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Estado de Minas

Apesar de bem planejadas, duas a��es da ditadura militar n�o sa�ram do papel

No final da d�cada de 1960, duas organiza��es - o Comando de Liberta��o Nacional (Colina) e a Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR) - tramaram o assassinato de Gary Prado, o militar boliviano respons�vel pela pris�o de Che Guevara na Bol�via


postado em 27/03/2014 06:00 / atualizado em 27/03/2014 08:50

Os embates entre os militares que tomaram o poder no Brasil por mais de 20 anos e os militantes que partiram para a luta armada na tentativa de resistir � ditadura e tentar devolver o pa�s � democracia renderam epis�dios essenciais da hist�ria do pa�s. Na s�rie de reportagens que o Estado de Minas publica sobre os 50 anos do golpe militar, hoje s�o contadas duas hist�rias que est�o � margem das narrativas sobre o per�odo. Isso porque, apesar de planejadas com cuidado e pensadas nos m�nimos detalhes, elas acabaram n�o ocorrendo.

No final da d�cada de 1960, duas organiza��es – o Comando de Liberta��o Nacional (Colina) e a Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR) – tramaram o assassinato de Gary Prado, o militar boliviano respons�vel pela pris�o de Che Guevara na Bol�via. Quando Che foi assassinado, em outubro de 1967, os algozes do revolucion�rio argentino – que foi um dos comandantes da Revolu��o Cubana, em 1959, e estava na selva boliviana tentando implementar um foco guerrilheiro – se tornaram os alvos prediletos das organiza��es de esquerda. Afinal, o principal �cone e espelho de todos aqueles que brigavam para derrubar os governos militares havia sido assassinado.

Do outro lado do espectro ideol�gico uma trama de morte tamb�m deu errado. O plano quase levado a cabo pelo o ex-delegado do Departamento de Ordem Pol�tico Social (DOPS) do Esp�rito Santo, Cl�udio Ant�nio Guerra, era matar o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (PDT), um �cone da resist�ncia ao golpe, que havia voltado ao pa�s com anistia e preparava sua candidatura para o governo do Rio de Janeiro.

As "duas mortes" de Gary Prado


A primeira tentativa de matar Gary Prado foi de militantes do Colina. Quem conta a hist�ria � o professor da Universidade Cat�lica de Salvador (UCSAL) Amilcar Baiardi, de 72 anos, que tinha 26 em 1968. "O Gary Prado veio fazer um curso do Estado Maior do Ex�rcito", lembra. O curso habilitava os militares a serem promovidos a coronel e posteriormente a general. A not�cia foi divulgada nos jornais e ouri�ou os cabe�as do Colina. "Na �poca, o Colina ainda era pequeno e o argumento era que, fazendo uma a��o dessas se teria um impacto enorme e poderia se converter na for�a hegem�nica dos movimentos que pretendiam conduzir a luta armada no Brasil", conta o professor.

Amilcar j� havia feito mestrado profissional na Col�mbia e trabalhava em Salvador, onde vivia uma vida dentro da legalidade, apoiando os movimentos, mas sem ser clandestino. Ele conheceu em 1967, em Porto Alegre, onde morou, um dos l�deres do Colina, Jo�o Lucas Alves, que foi � cidade dar treinamento militar, e ouviu dele: "N�s vamos vingar o Che". Passados alguns meses, se encontrou novamente com Jo�o Lucas, que lembrou da conversa e pediu que ele fosse para o Rio de Janeiro.

Jo�o Lucas encarregou Amilcar de ser o respons�vel pela reda��o do documento comunicando a na��o e as outras organiza��es da Am�rica Latina da execu��o de Gary Prado. Amilcar foi para um aparelho de olhos vendados (como eram chamados os apartamentos usados pelas organiza��es) e come�ou a rabiscar o que seria o comunicado. Enquanto isso, Jo�o Lucas e mais dois militantes (Severino Viana Colon e Jos� Roberto Monteiro) partiram para execu��o, confiando nas informa��es passadas por um agente infiltrado no comando do Estado Maior.

