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Estado de Minas

"� uma crise aguda. Dilma nunca se viu t�o acuada", afirma Marta Suplicy


postado em 12/10/2015 12:11

(foto: ED Alves/CB/D.A Press)
(foto: ED Alves/CB/D.A Press)

Marta Teresa Suplicy, 70 anos, est� cada vez mais confort�vel. � o que ela diz, mas tamb�m � o que deixa evidente em cada gesto. Afinal, a senadora agora pode criticar mais diretamente o governo Dilma Rousseff, sem as amarras da filia��o ao PT — deixado de lado no fim de abril — e, h� duas semanas, oficialmente nas fileiras do PMDB, do vice-presidente Michel Temer.

Durante quase 100 minutos de entrevista ao Correio, na tarde da �ltima quarta-feira, a senadora avan�ou contra o Planalto, bombardeou o PT — “a corrup��o � sist�mica” — e a presidente Dilma. Tamb�m detalhou o fim da rela��o pol�tica com Luiz In�cio Lula da Silva e, pela primeira vez, revelou bastidores do rompimento com companheiros da legenda.

De forma clara, disse que vai disputar o posto de candidata peemedebista � prefeitura de S�o Paulo e criticou o petista Fernando Haddad. Mais discreta e cuidadosa, falou sobre as den�ncias envolvendo peemedebistas, incluindo o presidente da C�mara, Eduardo Cunha, e sugeriu indiretamente a ren�ncia de Dilma, refor�ando qualidades do vice Michel Temer.

Segundo Marta, a presidente boicotou o trabalho de Temer. “Ele se viu compelido at� a sair, e ela foi negociar com o PMDB jovem”, disse, ao lembrar as derrotas do Planalto na �ltima semana. “Tinha orgulho de pertencer ao PT. Foi uma decep��o. Era t�o ing�nua, que, quando penso, fico at� constrangida”, atacou Marta, que, durante a entrevista, usou amarelo, sem qualquer adere�o vermelho do PT.

A senhora est� confort�vel no PMDB?
Sim, muito confort�vel, acolhida e com espa�o. Posso dizer que estou bem.

Qual a principal diferen�a entre o PT e o PMDB?
O PMDB � um partido com tantos caciques que n�o existe um cacique que mande e que enquadre as pessoas. � interessante viver essa experi�ncia em um partido onde quem manda � a pol�tica e a conversa. Isso faz diferen�a.

Quem � o cacique do PT?
O PT tem o Lula, que � s�mbolo maior do partido, � a pessoa que d� a �ltima palavra. N�o existe isso no PMDB. Nunca tinha me debru�ado para ver como funcionava. E perceber isso foi perceber uma enorme diferen�a.

Estas conversas do PMDB n�o est�o mais para conchavos?

At� onde participei, s�o conversas pol�ticas. Mas tem outra diferen�a, a corrup��o.

Mas h� diferen�a? O PT tem dois ex-tesoureiros que foram presos, enquanto o PMDB tem uma s�rie de pol�ticos investigados. Com uma s�rie de suspeitas.
A� existe uma diferen�a entre os dois. Primeiro, que n�o tem partido de relev�ncia que n�o tenha pessoas investigadas. A diferen�a � que no PT existe uma manuten��o da estrutura partid�ria com recursos p�blicos. E no PMDB n�o vejo isso, vejo pessoas sendo investigadas, que eventualmente podem se tornar r�s, ir para a cadeia. At� agora, n�o aconteceu isso nesse n�vel, n�o �? Mas poder� acontecer. E no PT vemos condena��es, pessoas presas, mas principalmente (no PMDB) n�o h� uma transfer�ncia de recursos p�blicos na veia partid�ria, no sentido sist�mico.

No PT seria mais org�nico?
Mais, n�o. O PT �. Muitas vezes, me cobram: “Por que voc� saiu? Voc� deveria ter ficado e ajudado o partido”. � t�o end�mico que ser�o muitos anos para se fazer (algo), se se conseguir.

