
Ao assumir o comando do pa�s, em 2011, a presidente Dilma Rousseff se transformou na gerentona do Brasil. Logo, aquela imagem de mulher forte, faxineira que viria fazer boas mudan�as, ganhou forma. Dilma seria a respons�vel por limpar o governo. E o fez. Em dois anos e quatro meses, bateu recorde trocando 21 ministros: oito no primeiro ano, oito no segundo e cinco nos primeiros meses do terceiro ano. Um ter�o dos chefes de estado caiu ap�s den�ncias de envolvimento em corrup��o. Por�m, algo mudou. Apesar das �ltimas den�ncias envolvendo ministros, Dilma os mant�m pr�ximos e com cargos importantes no executivo. A austera gerentona que limpava o governo ficou no passado.
Noutra frente, apareceram den�ncias de que o ministro da Secretaria de Comunica��o, Edinho Silva — que era coordenador financeiro da campanha da presidente, tamb�m mantinha rela��o pol�tica com Pinheiro. Eles teriam trocado mensagens entre 2012 e 2014 para combinar doa��es para a campanha da presidenta � reelei��o. Em defesa, Edinho repete que as rela��es com empreiteiros se deram “de forma transparente e dentro da legalidade” e ainda que foram “doa��es legais”. Jaques tamb�m rebate alegando ter “absoluta serenidade quanto �s a��es e permanece � inteira disposi��o do (MPF) Minist�rio P�blico Federal e da Justi�a para quaisquer esclarecimentos”, defendeu-se em publica��o nas redes sociais.
Especialistas classificam a mudan�a de comportamento como uma maneira de se adequar � pol�tica brasileira. “Dilma precisa fazer a velha pol�tica para conseguir governar. Aquela fase da faxina foi muito curta porque era invi�vel. At� mesmo o ex-presidente Lula a aconselhou a n�o fazer mais isso e a conviver com a pol�tica com todos os males que ela possui. O fato de existirem ministros envolvidos na Lava-Jato, mas forte nos partidos fazem com que a presidente tenha que engoli-los e a conviver com eles”, explicou um economista e analista pol�tico que preferiu n�o se identificar.
MARKETING Cr�tico ferrenho ao governo, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) rebate, inclusive, a vericidade da fama de faxineira da presidente. “Ela nunca foi gerentona, aquilo era tudo jogada de marketing. Ela demitiu, mas pouco tempo depois estava aos beijos e abra�os com todos que tinha colocado sob suspei��o em v�rios minist�rios. Essa opera��o, como outras no governo dela, tem muito de farol”, criticou. Para outro cientista pol�tico, Dilma ficou ref�m das “for�as que est�o sob holofotes”. “A cada dia descobrem mais desvios de conduta e ela n�o tem como contornar para desvencilhar desse povo pois o pre�o � muito alto. Por isso, ela os t�m mantido no governo. Dilma � v�tima das pr�prias a��es”, analisou, esclarecendo que a presidente criou mais mecanismos de fiscaliza��o no governo dela.
“Ela criou a lei de responsabiliza��o de pessoa jur�dica, a lei de combate ao crime organizado com dela��o premiada, a lei de combate a lavagem de dinheiro, a lei de transpar�ncia que obriga estados e munic�pios a disponibilizar em tempo real seus gastos, etc. Essas leis jogaram luzes sobre o governo e se descobriu uma s�rie de desvios de conduta na gest�o dela em fun��o dessa maior transpar�ncia. Assim, recaiu a conven��o de que � respons�vel por essa ‘degrada��o moral’”. “Criou-se os instrumentos que chegam a essas pessoas, mas as condi��es pol�ticas dela n�o s�o confort�veis e suficientes para abrir m�o dessas pessoas porque isso � mais problema para ela, que est� sem base pol�tica”, explicou.
Um dos respons�veis por investigar os desvios na Petrobras na CPI instaurada na C�mara, o relator Luiz S�rgio (PT-RJ) defendeu as mudan�a no comportamento da presidente como medidas de cautela. “Sempre existiu financiamento privado no Brasil e ningu�m sai oferecendo nada. As pessoas tem que, no m�nimo, pedir. E pedir n�o � crime, se encontrar n�o � crime. H� uma a��o muito forte para criminalizar a campanha como um todo, a pol�tica como um todo. N�o se pode sair condenando as pessoas por algo que ainda n�o tenha uma materialidade que aponte como sendo a��o de crime”, argumentou.
Os casos
Confira os ministros demitidos no primeiro mandato de Dilma e os do segundo mandato que se mant�m
no cargo, apesar das den�ncias contra eles
PRIMEIRO MANDATO
Antonio Palocci, Casa Civil
Bra�o direito da presidente Dilma Rousseff no in�cio do primeiro mandato, deixou a Casa Civil em 8 de junho de 2011 ap�s uma s�rie de den�ncias sobre sua evolu��o patrimonial. Ele saiu do governo mesmo depois do arquivamento das acusa��es por considerar sua perman�ncia “insustent�vel”. Em seu lugar, assumiu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Alfredo Nascimento, Transportes
Menos de um m�s ap�s a sa�da de Palocci, a presidente assinava a segunda demiss�o: Alfredo Nascimento deixou o cargo ap�s den�ncias sobre um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A crise se agravou ao aparecerem suspeitas de que o filho do ministro teria enriquecido ilicitamente em raz�o do cargo do pai. Nascimento, ent�o, decidiu deixar o governo com pedido de demiss�o “em car�ter irrevog�vel”. Assumiu Paulo S�rgio.
