Ceivit-MG).

Diante do rigor nos trabalhos da comiss�o mineira, a arredia Dilma Rousseff n�o teve sa�da. Contou, pela primeira vez, ter sido torturada nos c�rceres de Minas, e n�o s� em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava antes. E mais. Depois de tirar o n� preso na garganta por 30 anos (ela havia sido torturada em Juiz de Fora, em 1971), Dilma emocionou-se ao revelar ter sofrido uma hemorragia de �tero, de tanto apanhar. “Na primeira vez, foi na Oban (Opera��o Bandeirantes). Me deram uma inje��o e disseram para n�o me bater naquele dia”, descreveu aquela que, nove anos mais tarde, seria a primeira mulher eleita presidente do Brasil.

Dilma contou tamb�m ter feito tratamento para conter a hemorragia no Hospital das Cl�nicas. “Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram algu�m que me deu comprimido e depois inje��o. Mas me davam choque el�trico e depois paravam. Acho que tem registros disso no fim da minha pris�o, pois fiz um tratamento no Hospital das Cl�nicas” , revelou a ex-militante pol�tica de codinome Estela, que, apesar do medo de se tornar inf�rtil, n�o teria problemas para engravidar. A presidente � m�e de Paula, 36 anos, �nica filha com o companheiro de milit�ncia Carlos Franklin Paix�o de Ara�jo. Em setembro de 2010, tornou-se av� de Gabriel, que nasceu durante a campanha presidencial. O Hospital das Cl�nicas confirma a exist�ncia dos arquivos, mas informa que o acesso a eles � permitido apenas com autoriza��o da paciente.

Caroline ajudou a tomar o depoimento de Dilma em Porto Alegre, que foi prestado na sala da Secretaria de Estado de Justi�a do governo ga�cho. O testemunho durou em torno de 40 minutos e n�o foi gravado em �udio nem em v�deo, para n�o intimidar a v�tima e impedir que o material tivesse um uso inadequado no futuro. Durante a madrugada, no computador emprestado do hotel, Caroline repassou o que havia digitado. Sem laptops (caros demais h� 11 anos), o depoimento de Dilma foi transferido em antigos disquetes quadrados, depois reutilizados.

Sagitariana convicta, Dilma sempre evitou expor o lado pessoal. Soube separar o privado do p�blico, � frente de movimentos sociais e cargos de governo. Com isso, evitou reviver a tortura, mesmo antes de chegar � Presid�ncia da Rep�blica e de se empenhar pessoalmente pela instala��o da Comiss�o Nacional da Verdade, em maio. N�o consta o depoimento dela no livro Brasil: tortura nunca mais, volumoso estudo sobre a repress�o exercida pelo regime militar.

Novamente, Dilma sairia ilesa no livro Mulheres que foram � luta armada, de Luiz Maklouf, de 1998. O rep�rter s� conseguiria que ela lhe desse declara��es sobre a tortura em 2003, ao ser convidada para ocupar um minist�rio no governo Lula. Num dos trechos de maior destaque Dilma fala sobre sangramentos de �tero: “Hemorragia mesmo, que nem menstrua��o. Eles tiveram que me levar para o Hospital Central do Ex�rcito. Encontrei uma menina da ALN (A��o Libertadora Nacional). Ela disse: ‘Pula um pouco no quarto para a hemorragia n�o parar e voc� n�o ter de voltar’”.

Revela��es

Mas n�o s� Dilma se abalou no depoimento � comiss�o mineira quando toca no assunto. Os jovens contratados para ouvi-la tamb�m se renderam � emo��o. Outras cinco v�timas de tortura pol�tica de Minas, que haviam se refugiado em Porto Alegre para escapar da ditadura, foram ouvidas. “Praticamente obrig�vamos a pessoa a revelar, no intervalo de meia hora, uma hora, momentos da vida que ela tinha levado 30, 40 anos tentando esquecer. N�o era f�cil”, lembra a ex-secret�ria-executiva da comiss�o, Caroline, que s� concordou em participar da reportagem depois de muita insist�ncia. “Eu tinha 25 anos e estava muitas vezes diante de um homem de 70 anos que, em determinado momento, pedia ao filho que o acompanhava para sair da sala. Ele ent�o contava ter sofrido viol�ncia sexual durante sua juventude pol�tica. N�o se tratava de relembrar um passado heroico de milit�ncia, mas uma fase ruim”, conta a hoje advogada e professora em duas faculdades de direito.


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