Quem quiser sair do Brasil sem ser incomodado, como fez o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que fugiu para a It�lia em 12 de setembro passado, dois meses antes de ter a ordem de pris�o decretada pelo Supremo Tribunal Federal por sua condena��o no mensal�o, ainda hoje encontra caminho livre na rota que, segundo a Pol�cia Federal (PF), foi percorrida por ele na escapada. � s� cruzar uma rua na fronteira seca de Dion�sio Cerqueira, munic�pio do oeste de Santa Catarina e seguir por 1.340 quil�metros de estradas at� Buenos Aires, na Argentina.
Na divisa, os limites nacionais s�o apenas marcos de concreto cravados ao longo da Avenida Internacional. A avenida se encontra com dezenas de ruas da vizinha cidade argentina Bernardo Irigoyen. Do lado brasileiro n�o � obrigat�rio o registro da sa�da.
O pr�dio da aduana de turismo, ao fim da Avenida Rep�blica Argentina, serve somente para quem est� disposto a registrar-se oficialmente na entrada na Argentina. Pelos acordos de coopera��o entre os dois pa�ses, o Brasil controla os fluxos de cargas na aduana de caminh�es, localizada em outro ponto, e a Argentina administra o fluxo de pessoas - estimado em 1 milh�o de turistas por ano.
Pedestres t�m caminho livre. Carros t�m de ser identificados, mas podem rodar na cidade vizinha sem necessidade do documento de “Permisso” de entrada. Para avan�ar em seguran�a, basta estar � bordo de um carro com placa da Argentina.
Sem controle
Na prefeitura de Dion�sio Cerqueira, o prefeito Altair Rittes (PT), que est� no quarto mandato, disse que “a passagem na fronteira seca � comum”. Rittes afirmou que n�o tinha contatos com Pizzolato, petista como ele, ex-dirigente do Sindicato dos Banc�rios e da CUT em Santa Catarina. Habituado a rodar pela Argentina, que tem estradas melhores do que as brasileiras, Rittes contou que o controle de pessoas deve melhorar porque foi criado o Cons�rcio Intermunicipal da Fronteira.
“H� plano de instala��o de c�meras”, contou. Mas ele admite que o tamanho real do vaiv�m n�o se pode saber. H� 3 quil�metros de avenidas, ruas e estradas nas quais a passagem � livre. “Um carro pode passar na aduana, registrar-se oficialmente, rodar umas quadras para a direita e pegar a pessoa que passou a p� na outra rua”, disse Rittes.
A partir de Bernardo Irigoyen, � s� contar com a sorte para n�o ser parado nos raros postos de “Control”. Se estiver em carro argentino, parada somente para abastecer ou dormir, ou quando chega a Buenos Aires, percorrendo os 1.340 quil�metros de estrada pela Ruta (Rodovia) 14.
O trecho mais complicado de asfalto j� na Ruta 14, a estrada que leva direto a Buenos Aires, � o das serras e baixadas. Neste trecho, o motorista � obrigado a rodar em baixa velocidade. Atravessando o Estado de Missiones, seguir� sem qualquer fiscaliza��o at� Ober� e San Jos�, �ltima cidade antes da entrada no Estado de Corrientes.
Na altura de Virasoro, j� em Corrientes, o argentino Luciano Ferreira, neto de brasileiros, que trabalha como “tabaquero” (produtor de fumo) na regi�o, tamb�m nem sabia da fuga do ex-diretor do Banco do Brasil condenado no mensal�o. Fluente em portugu�s, ele contou que a estrada � livre, sem controle rigoroso de pol�cia. “Por aqui passam muitos brasileiros e n�o se pode saber quem passa. S� nos postos de fronteira. Eles param mais os carros paraguaios, mas isso � por causa do controle de contrabando”, disse.
A partir deste ponto, as curvas come�am a sumir e surgem as retas em belas plan�cies, at� aparecer a estrada duplicada na altura de Paso de Los Libres, vizinha de Uruguaiana. Em alguns trechos da Ruta 14, a proximidade com a fronteira permite ouvir r�dio e at� encontrar sinal de celular do Brasil.
O primeiro posto de controle com barreira de cones aparece somente na altura do km 479 da Ruta 14, ap�s o trevo de acesso a Libres. Ali os carros passam a 20 km/h, observados por soldados postados no meio da pista. Na sexta-feira, o policial autorizava a passagem dos carros com um r�pido aceno. Pelos Estados de Entre Rios e, finalmente, Buenos Aires, � a mesma coisa. A chegada � capital, ap�s mais de 30 horas na estrada, � feita pela Ruta 9 no trevo de Campana.
No s�bado, quando a equipe de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo embarcou para S�o Paulo, o procedimento na imigra��o, como ocorreu com Pizzolato, era de passageiros identificados na m�quina digital. Deixavam tamb�m outra pista da passagem: a foto. Esse, segundo a PF, o “erro” de Pizzolato.