
Um pouco da hist�ria dos bastidores dos anos dourados se perde com a morte de Nympha Carneiro Magalh�es Rigotto, que entre 1951 e 1955 e entre 1956 at� o fim de 1960 era a secret�ria respons�vel por atender as bases pol�ticas do ent�o governador de Minas e, depois, presidente da Rep�blica, Juscelino Kubitschek. Formalmente, Nympha trabalhava com Carlos Murilo Fel�cio dos Santos, primo-irm�o de JK. Como vice-l�der do governo na Assembleia Legislativa e, depois, na C�mara dos Deputados, Carlos Murilo mantinha gabinete nos pal�cios da Liberdade, do Catete e, com a transfer�ncia da capital para Bras�lia, em 21 de abril de 1960, do Planalto. “Nympha trabalhava comigo, mantendo o contato pol�tico com as bases, listando e encaminhando os pedidos de prefeitos e deputados. Precisava de uma ponte, um posto de sa�de, o atendimento desses pedidos era feito nesses gabinetes”, conta Carlos Murilo.
No fim de 1960, quando Nympha tinha 34 anos, em uma de suas viagens de carro de Bras�lia a Belo Horizonte, ela, que dirigia o seu Fusca ao lado da irm� Neusa, sofreu um grave acidente. O carro capotou v�rias vezes. Nympha fraturou a perna. “Ela estava de repouso, em seu apartamento, na Rua Alagoas, com muletas, se recuperando. Numa manh�, uma voz conhecida a chamou da rua. Espiou pela janela. Era JK, que chegara de Bras�lia e de dentro do carro, queria saber como ela estava”, conta Delenir Maria Alves, de 50 anos, amiga que ouviu muitas das hist�rias de Nympha. “Ele subiu at� o apartamento dela, cumprimentou-a, ficou uns minutos e depois foi embora. Nympha adorava JK, sempre bem-humorado e muito atencioso com todos que trabalhavam com ele”, conta Delenir.
Entre os casos desfiados por Nympha para Delenir est� o dia em que, j� presidente da Rep�blica, Juscelino pediu a ela que dan�asse com o jornalista e empres�rio Assis Chateaubriand – um dos homens p�blicos mais influentes do Brasil nas d�cadas de 1940 e 1960 – em um baile que o governo promovia no Pal�cio do Itamaraty. “Nympha, dan�a com ele”, disse-lhe JK. A secret�ria tentou resistir, mas o presidente a puxou pelo bra�o e a apresentou a Chat�. Dan�aram. Mas, se houve qualquer conversa entre os dois, Delenir nunca soube.
NO PODER Nympha conheceu o ent�o vice-presidente Jo�o Goulart, o Jango; Leonel Brizola, cunhado de Jango e, na �poca, governador do Rio Grande do Sul; Tancredo Neves, deputado federal e um dos articuladores da candidatura de Juscelino � Presid�ncia, entre outros correligion�rios de JK que frequentemente cruzavam os corredores dos pal�cios. Tamb�m esteve frente a frente com Carlos Lacerda, o incans�vel udenista, que n�o deu tr�gua a Juscelino em seu governo. Entre os “guardados” de Nympha, est� um discurso manuscrito pelo presidente, um ano e meio depois de empossado, resposta em cadeia de r�dio e televis�o ao opositor implac�vel Lacerda. Depois de ter pregado o “golpe em nome da democracia” para impedir a posse de JK, Lacerda atacava, da C�mara dos Deputados, no Rio, a pol�tica econ�mica e a constru��o de Bras�lia.
JK anota, ao fim do seu discurso, pedido para envi�-lo a Jos� Maria Alkmin, seu ministro da Fazenda, entre fevereiro de 1956 e junho de 1958. No texto, JK trata dos esfor�os para a industrializa��o do pa�s, da crise econ�mica e da infla��o, “que devora a na��o desde 1940”, gerando insatisfa��o e um alto custo de vida. Sem citar Lacerda uma �nica vez, a fala oposicionista � considerada uma “ladainha” irrespons�vel, que n�o esclarece, mas confunde. “Vou passar em revista, sucinta, � verdade, o que foi a luta travada em 18 meses pelo presidente da Rep�blica, seus ministros, diretores de departamentos, assessores, em suma, pelo seu estado maior administrativo. Sei que o povo acompanha essas atividades e, j� esclarecido, prefere essas not�cias � insuport�vel ladainha de questi�nculas pol�ticas que certos setores da publicidade emaranham na opini�o p�blica do Brasil. J� estamos adquirindo maioridade. N�o somos mais uma fam�lia s� de crian�as, onde os mais desastrados p�em a casa em polvorosa. Temos de raciocinar a frio. Cada um compenetrar-se de suas responsabilidades e ajudar o pa�s a sair de suas dificuldades”, sustenta o discurso.
JK conclui: “A demagogia destruidora amesquinha a na��o, avilta o seu panorama pol�tico-social e reduz as perspectivas desta mesma na��o. Fa�amos uma pausa na indisciplina, no �dio e na irresponsabilidade. E como a figura mitol�gica de H�rcules, carregando sobre os ombros o peso do mundo, unamos as nossas for�as, um corpo s�, e carreguemos o Brasil para as longas avenidas do seu futuro”.
Escrita perfeita
Depois do acidente de carro na estrada Bras�lia-Belo Horizonte, antes de JK terminar o mandato de presidente, Nympha Rigotto n�o voltou a trabalhar na nova capital do pa�s. Ela, que pela primeira vez foi convocada por Juscelino logo ap�s a sua elei��o ao governo de Minas, em 1950, a princ�pio pela grafia perfeita com que encaminhou a todos os destinat�rios o convite da posse, assumiria o cargo de auditora da Fazenda Federal, cargo em que se aposentou d�cadas mais tarde.
