Eduardo Milit�o/enviado especial

Curitiba – Da carceragem da Pol�cia Federal, o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, enviou um bilhete aos advogados em que alinha estrat�gias de comunica��o e de defesa para pedido de habeas corpus. “Destruir e-mail sondas” � um desses pontos. Para a Pol�cia Federal, que interceptou o texto e remeteu uma c�pia ao juiz da 13ª Vara Federal, S�rgio Moro, trata-se de uma tentativa de apagar provas que incriminem o executivo da maior empreiteira do pa�s. Para a defesa, a interpreta��o est� equivocada e a ordem � apenas uma linha de defesa que significaria algo como “destruir a argumenta��o do e-mail sobre navios-sondas”. No despacho de pris�o, Moro citou uma mensagem enviada ao executivo pelo diretor da empresa Roberto Prisco Ramos em que este fala em “sobrepre�o de 20 mil a 25 mil por dia” nas sondas, sem especificar a moeda do neg�cio.
Nessa quarta-feira (24), o delegado Eduardo Mauat informou ao juiz que o bilhete foi apreendido na segunda-feira pela manh� pelos agentes, que estranharam a men��o a destruir um documento. Por praxe, todas as comunica��es s�o lidas pela PF antes de serem entregues. Os policiais fotografaram o documento de duas p�ginas. Ele come�a com o t�tulo “Pts para o HC”. Segundo fontes da empreiteira, foi escrito por Marcelo na pris�o para subsidiar a defesa dos advogados, relacionando v�rios argumentos que poderiam ser usados para tir�-lo da cadeia.
A advogada Dora Cavalcanti apresentou a vers�o da empresa para a mensagem, mas Mauat n�o se convenceu. “Havia clara possibilidade de ter havido orienta��o para a pr�tica de conduta estranha � rela��o advogado-cliente”, disse ele no of�cio ao juiz. Abaixo da mensagem sobre destrui��o de e-mail, h� men��o a “RR”, que a pol�cia entende ser Roberto Prisco Ramos, que usava e-mail da Braskem, uma das empresas da Odebrecht.
Temendo destrui��o de documentos, a PF reiterou pedido feito � Braskem na semana passada, para entregar todas as mensagens de e-mail da conta [email protected], a mesma que mencionou o suposto sobrepre�o nas sondas. A Odebrecht diz que n�o se trata de superfaturamento, mas de margem de lucro na opera��o.
‘Tumulto’ Dora Cavalcanti disse ao Estado de Minas que a suspeita da PF � uma “tentativa de causar incidente processual que n�o existe”. “Eu n�o queria tumulto.” Ela disse que vai reclamar do fato de o bilhete de Marcelo ter sido anexado aos autos do processo sem sigilo. “Isso � uma viola��o de correspond�ncia.”
A estrat�gia da defesa consta do documento. Marcelo afirma que uma pessoa identificada como “RA” – que Dora n�o explica se seria o executivo preso Rog�rio Ara�jo – foi investigada internamente e afastada dos neg�cios com a Petrobras, al�m de estar em licen�a m�dica. Os executivos da Odebrecht est�o sendo afastados dos cargos, formalmente a pedido dos pr�prios, para que se argumente que n�o h� motivo para a continuidade das pris�es. Dora disse que n�o pode comentar o teor do restante do bilhete.
Nessa quarta-feira, Moro estendeu a deten��o do diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar. Ele ficar� em pris�o preventiva, a pedido da PF e do Minist�rio P�blico. Alencar, que se desligou da empreiteira, viajava com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva para palestras no exterior pagas pela construtora.
O dicion�rio de cada um - O que dizem defesa e acusa��o
Destruir
Policiais federais suspeitam que o verbo usado no bilhete de Marcelo Odebrecht � sua defesa seja uma ordem para que seja dado sumi�o a provas. “Destruir, no caso, era esclarecer o contexto do e-mail e aniquilar a interpreta��o de que sobrepre�o era superfaturamento”, diz a advogada Dora Cavalcanti.
Sobrepre�o
Mensagem enviada ao presidente da Odebrecht e outros executivos fala em “sobrepre�o” num contrato de sondas. Para o juiz S�rgio Moro, trata-se de uma refer�ncia a superfaturamento. A defesa alega que o e-mail recebido por Marcelo Odebrecht refere-se a discuss�es t�cnicas entre executivos, e que o termo “sobrepre�o” tem a ver com a remunera��o proposta � Sete Brasil, numa tradu��o do termo em ingl�s “cost plus fee”.