
Uma p�gina obscura do per�odo da ditadura em Belo Horizonte ser� transformada para ter um futuro mais interessante para a popula��o de Belo Horizonte. Nesta quarta-feira, foi aprovado, pelo Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural de Belo Horizonte, o tombamento do pr�dio da sede do antigo Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, n�mero 2.351. Com a decis�o, o local ser� transformado em um centro de direitos humanos.
Na reuni�o desta tarde estiveram presentes parentes de torturados no local e uma das pessoas que foi torturada no edif�cio. No parecer da relatora, Juliana Gonzaga Jayme, o local deve ser preservado, principalmente, pelo seu valor de mem�ria contra os atos de viol�ncia cometidos no endere�o. “Preservar a mem�ria, ali�s, � uma forma eficaz de evitar a repeti��o daquilo que se repudia e, nesse caso, o que se evita � repetir sess�es de tortura f�sica e psicol�gica, que ocorreram diuturnamente no n�mero 2351 da Avenida Afonso Pena. Sess�es essas que n�s repudiamos e, por isso mesmo, n�o queremos esquecer e, tampouco silenciar sobre elas”, afirmou.
No dossi� usado como argumento para sustentar o pedido de tombamento do pr�dio foram apresentados in�meros relatos sobre as pr�ticas de tortura cometidas no pr�dio e como a estrutura f�sica do local foi adaptada para as pr�ticas violentas. (Confira o relato logo abaixo).
Em junho, o Minist�rio P�blico Federal e a Frente Independente pela Mem�ria, Verdade e Justi�a de Minas Gerais encaminharam pedido � Secretaria de Estado da Cultura e ao Conselho de Patrim�nio Hist�rico para que o im�vel seja tombado. Em dos depoimentos, um policial civil relata como os locais eram usados para torturas as pessoas consideradas suspeitas pelo regime militar.
Em maio, um monumento em homenagem aos mortos pela ditadura militar foi inaugurado no canteiro central da Afonso Pena, em frente ao antigo Dops. Segundo dados oficiais, 85 mineiros que lutavam contra o regime foram mortos entre 1964 e 1985. Na ocasi�o, o presidente da Comiss�o Nacional de Justi�a, Paulo Abr�o, manifestou seu desejo de que o antigo Dops vire um centro de mem�ria. Outra obra que pretende preservar a hist�ria dos que lutaram contra a ditadura, o antigo “coleginho” da Fafich, no Santo Ant�nio, est� sendo preparado para se tornar um Memorial da Anistia.
Com informa��es de Felipe Can�do
Confira o relato de como eram praticadas torturas no local retirados do dossi� do tombamento:
“Em um canto do estacionamento do DOPS, ou seja, estrategicamente localizado fora do edif�cio principal, existe uma pequena sala, ainda hoje conhecida pelo apelido de sauna. Nela observa-se uma marca��o no ch�o, feita em cimento, encobrindo a exist�ncia de uma antiga ‘piscina’ ou tanque azulejado, de raio pequeno, imposs�vel de ser utilizada para a pr�tica da nata��o, mas com uma profundidade significativa, capaz de cobrir uma pessoa adulta. Na mesma sala, existe um cub�culo, tamb�m azulejado, com capacidade para abrigar alguns homens em p�. Nela funcionava ‘a sauna’. Esse local, segundo o relato de um policial civil que preferiu n�o se identificar, era apresentado aos ‘de fora’ como sendo um espa�o de lazer dos funcion�rios onde, nos finais de semana, faziam churrasco e se refrescavam. Tratava-se, no entanto, de uma sala de tortura, onde os presos passavam pelo o que o policial chamou de ‘esquenta e esfria’. Ap�s ser colocado no calor da sauna, o preso passava por sess�es de afogamento na piscina. Alguns bancos em alvenaria, presentes na sala, completavam o cen�rio da tortura”.
“Outro c�modo do DOPS que ainda guarda os sinais da pr�tica da tortura � uma saleta, localizada no segundo andar, toda revestida por placas de corti�a. A presen�a da corti�a, material utilizado para abafar som, denuncia que naquele local, pessoas foram torturadas. N�o por acaso, essa sala pode ser acessada por uma entrada extraoficial. Segundo o relato do policial, atrav�s dessa entrada, presos eram levados ou retirados do DOPS sem serem vistos por sua fam�lia ou advogados que, na entrada oficial do pr�dio, esperavam em v�o por not�cias da pessoa detida”.