Quando come�ou a se incomodar com a corrup��o no PT?
N�o queria falar tanto do PT, mas tinha muito orgulho de pertencer ao partido. As pessoas falavam assim: “Essa pessoa � do PT”. Falava: “Que bom, ali n�o vai ter trambique”.

Ent�o foi uma decep��o?
Total. Voc�s n�o sabem como era. Era t�o ing�nua, que, quando penso, fico at� constrangida. E mesmo na �poca do mensal�o foi uma coisa chocante. Para quem n�o estava naquela panelinha, foi uma coisa chocante. Quando voc� v� o petrol�o, ent�o, esquece.

Por que n�o saiu no mensal�o?

Porque acreditava que poderia n�o ser algo naquela dimens�o. Mas depois ficou evidente.

A senhora foi prefeita de S�o Paulo. Em nenhum momento percebeu algum movimento suspeito? Alguns dos nomes sob suspeita hoje estavam enroscados na administra��o da senhora, n�o?
N�o fazia parte disso, entende? Isso nunca chegou perto de mim. A gente era virgem, entende? Existiu esse PT.

Um dos principais delatores do petrol�o � o Fernando Baiano, que, segundo as investiga��es, � o lobista do PMDB no esquema. Quando fala que n�o existe corrup��o no PMDB na Petrobras, o Baiano est� a� para negar isso.

N�o sei. N�o tenho ideia de quem seja esse Fernando Baiano, n�o o conhe�o. Sei o que est� nos jornais, mas nunca li nos jornais que essa pessoa financiasse a estrutura partid�ria do PMDB. No meu conhecimento, existe essa diferen�a. Agora, n�o acho que seja o caso de ficar dizendo quem � o pior ou quem � o melhor. A pol�tica brasileira est� muito contaminada.

(foto: ED Alves/CB/D.A Press)
(foto: ED Alves/CB/D.A Press)

O Gabriel Chalita � secret�rio de Haddad. Existe uma tentativa de uma alian�a entre o PT e o PMDB?
N�o � que existe. Hoje, o PMDB e o PT est�o juntos, � uma realidade. Agora, para a elei��o, o PMDB vai ter candidato pr�prio, isso j� est� acordado e n�o imagino que um candidato que est� hoje com o PT vai ser o candidato de oposi��o do PMDB. Agora, n�o entrei com salto alto. N�o tive essa conversa com o Michel Temer.

Sobre a candidatura?
Falei que tinha interesse, mas a gente n�o entra num partido falando “sou a candidata”. Entrei para somar, n�o para dividir. Se o Chalita sair do governo em algum momento, se ele se colocar como candidato, provavelmente poderemos ter outras pessoas que se interessem, vai ter uma pr�via. Vou disputar. N�o tenho problemas com isso.

E em rela��o a outras candidaturas, o M�rcio Fran�a (PSB) transferiu domic�lio eleitoral para a capital e pode sair candidato pelo grupo de Alckmin. Como sua candidatura poderia se inserir?
Primeiro, tive conversas com o PMDB. A�, fomos todos surpreendidos por esse movimento do Lula, de fazer esse acordo com o Haddad. E o Chalita, que estava fora da pol�tica, entrou nesse acordo. A�, levei um susto. Disse: “Bom, fecharam-se as portas”. A�, veio um convite do PSB para ser a candidata deles. Para ser candidata, tinha de arrumar um partido, mas o que havia tinha as portas fechadas. A alian�a n�o convinha mais. Estava acabando de romper com aquele partido e como � que ia ficar naquela alian�a nacional e municipal? Como dizia, veio o convite do PSB. E comecei as conversas. Gostei muito do Carlos Siqueira, que tem vis�o aberta. Conheci os pernambucanos. Mas n�o conhecia o M�rcio Fran�a. Tivemos uma conversa simp�tica e tal. Mas a�, comecei a achar que tinha uma coisa meio estranha, complicada, porque ele tinha a ideia de ser candidato a governador. E percebi que tinha um arranjo com o PSDB para a prefeitura. Pensei: “Se entrar nesse partido, vai ser uma confus�o”. J� sabia um pouco sobre ele, por parte da Marina e da Erundina. Depois, vi que o Temer fez um discurso dizendo que o PT e o PMDB n�o iriam mais caminhar juntos. Falei: “Bom, se n�o vai mais caminhar com o PT, � pra l� que tenho que ir, sendo candidata ou n�o”. � o meu lugar, onde quero ajudar a construir um projeto de um novo Brasil.

