Amanda Almeida

Bras�lia – O presidente da Comiss�o Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e da Comiss�o Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, defendeu nesse domingo a demiss�o do diretor

“Ainda que ele nada tenha a ver com os epis�dios, hoje sob investiga��o, de torturas e desaparecimentos ocorridos � �poca da ditadura, a sua suspei��o � evidente pelas fun��es que exerce atualmente”, disse Damous. Para ele, Belham tem acesso a informa��es privilegiadas sobre a �poca em que o pai atuava como dirigente do DOI-Codi do Rio, conhecido como um dos �rg�os de repress�o mais fortes da ditadura. “N�o temos que estigmatiz�-lo por ser filho do general, mas a posi��o que ele ocupa cria a suspei��o.”
O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, cujo corpo continua desaparecido at� hoje, questiona a posi��o de destaque do filho de Belham na estrutura da ag�ncia. “Causa-me desconforto e estranheza saber que ele � filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como, numa posi��o de destaque na Abin, ele vai facilitar a revela��o de informa��es secretas que comprometam o pai?”, justifica.
A Comiss�o Nacional da Verdade (CNV) tenta localizar o general da reserva Belham para ser ouvido sobre o que ocorreu em janeiro de 1971. A CNV diz que o general recebeu, quando chefiava o DOI-Codi do Rio, dois cadernos de anota��o que pertenciam a Rubens Paiva. Os documentos — encontrados no fim do ano passado pela Pol�cia Civil do Rio Grande do Sul, na casa do coronel da reserva Julio Miguel Molinas — derrubaram a vers�o do Ex�rcito de que o ex-deputado fugiu do DOI-Codi em 22 de janeiro. Os textos relatam a trajet�ria de Paiva nas depend�ncias do departamento, entre 20 e 25 de janeiro, mas n�o registram a morte do ex-deputado no per�odo.
A Abin guardava, em rela��o ao per�odo entre 1964 e 1990, mais de 132 metros lineares de documentos sobre o regime militar, o que soma cerca de 1 milh�o de p�ginas. Ainda h� 220 mil unidades de microfichas enviadas pela Abin para digitaliza��o no Rio. Os documentos foram encaminhados ao Arquivo Nacional, em Bras�lia. O EM tentou falar com o general da reserva Belham, mas uma mulher que atendeu o telefone dele disse que o militar est� viajando. O filho, Ronaldo Belham, foi procurado por meio da assessoria da Abin, mas n�o atendeu a reportagem.
“Escolha do governo”
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) destaca que a responsabilidade pelos atos dos ocupantes de cargos de confian�a no governo federal � da presidente Dilma Rousseff. “N�o cabe � oposi��o dizer quem o governo deve nomear, mas vamos aguardar para ver o resultado dos atos (de Ronaldo Belham) e das investiga��es da Comiss�o da Verdade. Depois disso, poderemos ver se o governo deu um tiro no p� ou acertou”, ponderou.
J� o deputado federal e ex-secret�rio nacional de Direitos Humanos Nilm�rio Miranda (PT-MG) disse que � “precipitado” pedir a demiss�o de Belham. “O fato de ser filho de um ex-general n�o significa que ele concorde com o que ocorreu durante a ditadura. Ele n�o controla acervos do per�odo e, por isso, n�o vejo com preocupa��o a perman�ncia dele no cargo. Os documentos da Abin foram encaminhados ao Arquivo Nacional e podem ser consultados”, avaliou. Para ele, n�o se deve tratar a quest�o com “revanchismo”. “Nossa luta n�o deve se dar com a rotula��o das pessoas, como se fazia na ditadura.”