"O soldado avisou que ele (Gary Prado) passaria em uma rua do Botafogo", recorda Amilcar, que n�o faz ideia de quem era o agente infiltrado. Por�m, a informa��o era errada e os tr�s fuzilaram o major do ex�rcito alem�o, Edward Ernest Tito Otto Maximilian Von Westernhagen, que tamb�m fazia o curso do Estado Maior. O erro foi descoberto no aparelho, quando olharam os documentos na pasta que Edward carregava. Amilcar lembra que fizeram um pacto de sil�ncio e o mist�rio sobre a morte do alem�o (que havia lutado com os nazistas na Segunda Guerra Mundial) permaneceu at� 1985, quando ele revelou a trama para o historiador Jacob Gorender (1923-2013), que escrevia o cl�ssico livro Combate nas trevas (Editora �tica, 1985).

Jo�o Lucas e Severino Viana foram assassinados na pris�o, ap�s serem brutalmente torturados. Jos� Roberto tamb�m foi preso, mas sobreviveu e morreu anos depois em um acidente de carro. "Foi uma frustra��o n�o ter vingado o Che", avalia Amilcar. Entretanto, ele acredita que se Gary Prado tivesse sido assassinado teria mudado pouco a hist�ria. "O grande equ�voco foi iniciar a luta armada", entende.

Outro pretenso vingador de Che pensa diferente. Um dos l�deres da VPR, Wellington Moreira Diniz, acredita que se o plano arquitetado pela organiza��o tivesse dado certo a hist�ria seria diferente. O plano, ali�s, inclu�a o sequestro de Gary Prado e tamb�m do ent�o vice-presidente do pa�s, o Almirante Augusto Rademaker, que meses depois fez parte da trinca que governou o Brasil, quando Costa e Silva se afastou do cargo.

"Pensa o tamanho da pancada no pa�s que tem o vice-presidente sequestrado e o cara que matou o Che tamb�m. Pensa que naquele momento o pleno poder era dos militares. Sequestrar o vice-presidente e o s�mbolo da direita e do imperialismo que era o Gary Prado teria influenciado um movimento mundial", acredita Wellington, de 67 anos.

Wellington �, provavelmente, o militante com o maior n�mero de a��es armadas entre todas as organiza��es. � acusado pelos inqu�ritos militares de 38 assaltos, entre bancos, quart�is e autom�veis, e de ter matado 12 pessoas em a��es de resist�ncia � ditadura. Foi ainda o respons�vel pela seguran�a do l�der da VPR, o capit�o Carlos Lamarca, e fez parte do grupo que roubou US$ 2,598 milh�es (R$ 15 milh�es) do cofre da amante do pol�tico Adhemar de Barros.

Em 1969 ele estava escalado para morar em um s�tio na �rea da reserva de Tingu�, em Petrop�lis, na regi�o serrana do Rio de Janeiro. Vivia com uma companheira e se passava por sitiante. Plantava milho e cana-de-a��car e durante as noites cavava um buraco, que serviria como cativeiro de Rademaker e Gary Prado. "Era um buraco que deveria ser cavado com retroescavadeira. Na picareta, eram horas e mais horas de servi�o", recorda.

Por�m, quando a organiza��o ia se reunir para decidir os passos finais das a��es o plano deu errado. "Eu era o comandante da seguran�a e fui verificar o local do encontro. Quando entrei, os militares estavam l�", lembra. Wellington tentou resistir, trocou tiros com os militares, mas foi preso e o plano do sequestro ruiu. O objetivo era troc�-los por militantes presos, como foi feito meses depois pelo Movimento Revolucion�rio Oito de Outubro (MR-8) e pela Alian�a Libertadora Nacional (ALN), que sequestraram o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. "O Gary Prado ia dan�ar. Acidentes acontecem. Ele ia trope�ar e cair", confessa Wellington, dando a entender que o respons�vel pela morte de Che seria executado.


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