Bras�lia – Com a abertura oficial do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, chegou a hora dos dois ex�rcitos –os aliados e os advers�rios – da petista come�arem a tra�ar as estrat�gias pol�ticas para ver quem sobrevive no final da disputa. O primeiro embate ocorreu nesse domingo, quando defensores do afastamento da presidente foram �s ruas manifestar contra o governo. Apesar da tend�ncia de uma batalha mais morna nas pra�as e avenidas do pa�s neste momento, por causa, sobretudo, das festas de fim de ano, a guerra pol�tica j� foi iniciada e cada time escolheu seus interlocutores de confian�a.
Mas isso n�o significa um apoio incondicional ao impeachment a partir de agora. “Se h� quem ache que a presidente n�o tem mais condi��es de conduzir um di�logo para tirar o pa�s da atual paralisia, tamb�m existem aqueles que temem o depois, por n�o saber o que acontecer� ao Brasil”, ponderou Melo. Todos os cen�rios, inclusive, s�o nebulosos. Se Dilma conseguir sobreviver, dificilmente conseguir� um placar pr�ximo dos 300 votos favor�veis. “Escapa do impeachment, � verdade, mas a vota��o pr�xima dos 171 votos m�nimos necess�rios a impede de aprovar mat�rias com quorum qualificado.”
Caso a presidente caia e o vice-presidente Michel Temer assuma o Planalto, poder� at� ter um per�odo de tr�gua com a m�dia. Mas a crise econ�mica vai continuar. “Temer tamb�m enfrentar� uma oposi��o feroz, formada pelo PT e pelos movimentos sociais. A vida dele n�o ser� f�cil”, completou Melo. “Por tudo isso, o setor produtivo ainda n�o se posicionou com convic��o quanto a esse debate”, acrescentou o cientista pol�tico do Insper.
O PMDB tamb�m � outro fator que poder� desequilibrar a disputa, embora o PMDB sempre seja marcado por ser uma legenda que jamais est� unida em torno de um mesmo ideal. O partido tem a tradi��o de sempre manter um p� em cada canoa para evitar naufr�gios. “Somos uma federa��o de caciques que usam como querem as pr�prias aldeias. E, quanto mais fortes forem essas aldeias, mais poder de influ�ncia os caciques ter�o no comando central da legenda”, explicitou uma lideran�a expressiva do partido.
O presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), j� se posicionou claramente a favor do afastamento da presidente. Na semana que passou, ganhou o aux�lio luxuoso do vice-presidente Michel Temer que, se por um lado afirmou � Dilma que n�o far� gestos para desestabiliz�-la nem ao governo, por outro n�o interferir� nos rumos que o partido tomar� daqui para a frente. O PMDB do Senado, por exemplo, � mais pr�ximo do Planalto. “N�o somos a favor do governo, somos a favor do pa�s. Por isso, queremos aprovar mat�rias que sejam importantes para nos tirar dessa crise econ�mica”, afirmou o l�der do PMDB no Senado, Eun�cio Oliveira (CE).
Abandonar o barco
Na avalia��o do mestre em ci�ncia pol�tica Lucas de Arag�o, PMDB, PP, PR e PSD s�o a legendas mais suscept�veis a abandonar o PT. “S�o partidos que formam a base aliada meio cinzenta porque n�o tem ideologia definida. Se virem que um governo do PMDB depois pode dar certo com certeza v�o mudar de lado”, afirmou o tamb�m s�cio-diretor da consultoria Arko Advice.
Existe tamb�m a imponderabilidade quanto ao peso das manifesta��es de rua no processo de impeachment. Se os favor�veis ao afastamento da presidente mostraram grande poder de mobiliza��o ao longo de 2015 e os movimentos sociais ligados ao PT tamb�m se organizaram para n�o demonstrar que Dilma est� fr�gil, o cen�rio � muito distinto em rela��o aos cara-pintadas de 1992. “Aquelas manifesta��es de rua uniram o pa�s. As de agora n�o, v�o dividir. O PT � um partido enraizado na sociedade e h�, por parte de outra parcela expressiva da popula��o, uma grande sentimento de insatisfa��o com a presidente”, declarou Carlos Melo.
A ades�o �s manifesta��es de ontem s�o um term�metro tamb�m para a defini��o de estrat�gias dos movimentos pr�-impeachment. O Movimento Brasil Livre (MBL) aguarda essa avalia��o para definir a data da pr�xima grande mobiliza��o, mas j� foi decidido que n�o ser� em dezembro por ser um m�s mais esvaziado do ponto de vista pol�tico. Tamb�m est� indefinido se o grupo ir� retomar o acampamento em frente ao Congresso, onde esteve em outubro e novembro.
J� os movimentos ligados ao Planalto se reuniram com o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, na �ltima quinta-feira, para cobrar reivindica��es da �rea social, como avan�os nas medidas previstas no Plano Nacional da Educa��o (PNE), na reforma agr�ria, seguran�a da manuten��o do Minha casa, minha vida e retirada do regime de urg�ncia do projeto de lei antiterrorismo. A presidente da Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, nega que atender � essas demandas seja uma condicionante de apoio. “S�o pautas cotidianas, n�o condi��es de apoio � presidente Dilma na luta contra o golpe”, disse. O encontro foi uma pr�via para reuni�o com a presidente, que pode ocorrer na pr�xima quinta-feira.