Esse projeto atraiu a senhora?

Sim. Fui para construir um novo Brasil, porque do jeito que est� e para onde caminha esse governo sem rumo n�o dava para ficar.

Atribuiu-se � senhora a lideran�a do movimento “Volta Lula”, inclusive azedando a rela��o com Dilma. O que � fato e o que � vers�o?
No fim de 2013, era ministra e percebi que a situa��o estava indo muito mal, principalmente a situa��o econ�mica, as trapalhadas. Comecei a achar que teria que ter algo diferente, talvez a Dilma fosse ouvir mais o Lula ou se aproximar mais. Poderia ter uma mudan�a de rumo e de governo, e at� de candidato. Comecei a conversar com Lula e perguntei o que ele sentia, o que estava pensando. Foi quando ele disse que ela era muito dif�cil, que n�o escutava, que o Brasil estava indo para o mau caminho.

Ele falava abertamente?

Abertamente para mim, mas tamb�m para outras pessoas que o procurassem, n�o era segredo. E aquilo come�ou a vazar. Eu continuei a ter essas conversas. Um dia, em janeiro de 2014, falei com ele: “Presidente, a situa��o est� muito ruim e a gente tem que ter atitude”. A� ele falou: “Realmente, est� ruim, os empres�rios est�o se desgarrando, est� uma situa��o dif�cil. E ela continua sem dar a menor trela”. A�, falei: “Se voc� quiser, organizo um jantar com o PIB paulista, o PIB brasileiro, em casa, absolutamente discreto, sem imprensa”. E foi discreto mesmo. O Lula nunca falou na minha frente que era candidato. Agora, ele batia nela e dizia que a pol�tica estava errada. E os empres�rios falavam e ele dizia: “� isso mesmo”. Quando acabava, ele falava mal do Mercadante e todo mundo sa�a e dizia: “Que bom, ele vai ser candidato”.

Era expl�cito isso?
Sim, ficavam todos achando que ele era o candidato, parecia uma campanha. Ficava �bvio. Mas, a�, teve um epis�dio, durante a conven��o: a hist�ria que todos levantaram os crach�s (em maio de 2014). Todo mundo esperava que ele conversasse com ela. A conversa aconteceria tr�s horas antes da conven��o. Achava que naquele momento iria se resolver. Mas a� o vi entrar, parecia que ele tinha levado uma surra. E ela entrou saltitando.

Ela de fato entrou saltitando...
Ela saltitando. E a� foi pior, porque o Rui (Falc�o, presidente do PT) foi fazer um discurso e pediu para as pessoas levantarem os crach�s pela reelei��o dela. Todos levantaram. N�o sei o que eles (Lula e Dilma) conversaram. Um dia, ele me chamou no Instituto Lula e falou que n�o seria candidato: “Agora vamos nos unir, vamos eleger Dilma”. Disse que seria um erro crasso, que o pa�s iria se transformar numa Argentina. A�, ele levantou e disse: “Marta, estamos juntos. Voc� venha participar, vamos reeleg�-la e vai ser um bom governo”. Eu disse: “Estou fora, vou buscar meu caminho”. Nunca mais falei com ele.

Teve conversa mais r�spida com Dilma? Algum desentendimento?

