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Estado de Minas

'N�o havia risco de morte', diz pesquisador sobre diagn�stico de doen�a de Tancredo Neves'


postado em 19/04/2015 06:00 / atualizado em 19/04/2015 07:44

Quando, na madrugada de 15 de mar�o, � 1h10, ap�s horas de tumulto no Hospital de Base de Bras�lia, os m�dicos abriram o perit�nio do presidente eleito Tancredo Neves n�o acharam um “ap�ndice supurado” indicado pelo diagn�stico inicial. Este estava em perfeito estado. “N�o havia infec��o, nem risco de morte”, diz o pesquisador Luis Mir. Diferentemente, foi encontrado um leiomioma infectado, que crescia para fora do tubo intestinal. “Era um tumor prim�rio, n�o tinha abscesso, n�o contaminava a parede abdominal, n�o tinha met�stase, n�o estava em fase de crescimento agressivo.” Em bom portugu�s: o leiomioma n�o representava risco de morte, n�o exigia opera��o de urg�ncia e poderia – como seria o mais indicado - ser retirado em cirurgia programada. 

Ver galeria . 10 Fotos Arte: Marcelo Lelis
(foto: Arte: Marcelo Lelis )


A opera��o foi conduzida por Francisco Pinheiro Rocha e durou um hora e 35 minutos. Luis Mir assim descreve o momento em que o cirurgi�o-chefe encontrou a massa tumoral que bloqueava a fossa il�aca direita (uma das nove divis�es da anatomia de superf�cie da parede abdominal): “� um divert�culo de Meckel, gra�as a Deus!”. Segundo Mir, os m�dicos se abra�aram e comemoraram. O presidente poderia tomar posse em poucos dias. Durante a cirurgia, contudo, ao observar “o achado”, Gustavo Ribeiro, cirurgi�o convidado por Pinheiro Rocha para acompanhar a opera��o, alertou: era um leimioma. Pinheiro Rocha manteve o curso do procedimento cir�rgico adequado para divert�culo.


O tumor que o cirurgi�o-chefe, considerado h�bil nas cirurgias de est�mago, ba�o e vias biliares, acreditou ser “divert�culo” foi removido com uma t�cnica denominada ressec��o em cunha, considerada inadequada para o leiomioma, muito vascularizado. “Quando utilizada nesses casos, a ressec��o em cunha implica risco muito alto de pegar um vaso na sutura e � grande a probabilidade de o paciente sangrar. Foi o que aconteceu”, explica Mir. A sutura malfeita viria a provocar sangramento desde o primeiro momento. O quadro se agravaria at� a morte.


Outros procedimentos naquela madrugada tamb�m prejudicaram o paciente e tra�ariam o seu destino. Segundo Luis Mir, a anestesia foi programada para um tempo de opera��o curto. S� que se prolongou e foi necess�ria mais anestesia. “Com a retirada abrupta da ventila��o mec�nica (extuba��o antecipada), o pulm�o do presidente foi encharcado por excesso de l�quidos, provocando uma atelectasia (colapso de parte ou de todo o pulm�o)”, afirma. O quadro que se instalou, edema agudo de pulm�o, provocou uma parada cardiorrespirat�ria, s� revertida com manobras her�icas pelo cardiologista de plant�o, Getro Artiaga de Lima e Silva, chamado com urg�ncia ao centro cir�rgico. Tancredo quase morreu. E os danos provocados evoluiriam para o quadro irrevers�vel de pulm�o de choque – a perda da capacidade de respira��o, o que leva � parada do cora��o.


Em 20 de mar�o, a segunda cirurgia. Nela j� estava presente Henrique Walter Pinotti, do Instituto do Cora��o (Incor). “Foi uma laparotomia branca, com o diagn�stico equivocado de obstru��o do intestino, o que provocou grande estresse ao paciente. O p�s-operat�rio foi tamb�m calamitoso”, afirma Luis Mir. “Ao mesmo tempo, o sangramento da sutura da primeira opera��o, que poderia ter sido, mas n�o foi, corrigido nesta segunda cirurgia, acabaria em hemorragia catastr�fica”, afirma o pesquisador.


A promessa m�dica de alta e consequente posse permeou os primeiros dias do p�s-operat�rio da primeira e segunda cirurgias. O seu an�ncio � fam�lia e � imprensa tornara-se uma obsess�o m�dica. Apesar das s�rias complica��es, os boletins oficiais n�o indicaram a gravidade do caso. Em 25 de mar�o, pouco mais de tr�s horas depois de ter sido divulgada uma foto “montada” que mostrava ao pa�s a “recupera��o” de Tancredo Neves para a sonhada posse, o presidente teve uma nova hemorragia, desta vez maci�a. “Ele evacuou cerca de 3 litros de sangue vivo em menos de 12 horas. Pela quarta vez, quase morreu. A primeira havia sido na extuba��o da primeira opera��o; a segunda, numa crise respirat�ria grav�ssima em 17 de mar�o; a terceira em 23 de mar�o, quando a hemorragia se tornou franca”, considera Luis Mir. Em 26 de mar�o, Tancredo Neves foi transferido para o Instituto do Cora��o (Incor). Num avi�o sem recursos, ele recebeu v�rias bolsas de sangue durante o voo.


“Eu n�o merecia isso”, foi uma das frases que Tancredo Neves pronunciou e foi ouvida por v�rios m�dicos, ao se dar conta de que n�o escaparia. Em 12 de abril, no Incor, o primeiro presidente civil prometido para p�r fim � ditadura militar foi sedado definitivamente e se tornou um paciente terminal. Nove dias depois, o assessor de imprensa, Antonio Britto, anunciou ao pa�s a morte de Tancredo.


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