Aides, Paschoal, Sabino, Feliciano e Guido s�o alguns mineiros entre os 72 mortos ou desaparecidos por causa da ditadura militar (1964-1985) que est�o, pela primeira vez, reconhecidos em um documento oficial do governo brasileiro: o relat�rio final da Comiss�o Nacional da Verdade (CNV). O documento entregue ontem � presidente Dilma Rousseff e a autoridades dos poderes Executivo e Judici�rio traz a identifica��o de 434 v�timas mortas ou desaparecidas. � o estudo mais completo sobre o tema j� feito no Brasil. At� ontem, o documento oficial adotado era o relat�rio da Comiss�o Especial de Mortos e Desaparecidos Pol�ticos (CEMDP), de 1995, que listava 362 v�timas.
� o caso do campon�s Paschoal Souza Lima, morto em 30 de mar�o de 1964, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. De acordo com o relat�rio da CNV, Paschoal foi morto por fazendeiros, quando estava na casa de um l�der dos trabalhadores, metralhada por uma mil�cia. A fam�lia n�o apresentou o caso � CEMDP, que, por sua vez, n�o o incluiu em sua lista, apesar de Paschoal j� ter se tornado at� nome de rua em Belo Horizonte e avenida em Governador Valadares.
“Nos dias subsequentes, os conflitos se acirram e as mil�cias fazendeiras passam a realizar uma intensa ‘ca�a aos comunistas’. Nesse contexto, morreram tamb�m o farmac�utico Ot�vio Soares e seu filho, Augusto Soares. Ressalte-se que, na �poca, a fam�lia Soares conseguiu a abertura de inqu�rito, contudo a Justi�a Militar absolveu os acusados dos assassinatos, pois estavam trabalhando em nome da ‘revolu��o’”, aponta o relat�rio, mostrando o v�nculo entre as mil�cias dos fazendeiros e os militares que deram o golpe no dia seguinte � morte de Paschoal.
Jo�o Carvalho de Barros, ga�cho de S�o Borja, era veterin�rio, pai de sete filhos e trabalhava na capital mineira em um matadouro, al�m de ser pastor em um templo protestante, em que fazia trabalhos sociais. No calor do golpe, em 2 de abril de 1964, a casa dele foi invadida por 30 homens e ele foi assassinado. Uma filha, de 17 anos, tamb�m foi baleada e ficou com sequelas irrevers�veis. O relat�rio da CNV traz as diferentes vers�es para a morte de Jo�o publicadas nos jornais nos dias seguintes, mas destaca a fala de um dirigente do PTB � �poca, que aponta crime pol�tico.
Aides Dias de Carvalho, de Aimor�s, no Vale do Rio Doce, uma das v�timas do Massacre de Ipatinga (leia ao lado), tamb�m n�o teve o nome apresentado no relat�rio da CEMDP, mas consta no documento da CNV. Mesmo a fam�lia de Aides n�o tendo apresentado requerimento para a inclus�o dele na lista de mortos e desaparecidos, a CNV entendeu que a decis�o que valeu para outros casos do massacre vale tamb�m para Aides.
GREVE J� no final da ditadura, em 1979, Guido Le�o, metal�rgico da Fiat, em Betim, foi atropelado por uma viatura policial. O relat�rio afirma que ele fugia da cavalaria da Pol�cia Militar de Minas Gerais, que, armada de sabres, reprimia manifesta��o dos trabalhadores em greve em frente a f�brica e foi atropelado na BR-381. “Nos meses anteriores, os trabalhadores vinham sendo duramente reprimidos em suas manifesta��es pelos agentes policiais do Estado. � �poca da morte de Guido, pelo menos outros dois trabalhadores j� haviam sido mortos em situa��o semelhante: Orac�lio Martins e Benedito Gon�alves (citados em relat�rios anteriores)”, afirma o relat�rio da CNV.