Bras�lia - Numa a��o combinada para mostrar unidade do governo e isolar a senadora Marta Suplicy (PT-SP), 11 ministros compareceram nessa segunda-feira, 12, � posse do novo titular da Cultura, Juca Ferreira. A ordem para prestigiar Juca e ignorar publicamente as cr�ticas de Marta partiu da presidente Dilma Rousseff. Coube apenas ao novo ministro desqualificar os ataques da antecessora, porque, na avalia��o de Dilma, tratava-se de ofensa contra a honra, que precisava ser respondida.
Em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no domingo, Marta criticou Dilma, apontou "desmandos e irregularidades" na gest�o de Juca quando ele foi ministro do governo Lula (2008 a 2010), chamou o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de "inimigo" e disse que o presidente do PT, Rui Falc�o, "traiu o partido". Na avalia��o de Marta, "ou o PT muda ou acaba".
Dilma ficou indignada com a ex-ministra, que quer ser candidata � Prefeitura de S�o Paulo em 2016 e sabe que n�o ter� espa�o no PT. Motivo: o partido j� definiu que o prefeito Fernando Haddad disputar� a reelei��o.
Para dirigentes petistas, a sucess�o de ataques de Marta indica que o desejo dela � criar um fato consumado para deixar o PT e ser candidata por outro partido.
Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos ontem pelo Estado disseram que dificilmente a Corte teria o entendimento de que a mudan�a de legenda levaria um ocupante de cargo majorit�rio, como a senadora, � perda de mandato por infidelidade partid�ria.
No fim de semana, ap�s ler a entrevista, Dilma conversou com Mercadante, que tamb�m falou com Falc�o. O presidente do PT esteve ontem no Pal�cio do Planalto e se encontrou com o chefe da Casa Civil. Lula ainda est� em f�rias, mas petistas o acionaram por telefone.
A estrat�gia � n�o dar holofotes para Marta. No diagn�stico de ministros da coordena��o de governo, o "diz-que-diz-que" s� serve para expor fraturas no PT e no Planalto, alimentar intrigas sobre o relacionamento entre Dilma e Lula e desgastar Haddad.
"Se ela (Marta) quer ir embora, que v� com Deus", disse a presidente, segundo relato obtido pela reportagem. Depois da posse de Juca, Mercadante se recusou a comentar a ofensiva de Marta. "O discurso do Juca fala tudo. Ele fez um bel�ssimo pronunciamento", esquivou-se.
'Volta, Lula'
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Marta contou que articulou o movimento "Volta, Lula" com o aval do ex-presidente. De acordo com a senadora, Lula dizia que Dilma n�o ouvia ningu�m e desejava ser candidato, mas preferiu n�o enfrentar a sucessora.
Para ela, Mercadante "mente" ao afirmar n�o ter inten��o de disputar a Presid�ncia, em 2018, porque "Lula � o candidato do cora��o da milit�ncia", como o ministro disse ao Estado em outubro e em dezembro.
A senadora tamb�m revelou ter enviado � Controladoria-Geral da Uni�o (CGU) documentos sobre irregularidades em parcerias de R$ 105 milh�es, firmadas pelo Minist�rio da Cultura na primeira gest�o de Juca. O ministro rebateu a acusa��o.
"Eu me senti agredido pela irresponsabilidade com que ela tratou uma pessoa honesta, com quase 50 anos de vida p�blica", respondeu Juca, que confessou ter sido admirador de Marta nos anos 1980. "Quando eu voltei do ex�lio, ela tinha um programa de TV e fiquei f� dela por sua coragem em defender a sexualidade feminina e o direito ao orgasmo, coisa que era um tabu", contou. "Depois, minha admira��o cresceu quando ela foi prefeita. Mas ela n�o foi t�o boa ministra."
No Planalto, ministros observaram que Marta nunca falou para Dilma o que disse na entrevista nem discutiu esse assunto internamente no PT.
Para Marco Aur�lio Carvalho, amigo de Marta e coordenador do Setorial Jur�dico do PT, as cr�ticas da senadora n�o devem ser superdimensionadas. "O PT cresceu com as diverg�ncias e a hist�ria de Marta e do partido se confundem. Ela � um grande quadro, que merece nosso reconhecimento. Espero que tudo fique no campo do debate pol�tico."
A dire��o do PT vai buscar pontes de di�logo com Marta. Um dos cotados para a tarefa � o presidente do diret�rio paulista, Emidio Souza, que est� em f�rias. Emidio deve conversar com a senadora e, caso seja confirmada a inten��o dela de deixar o PT, pode ajudar a construir uma sa�da amig�vel - de prefer�ncia, para um partido aliado. Colaboraram, Ricardo Galhardo, Ricardo Brito e Ricardo Della Coletta.