Daniel Camargos

A �poca do voto de cabresto – quando coron�is manipulavam o jogo pol�tico – deixou marcas fortes na hist�ria brasileira. Com a consolida��o da democracia, os abusos fazem parte do passado, mas o poder dos prefeitos, principalmente aqueles eleitos com uma vota��o que supera 80% dos votos v�lidos, permanece fundamental. Com a antecipa��o da campanha de 2014 eles se tornam pe�as-chave na disputa. Em Minas Gerais, segundo maior col�gio do pa�s com 14 milh�es de eleitores, divididos em 853 munic�pios, candidato que conta com apoio de um prefeito bom de voto d� um passo importante para se tornar majorit�rio na cidade.
Em S�o Jos� do Divino, no Vale do Rio Doce, o prefeito Marcos Rog�rio da Silva (PMDB), teve 83,64% dos votos e sabe do potencial que tem como cabo eleitoral, mesmo governando uma cidade pequena, de 3,8 mil habitantes. “Percebo que j� acontecem alguns namoros por parte do governo estadual e federal”, aponta Dr. Marcos, como � conhecido, por ser m�dico. Ele, no entanto, n�o deixa de se queixar. “Somos a �nica cidade da regi�o que n�o recebeu maquin�rio do governo federal”, reclama.
De uma maneira geral, independentemente se s�o campe�es de voto, os prefeitos j� v�m sendo alvo de cortejos de candidatos neste ano pr�-eleitoral. A presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu boa parte dos prefeitos mineiros em janeiro. O governador Antonio Anastasia (PSDB), por sua vez, se re�ne com grupos de 20 a 30 prefeitos quase semanalmente. Dilma anunciou R$ 66,8 bilh�es de repasses �s prefeituras em todo o Brasil, para obras de saneamento, pavimenta��o e mobilidade. No m�s passado, quando visitou Belo Horizonte e Ribeir�o das Neves, entregou 50 retroescavadeiras, 58 motoniveladoras e 19 �nibus escolares a mais de 100 administradores municipais. J� Anastasia lan�ou programas de financiamento com valores entre R$ 350 mil e R$ 1,5 milh�o por prefeitura, totalizando R$ 2,1 bilh�es.
Em Parais�polis, no Sul de Minas, a prefeita Silvinha (PT) foi a campe� estadual em percentual de votos: 91,09%. Petista, com um vice-prefeito tucano, Juarez Jos� de Carvalho, ela n�o reclama: “Temos um acesso bom tanto ao governo federal quanto ao estadual”. Silvinha acredita que prefeitos como ela, que tiveram grande apoio popular em outubro, ter�o o poder de arrastar os votos dos eleitores para os candidatos que indicarem em 2014, mas observa que na sua cidade a situa��o pode ser um pouco diferente. Afinal, o vice � do partido advers�rio no plano estadual e nacional e tamb�m tem poder de fogo para convencer boa parte do eleitorado a votar nos candidatos tucanos.

Ali�s, como � praxe no interior do estado, os partidos pol�ticos n�o apresentam a mesma cor ideol�gica dos planos estadual e federal. � o caso do prefeito Jos� Carlos de Barros, o Kako (PSDB), escolhido por quase 80% dos eleitores de Iapu, no Vale do Rio Doce. “Vou ser sincero, pois sou do PSDB, mas n�o sou um sujeito partid�rio. Gosto muito da postura e da administra��o da presidente Dilma Rousseff”, admitiu Kako. O prefeito da pequena cidade, de 10.315 habitantes, avalia que o governo Dilma tem uma postura correta com os prefeitos que n�o s�o de sua base aliada. “Ela tem ajudado muito e n�o � t�o partid�ria como era o governo do ex-presidente Lula”, comparou ele.
GUINADA O prefeito de Te�filo Otoni, Get�lio Neiva (PMDB), tende a seguir tamb�m em dire��o oposta � do seu partido, principalmente se a candidatura do senador A�cio Neves (PSDB) para a Presid�ncia da Rep�blica se confirmar. “A quest�o presidencial independe do partido pol�tico. O Brasil precisa dar uma guinada”, acredita o prefeito, eleito com 86,16% dos votos na maior cidade do Vale do Mucuri, com 134 mil habitantes.
Na an�lise de Neiva, que exercia mandato na Assembleia Legislativa antes de assumir a prefeitura, a maior influ�ncia como cabo eleitoral nas cidades do interior s�o dos prefeitos e dos deputados estaduais. “O mais importante � fazer um novo pacto federativo. O governo federal est� fazendo uma linha direta com o povo, sem repasses �s prefeituras”, reclamou o prefeito.
No Sul de Minas, o prefeito de Santa Rita do Sapuca�, Jeffinho (PR), eleito com 86,84% dos votos, pondera que por mais influ�ncia que tenha a conclus�o � sempre do eleitorado. “O povo vota em quem trabalha. Tenho interesse de ajudar a cidade que governo e se o governo federal mandar verba eu divulgo quem mandou e fa�o o mesmo se o dinheiro for do governo estadual”, analisa Jeffinho, que pela quarta vez � prefeito da cidade, de 38 mil habitantes. A �ltima vez que governou (2001-2004) n�o concorreu � reelei��o, pois fez uma cirurgia no cora��o e passou um tempo se recuperando. Apesar de ter tido a maioria absoluta dos votos, ele acredita que o apoio � passado. “Vai depender do meu trabalho”, afirma.