N�o, n�o. Acho que quando Mercadante se aproximou dela houve um afastamento, uma dificuldade na Casa Civil. O projeto de direitos autorais dormiu mais de um ano na gaveta. Mas isso poderia ser palat�vel se o governo mudasse. Isso n�o aconteceu. Quando Lula n�o quis ser candidato, vi que n�o daria certo. N�o faria parte daquilo. Mas nunca tive algo pessoal com ela.

Ficou frustrada quando Lula escolheu Dilma para ser a candidata?

Voc�s n�o me conhecem. Cheguei a brigar com o Sarney para cham�-la de presidenta. Percebi que Lula estava mais � vontade com ela. Afinal, Dilma estava h� oito anos no Planalto, ao lado dele. Ningu�m sabia que seria assim.

E qual � a frustra��o da senhora com Dilma, com o governo dela?
A�, mistura tudo, porque n�o consigo separar a confus�o toda, os desvios de recursos, a m� gest�o, a hist�ria do Conselho da Petrobras, as interven��es que levaram a gente a esta situa��o de crise t�o s�ria, de desestrutura��o da economia. E um pouco tamb�m por ter sido a primeira mulher, de ter tido essa chance t�o especial. Espero que a gest�o dela n�o seja misturada com quest�o de g�nero.

A senhora � citada como poss�vel candidata do PMDB ao Planalto.
N�o ouvi isso. Estou focada em tentar ser candidata a prefeita.

Quando fala da corrup��o sist�mica, consegue separar a gest�o Lula da gest�o Dilma?

N�o tenho esse conhecimento do que eles faziam.

O Lula � uma pessoa honesta?

N�o vou entrar nessa seara. N�o sei. Voc�s n�o entenderam, n�o era todo mundo que participava disso. Nunca fui desse grupo.

A gest�o de Haddad � legado ou ruptura em rela��o � da senhora?
� uma ruptura, uma decep��o, por v�rios motivos. Ele foi eleito pela periferia pobre de S�o Paulo e fez pouqu�ssimo pela periferia pobre de S�o Paulo.

A senhora tinha expectativa de que ele resgatasse a sua gest�o?
N�o a minha gest�o. Tinha esperan�as de que ele resgatasse uma forma de governar mais saud�vel, que tinha dado certo no nosso governo, no qual ele teve uma pequena participa��o, como chefe de gabinete na Secretaria de Finan�as. Ele sabia que tinha dado certo. Mas n�o me chamou para tomar um caf� e discutir qualquer coisa que fosse fazer. Uma falta de vontade de administrar que, �s vezes, at� penso que ele n�o gosta da cidade, de t�o atabalhoada que � a forma de governar.

Como � a sua rela��o com Eduardo Cunha?
Conhe�o-o muito pouco. Fui um dia ao gabinete dele com as senadoras, falar sobre a quest�o das mulheres (a quota de vagas) e ele disse que era contra. Depois, fui convid�-lo para o lan�amento da campanha Mulheres na Pol�tica, na Fiesp. Para nossa surpresa, ele foi. Fez um discurso razo�vel, se comprometeu a p�r para votar e cumpriu. E, depois, quando fui me filiar, fui especificamente para convid�-lo para a filia��o, como presidente da C�mara.

As ideias conservadoras dele n�o batem com o que a senhora defende, as bandeiras LGBT...
Nada. N�o batem nada, ao contr�rio. Por isso, achei que cabia no PMDB: vai de Cunha a gente mais de vanguarda. � o partido onde sinto que caibo.

Cunha tem uma den�ncia grave contra ele.
Tem, como tem em qualquer partido de relev�ncia. Tem contra o PSDB. Acho que s� o PSol n�o deve ter, n�? N�o sei. Mas partido grande, me diga um que n�o tenha. Tem no PSB, com o Bezerra, n�? Todos t�m, n�o passa por a�. A contamina��o � grande na pol�tica brasileira. O que importa � n�s termos uma uni�o diferente do que est� acontecendo. Nunca vivemos um clima t�o s�rio.