Wagner Rossi, Agricultura
Ap�s mat�ria publicada pelo Estado de Minas/Correio Braziliense mostrando que o ministro e um de seus filhos – o ent�o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP) – viajaram em avi�o emprestado por uma empresa do ramo do agroneg�cio com interesses na pasta, o ministro deixou o cargo. Em nota, o ministro admitia ter usado o jatinho “raras vezes”. No lugar de Rossi, assumiu Mendes Ribeiro Filho.
Pedro Novais, Turismo
A situa��o de Pedro Novais ficou insustent�vel ap�s den�ncia de que mulher dele, Maria Helena de Melo, usou irregularmente um funcion�rio da C�mara como motorista particular. Antes, o ministro j� havia se desgastado com den�ncias de que pagou sua governanta pessoal com sal�rio da C�mara durante os sete anos em que foi deputado federal. A mulher, que trabalhava na casa do ministro, recebia como secret�ria parlamentar. Com a sa�da, Gast�o Vieira assumiu a pasta.
Orlando Silva, Esporte
Acusado pelo ent�o policial militar Jo�o Dias Ferreira de receber dinheiro vivo na garagem do Minist�rio do Esporte, no fim de 2008, Orlando Silva tamb�m “pediu” para sair. A quantia faria parte do programa Segundo Tempo, que destinava verbas a ONGs com o intuito de incentivar a pr�tica esportiva entre jovens. O esquema teria desviado R$ 40 milh�es em oito anos. Ao deixar o governo, Silva alegou ter sofrido “linchamento pol�tico”. Assumiu a pasta Aldo Rebelo.
M�rio Negromonte, Cidades
Ap�s um ano e um m�s no cargo, M�rio Negromonte saiu depois de uma s�rie de den�ncias, entre elas, a de que funcion�rios da pasta foram pressionados a mudar um parecer t�cnico que acabou triplicando o valor de uma obra no sistema de transporte de Cuiab�, em Mato Grosso, para a Copa de 2014. Ele negou a den�ncia. Assumiu Aguinaldo Ribeiro.
Carlos Lupi, Trabalho e Emprego
Era um domingo do segundo ano de mandato da presidente Dilma Rousseff quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, entregou o pedido de demiss�o. Na semana anterior, Dilma dera indica��o de que bateria o martelo sobre o futuro de Lupi na segunda-feira seguinte. Ele havia recebido den�ncia de que haveria um esquema de cobran�a de propina de ONGs contratadas para capacitar trabalhadores. Ao sair, afirmou ter sofrido “persegui��o pol�tica”. Brizola Neto assumiu a pasta.
SEGUNDO MANDATO
Henrique Eduardo Alves, Turismo
Inicialmente investigado pela Opera��o Lava-Jato, o ex-presidente da C�mara teve pedido de apura��o arquivado pelo procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, em mar�o do ano passado, por considerar n�o haver ind�cios de envolvimento dele com as den�ncias. Oito meses ap�s ser nomeado ministro de Turismo, a Pol�cia Federal cumpriu mandado de busca e apreens�o no apartamento dele, em Natal. Em nota, o ministro diz-se “surpreso”. “Estou, como sempre, � disposi��o para prestar esclarecimento.”
Celso Pansera, Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o
Apontado pelo doleiro Alberto Youssef – um dos delatores do esquema de corrup��o investigado pela Lava-Jato – como “pau mandado” do presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Pansera foi um dos alvos da Opera��o Catilin�rias, da Pol�cia Federal, em dezembro passado. Em nota, o ministro manifestou “pleno interesse no esclarecimento dos fatos sob investiga��o” e se colocou � “disposi��o”.
Aloizio Mercadante, Educa��o
Em setembro passado, o ministro Celso de Mello, do STF, autorizou a abertura de inqu�rito para investigar o ent�o chefe da Casa Civil e atual ministro da Educa��o por suposta pr�tica de crime eleitoral de falsidade ideol�gica. O ministro confirmou ter recebido dois pagamentos de R$ 250 mil, da UTC e da Constran, para sua campanha, em 2010, ao governo de S�o Paulo. Ele afirma que o dinheiro foi recebido de forma legal e declarado � Justi�a Eleitoral.
Edinho Silva, Comunica��o Social
Desde setembro passado, o ministro responde a inqu�rito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de participa��o nos crimes apurados pela Lava-Jato. Ele se tornou alvo com base na dela��o premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que declarou ter recebido de Edinho, � �poca tesoureiro da campanha de Dilma, pedido de repasse financeiro para a campanha. Ele nega a press�o.
Jaques Wagner, Casa Civil
Investigadores da Opera��o Lava-Jato interceptaram mensagens de telefone que apontam rela��o do ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, com o ex-presidente da OAS Jos� Adelm�rio Pinheiro, conhecido como L�o Pinheiro, um dos condenados por esquema de corrup��o da Petrobras. A suspeita � que as conversas entre os dois ocorreram no segundo mandato dele como governador para tratarem de doa��es de campanha para disputar a prefeitura de Salvador. Ele nega.