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Estado de Minas

Tancredo Neves temia que, caso n�o assumisse a Presid�ncia, democracia fosse amea�ada

Com a interna��o de Tancredo na v�spera da posse, o pa�s passou a madrugada em suspense e com receio de um retrocesso. Mas Sarney assumiu como interino, pondo fim � ditadura


postado em 19/04/2015 06:00 / atualizado em 19/04/2015 08:01

Caminhão dos bombeiros com o corpo de Tancredo passa pelo Centro de Belo Horizonte. A cidade parou para se despedir do presidente da República(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press - 23/04/1985 )
Caminh�o dos bombeiros com o corpo de Tancredo passa pelo Centro de Belo Horizonte. A cidade parou para se despedir do presidente da Rep�blica (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press - 23/04/1985 )

O presidente eleito Tancredo Neves resistia � opera��o de urg�ncia recomendada pelos m�dicos. Sabia das dificuldades do ent�o general Jo�o Baptista Figueiredo com o vice de sua chapa, Jos� Sarney. Egresso da Arena e do PDS, mas filiado ao PMDB na costura pol�tica da transi��o, Sarney era visto como “traidor” do regime. Tancredo temia o retrocesso. A preocupa��o era partilhada por Ulysses Guimar�es (PMDB), ent�o presidente da C�mara dos Deputados e um dos principais art�fices da redemocratiza��o.

Ver galeria . 10 Fotos Arte: Marcelo Lelis
(foto: Arte: Marcelo Lelis )


Quem conta � o pr�prio Jos� Sarney, em depoimento gravado ao programa Hist�rias contadas, da TV Senado. Avisado da interna��o de Tancredo por Alu�zio Alves – que seria ministro da Administra��o do novo governo –, Sarney foi ao hospital na noite de 14 de mar�o. Antes, contudo, telefonou ao general Le�nidas Pires Gon�alves, que seria o futuro ministro do Ex�rcito. Ao chegar ao Hospital de Base, Sarney encontrou Ulysses sentado numa salinha, ao fundo do corredor. “Eu entrei e Ulysses disse: seu Sarney, veja o que o destino preparou para n�s. Temos um problema mais s�rio pela frente, o problema institucional. N�o podemos morrer na praia. Devemos agir”, relata Sarney. No plano institucional, estava posta a quest�o: na impossibilidade de Tancredo tomar posse, quem assumiria?. A resposta foi encontrada na Constitui��o Federal de 1969. Era Sarney.


(foto: Gilberto Alves/Arquivo EM )
(foto: Gilberto Alves/Arquivo EM )
“Sarney n�o almejava ser presidente”, lembra A�cio Neves, neto e ent�o secret�rio particular de Tancredo Neves. De fato, ele sabia que, tendo apoiado a ditadura militar, teria graves problemas para se legitimar na Nova Rep�blica. Voltando-se para Ulysses, Sarney disse: “O povo brasileiro vai ter uma grande frustra��o se no lugar do Tancredo aparecer eu tomando posse como presidente”. E ouviu como resposta: “Sarney, somos homens p�blicos. Nesse momento temos de tratar � realmente da coisa p�blica”. A sa�da foi a desejada por Tancredo, que, consultado, emitiu a mesma opini�o: era preciso concluir a transi��o democr�tica sem dar oportunidade aos setores da linha dura do regime.

 

A posse de Sarney ocorreu. Mas durante os 37 dias pelos quais se estendeu a agonia hospitalar de Tancredo Neves, os olhos do pa�s e as aten��es do governo que inaugurava a Nova Rep�blica estavam primeiro no Hospital de Base de Bras�lia. Depois, se deslocaram para o Instituto do Cora��o, em S�o Paulo. “Nesse per�odo, o olhar pol�tico e os jogos foram se acomodando � nova situa��o. Quando Tancredo percebeu que o caso era grave e que poderia n�o acabar bem, trabalhou para dar sustenta��o pol�tica a Sarney”, avalia o historiador, economista e escritor Ronaldo Costa Couto, indicado por Tancredo Neves para o Minist�rio do Interior. Em carta dirigida a Sarney e ditada a A�cio em 23 de mar�o, Tancredo elogia a sua solidariedade e o exemplo de sua conduta na interinidade da Presid�ncia da Rep�blica. “Naquele momento, Sarney estava assustado e carente deste gesto. Era uma demonstra��o p�blica de que ele estava ali em nome da Nova Rep�blica e deveria concluir a transi��o democr�tica”, diz A�cio.


As imagens do lado de fora do Hospital de Base: a mensagem da população e a imprensa aguardando informações sobre Tancredo(foto: Luiz Marques/CB/D.A Press )
As imagens do lado de fora do Hospital de Base: a mensagem da popula��o e a imprensa aguardando informa��es sobre Tancredo (foto: Luiz Marques/CB/D.A Press )
Com a morte de Tancredo, Sarney deixou de ser interino. “Eu sabia que a primeira coisa que tinha de buscar era a minha legitimidade, pois n�o tinha essa legitimidade. Ent�o, tudo o que passei a fazer foi no sentido de adquirir essa legitimidade”, relembra Sarney em depoimento gravado � TV Senado. “Enquanto Tancredo teria o respaldo popular e capital pol�tico para implementar as mudan�as que pretendia e cobrar sacrif�cios, Sarney dependia fortemente do PMDB e de figuras como Ulysses Guimar�es, que tinham longa luta de oposi��o ao regime militar pela reabertura democr�tica”, avalia A�cio.


Num contexto de infla��o descontrolada, a frase central do discurso de posse de Tancredo Neves seria: “Est� proibido gastar”. Num governo Tancredo Neves, um plano econ�mico com os contornos heterodoxos do Plano Cruzado n�o teria sido editado. “Tancredo em economia era desenvolvimentista, mas n�o acreditava em heterodoxia”, considera Ronaldo Costa Couto. Avalia��o semelhante tem o jornalista e pol�tico Ant�nio Britto, que a poucos dias da posse foi convidado por Tancredo para assumir a sua assessoria de imprensa. “Tancredo seguramente faria um governo de grande habilidade pol�tica, austero em sua formata��o e cauteloso na condu��o da economia”, sustenta Britto.


Sarney e Marco Maciel se mostravam otimistas na saída do Hospital de Base, dois dias depois da internação(foto: Gilberto Alves/EM/D.A Press -17/03/1985)
Sarney e Marco Maciel se mostravam otimistas na sa�da do Hospital de Base, dois dias depois da interna��o (foto: Gilberto Alves/EM/D.A Press -17/03/1985)
Tancredo morreu e a hist�ria seguiu o seu curso. Veio a Constitui��o Federal de 1988 e ocorreram sucessivas elei��es presidenciais, consolidando o mais longo per�odo democr�tico da hist�ria brasileira.

 

"Enquanto Tancredo teria o respaldo popular e capital pol�tico para implementar as mudan�as que pretendia e cobrar sacrif�cios, Sarney dependia fortemente do PMDB e de figuras como Ulysses Guimar�es, que tinham longa luta de oposi��o ao regime militar pela reabertura democr�tica"

A�cio Neves,
senador (na �poca, secret�rio particular de Tancredo)


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