Que tipo de uni�o?

Temos que ter uma uni�o baseada numa sa�da para a crise que o Brasil vive hoje, desencadeada pelo governo dela e que assumiu uma propor��o grav�ssima, pol�tica. Depois de eleita, ela n�o reconheceu que tinha levado o pa�s a essa situa��o e que medidas ali seriam necess�rias. Ela n�o tomou as medidas. Pelo discurso de posse, parecia que ela estava morando em outro pa�s. Era um discurso que n�o tocava a realidade. Aquilo foi agravando a situa��o, o problema econ�mico j� antevisto. A desestrutura j� estava feita. Mas a situa��o em que estamos hoje n�o estava imposta. Foi acelerada pelo processo de nega��o. Hoje, vivemos uma crise que � pol�tica, econ�mica, �tica. A crise econ�mica hoje talvez seja a preponderante, porque as ruas est�o quietas, mas come�ou a chegar �s classes C e D. Assim como fomos surpreendidos por um milh�o de pessoas h� um tempo atr�s (2013), acredito que no ano que vem a crise estar� mais s�ria ainda, porque ela (Dilma) perde oportunidades de se colocar como uma l�der e fazer uma proposta decente de uni�o nacional, porque ela n�o apresenta um projeto de na��o. Nas �ltimas semanas, ela ficou reduzida a um projeto de perman�ncia no poder.

A senhora se refere � ministerial?
�, o que ela fez agora na C�mara foi isso.

E n�o adiantou tanto.
E at� foi mais r�pido do que imaginava, porque se voc� n�o pensa o pa�s com grandeza, n�o tem como dar certo. Converso bastante com as pessoas em v�rios lugares. Todas as classes sociais hoje sabem o que � a Lava-Jato. Sabem o que � este toma l� d� c�. E n�o se tolera mais esse tipo de comportamento. Isso � o que a maioria dos pol�ticos n�o compreendeu ainda. Hoje, quem tiver comportamento visando o interesse pessoal rasteiro, apequenado, n�o tem mais como ser aceito pela sociedade brasileira, n�o tem mais como ser aceito um comportamento assim. As pessoas n�o querem mais isso, n�o aceitam mais isso. E ela n�o entendeu isso. O que percebo � que h� um tal desespero, que qualquer coisa � v�lida para se manter no poder.

O que pode acontecer? J� houve a reforma ministerial.

N�o � s� a reforma ministerial. Normalmente, o que os governos fazem com as crises? Eles tentam acolher a crise e sair algo muito leve. L� � o contr�rio: criam a crise. Houve a quest�o da reforma ministerial e agora houve essa interven��o truculenta no TCU. Qualquer pessoa poderia imaginar que aquele tipo de trucul�ncia levaria o esp�rito de corpo a rejeitar as contas. Se eles queriam criar alguma confus�o no meio da sociedade,ou justificar o voto de algum deputado que pudesse dizer que n�o votaria por um impeachment, porque foi algo produzido, conseguiram o oposto. � muita opera��o tabajara junta. � muita incompet�ncia. E a�, quando ela faz a reforma ministerial, se cerca n�o das mesmas pessoas, tem ali alguns perfis diferentes, mas do PT de novo. � incompreens�vel. Ela n�o percebe que n�o tem como dar certo isso.

Mas, desta vez, foi o PT do Lula.
Voc� n�o entendeu. Se h� um governo de coaliz�o, tem que ter � mesa, pelo menos, dois partidos.

Ela n�o deixou Michel Temer trabalhar?
N�o � deixar o Michel trabalhar, � boicotar o trabalho dele. E, depois que o trabalho foi boicotado e ele se viu compelido at� a sair, ela foi negociar com o PMDB jovem, que foi o que falei para o Picciani na minha filia��o, “ou�a os mais velhos”.

Se vier um processo de impeachment, votar� a favor?

� algo bastante s�rio. Nunca tivemos uma situa��o t�o dif�cil para um presidente, porque tem o TSE, o TCU, tem a sociedade indignada, 8% ou 10% de popularidade. � uma situa��o extremamente dif�cil. Dadas as condi��es legais, dificilmente o Congresso n�o acompanha essas condi��es de impeachment. A� � al�m dela. � pelo Brasil, pela possibilidade de a crise n�o durar mais tr�s anos e pela possibilidade de uma uni�o nacional que consiga ter uma lideran�a com credibilidade, porque isso ela n�o tem.

Enxerga essa lideran�a?
N�o, mas vai aparecer. Acho que agora n�o est� vis�vel. Tendo a possibilidade do vice, acho que � uma pessoa que teria essa lideran�a no sentido da credibilidade. Ele conseguiria fazer, pela sua habilidade, uma uni�o nacional para a constru��o de um projeto de sa�da da crise e de desenvolvimento nacional para entregar este pa�s em 2018 para uma elei��o livre, e que a gente possa passar essa turbul�ncia e tomar as medidas que v�o ser necessariamente dif�ceis, isso � um problema. Agora, tomar as medidas do jeito que ela tentou fazer, era como falei, Tabajara. Estava na cara, n�o tinha como dar certo. In�bil, in�bil. Tudo � in�bil, isso que � dif�cil. Falta de habilidade, falta de compet�ncia, falta de escutar, talvez inseguran�a, n�o sei. Aquele mote que o Skaf fez � aquilo mesmo, quem vai pagar o pato � o brasileiro.

A senhora ent�o se inclui nesse Congresso que aprovar� o impeachment?
Sim, se tiver todas as condi��es, n�? Porque acho que � uma decis�o que nenhum senador tomar� facilmente.

A gente v� muito senador petista insatisfeito, outros v�o sair do PT?

O PT tende a perder mais senadores e a eleger menos senadores.

Qual o tamanho do PT hoje?
O partido encolheu enormemente, est� muito contaminado e vai levar muito tempo para ocorrer uma recupera��o, se conseguir ocorrer. Acho muito dif�cil.

E o PMDB? Que discurso diferente tem a oferecer, uma vez que est� com os dois p�s no governo?
O PMDB, na sua hist�ria, sempre foi um partido que pensou o pa�s e defendeu a democracia. Essa � a grandeza do PMDB como marca. E, dentro desse quadro, que � o DNA dele, acredito que o PMDB tem condi��es de desenvolver um projeto. Tem quadros e tem a pol�tica adequada de conversa e de agregar. E o PT n�o tem. Ent�o, ou isso muda dentro do PT ou ele n�o vai conseguir se recuperar.

Nas vota��es pol�micas, como as relacionadas � mulher, a ala conservadora do PMDB vai ajudar?
Ainda n�o conhe�o bem. O que conhe�o � a posi��o do Cunha e dos evang�licos, que n�o s�o PMDB. Ele n�o est� sozinho nisso, h� uma onda conservadora e gostaria que fosse uma onda, porque, onda flui, n�? Mas h� no mundo todo esse comportamento. E no Brasil, a express�o m�xima, pela sua visibilidade e pelo cargo que ocupa, � o Cunha. Mas a gente n�o pode confundir as posi��es dele com as posi��es do PMDB. E essa for�a que ele tem nesse conservadorismo n�o vem do PMDB. Vem desta jun��o de posi��es mais conservadoras que o apoiam no quesito comportamento, e n�o o apoiam de outro jeito. Na corrup��o, n�o posso nem falar, porque ainda n�o foi julgado. Mas, nessa quest�o, talvez religiosa-ideol�gica, ele conseguiu um apoio fechado.

Regredimos nestes temas?
Muito. Aqui no Senado, inclusive, onde n�o tem Cunha, regredimos. Na quest�o da homofobia. Fui para o minist�rio e a quest�o da homofobia acabou integrada no C�digo Penal. Quando voltei, falei com Pedro Taques e perguntei o que havia acontecido. Ele respondeu, “ah, n�o passava”. Falei com o Vital do R�go, que virou relator na CCJ. O relat�rio dele estava igualzinho ao do Pedro Taques. Fiz oito emendas colocando tudo de novo. V�rios senadores fizeram. Vital ia votar e percebeu que havia muita confus�o. E ele estava para ser nomeado (para o TCU). Ent�o, suspendeu tudo e est� l� quietinho.

A que atribui essa onda conservadora?
A hist�ria caminha dessa forma. Tivemos momentos mais libert�rios at� em s�culos passados. A grande novidade � o papa. E isso � muito interessante. N�o que ele v� mudar os dogmas, mas pode abrir um espa�o para, daqui a algumas d�cadas, isso ocorrer. Pelo que percebo dele, � extremamente h�bil.

O ministro Edinho Silva disse que h� preconceito em rela��o � presidente. A senhora concorda?
N�o creio, mas n�o saberia dizer. Sempre essa explica��o � boa e f�cil. Teria que ter uma pesquisa. N�o acho que as pessoas dizem “ela � incompetente porque � mulher”. As pessoas votaram nela achando que era muito competente sendo mulher. Foi uma das coisas que melhorou no Brasil. As pessoas n�o t�m mais esse preconceito.

Mulher tem que ser brava para governar? Dilma vive dizendo: “Os homens s�o meigos”.
Gosto dessa frase dela, foi uma boa tirada, mas acho que as pessoas t�m que ter personalidade, n�o � querer ser desse jeito ou daquele. N�o � isso que imp�e, na verdade. O que imp�e � as pessoas saberem que voc� sabe o que est� fazendo. A�, acho que a equipe te respeita.

Seu ingresso na pol�tica se deve a Eduardo Suplicy?
Por conta dele est� o interesse, porque era mulher de pol�tico, fiz todas as campanhas dele. Ele foi uma pessoa importante para minha entrada na pol�tica. � um homem honesto, respeitado. Claro que foi um b�nus, mas se n�o tivesse tido o trabalho de televis�o n�o teria sido eleita, tanto � que o irm�o dele n�o se elegeu. Sempre tive a minha identidade separada da dele, mas, naquele momento, ele foi uma pessoa importante.

A separa��o atrapalhou?

Sim, voc� j� viu algu�m ser eleita e declarar que vai se separar? Homem n�o faz isso, fica l�, tem at� outra fam�lia, mas n�o se separa. Separei-me em fevereiro, depois que fui eleita. Foi um esc�ndalo. Sempre falo: fa�o na frente e pago o pre�o.

Com derrotas no STF, no TCU e no TST, foi uma semana dific�lima para o governo. O que pode acontecer?

� um momento de crise aguda, ela nunca se viu t�o acuada.

E tem a quest�o do pedido de impeachment na C�mara.
Ela nunca se viu em situa��o igual. O jogo que ela tentou jogar, equivocadamente, deu errado. N�s temos uma situa��o de enorme impasse.

O cerco est� se fechando?
N�o, prefiro dizer o que falei mesmo: temos uma situa��o de enorme impasse, ela nunca viveu situa��o igual. N�o vejo muitas possibilidades. Porque, inclusive, � um momento em que se tem que ter grandeza, que se tem que pensar no pa�s. N�o se pode mais pensar s� em se manter no poder. Esgotaram-se as possibilidades. Agora, temos que pensar que o Brasil � maior e est� sofrendo muito.

A senhora est� sugerindo a ren�ncia?
Tive cuidado para n�o usar essa palavra. N�o quero usar.

Mercadante falou em golpe, disse que as crises passam, mas os efeitos do golpismo, n�o.
� tudo uma tentativa, atrav�s de palavras, de justificar o que se delineia cada vez mais como o caminho que est� tomando a situa��o. Ent�o, tentam dizer que � golpismo, tentativa de nova elei��o. Tentam conturbar o cen�rio para ver se confundem a popula��o em rela��o � realidade do que est� ocorrendo. N�o se v� uma mudan�a que poderia ter ocorrido, um minist�rio de alto n�vel, com ilustres brasileiros, que fossem chamados n�o s� para ficar nos minist�rios, mas para pensar um projeto de reestrutura��o econ�mica do Brasil. Que a presidente pudesse ir para a televis�o e dizer: n�s n�o conseguimos acertar at� agora, mas vamos fazer isso e aquilo, com come�o, meio e fim, com clareza, que as pessoas pudessem ser part�cipes, porque isso vai exigir sacrif�cios, n�o temos nenhuma d�vida. Ent�o, a sociedade tem que estar junto nisso. N�o se pode chegar e tirar um saquinho de bondade e de maldade e achar que as pessoas v�o participar. N�o � assim, esse foi um engano desde o come�o. Ser levada a entender o processo, a ouvir um mea-culpa, ouvir uma proposta e que queiram te escutar, ter uma mudan�a radical de quem est� l� em cima decidindo, com uma coaliz�o de verdade. Os partidos todos est�o maduros para dar as m�os e pensar o Brasil. Sem isso, voc� n�o vai pra frente. Ela (Dilma) n�o foi capaz disso.

E ainda h� tempo?

N�o tenho ideia, a pol�tica � muito imprevis�vel. Voc� podia achar que estava madura a situa��o tr�s meses atr�s, quando teve uma mudan�a radical. Ela n�o aproveitou v�rias deixas, como a do Renan (Calheiros, presidente do Senado), que veio com a Agenda Brasil. Ela podia ter aproveitado essa trilha a�, come�ar a pensar de outra forma. Mas nada � aproveitado. Mexe, faz acordos e mant�m o c�rculo petista de cinco pessoas do lado. Na verdade, n�o teve mudan�a. N�o consegue pensar grande, pensar o Brasil, pensar o novo. N�o � mais uma quest�o de ajuste, � uma quest�o estrutural, porque n�s chegamos a uma condi��o estrutural de desacerto. Isso s� se faz com uni�o nacional, n�o se faz com o pequeno, n�o se faz s� com o PT. O PMDB � o partido que tem condi��o de fazer essa grande coaliz�o.

A TV Mulher mudou minha vida
Nasci em S�o Paulo, meu pai era industrial e minha m�e, dona de casa. S� fez faculdade aos 50 anos, estimulada pelos filhos. Eu nasci pra casar e ter filhos, provavelmente com o filho de algum companheiro de polo do meu pai. Ningu�m tinha expectativa em rela��o a mim, mas minha m�e, de certa forma, tinha um pouco mais. Ela achava que a mulher tinha que ter independ�ncia, acho que, por causa da situa��o de submiss�o em rela��o ao meu pai. Fui a primeira da turma do Sion a ir pra faculdade. Casei-me muito jovem. Aos 20 anos, fui morar nos Estados Unidos. J� era meio rebelde e achava que estudar ingl�s era coisa muito capitalista, estudei franc�s e italiano. Fiz meu mestrado l�. Quando voltei, falava muito bem o ingl�s e tinha uma forma��o em sexologia e terapia de casal, tive a sorte de estar em Stanford , que era o centro onde isso come�ou. Tamb�m tinha uma forma��o em terapia comportamental, mas, quando vi que isso n�o tinha muito a ver com os problemas que estava lidando no consult�rio, procurei a psican�lise. Entrei na Sociedade de Psican�lise, onde fiz toda a minha forma��o e estou at� hoje. Logo depois, fui convidada para fazer um programa sobre sexualidade na TV Globo. J� escrevia sobre esse tema para as revistas Cl�udia e Vogue. A TV Mulher foi um programa que revolucionou a condi��o da mulher. Nele, aprendi muito sobre as diferen�as do Brasil.


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