A crise pol�tica ganha tons cada vez mais fortes, mas personagens de peso deste cen�rio t�m adicionado ingredientes novos que v�o desde a ingenuidade at� descuidos imperdo�veis para quem est� em uma guerra. As �ltimas semanas teve de tudo um pouco, desde grava��o telef�nica do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff na intercepta��o autorizada pelo juiz da 13ª Vara da Justi�a Federal de Curitiba (PR) S�rgio Moro, divulgada por ele sem que percebesse sua incompet�ncia jurisdicional para isso, at� o flagra na mensagem que a ministra da Agricultura, K�tia Abreu, enviava para companheiros de partido, quando seu PMDB resolveu desembarcar do governo. E teve mais. At� mesmo o reservado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Lu�s Roberto Barroso, criticou em p�blico o PMDB, lamentando ser a �nica alternativa de poder, caso passasse o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aliados de Dilma, que tenta respirar mesmo sendo o epicentro da crise, tamb�m fizeram das suas. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) ao sair em defesa da petista e de Lula, cometeu um ato falho e retirou Dilma antecipadamente do Executivo.

As sucess�es de gafes e trapalhadas ficaram mais em evid�ncia a partir de 16 de mar�o, quando o ex-petista e l�der do governo no Senado Delc�dio do Amaral, delator da Opera��o Lava-Jato, entregou ao Minist�rio P�blico uma grava��o, em que o companheiro de partido, Alo�sio Mercadante, oferecia ajuda � fam�lia do senador preso. Segundo Delc�dio, a ajuda era para evitar que ele aceitasse colaborar com a for�a-tarefa do Minist�rio P�blico Federal e o juiz S�rgio Moro, preservando o partido de mais problemas. Mercadante reagiu e disse que tudo foi apenas uma ajuda para um companheiro. Vers�es a parte, o caso acabou sendo sobreposto com a divulga��o, 24 horas depois, de grava��o de uma conversa entre a presidente Dilma e o seu antecessor Lula.
Desculpa
O juiz S�rgio Moro, que preside as a��es referentes �s investiga��es da Lava-Jato, havia autorizado a intercepta��o do telefone de Lula. O di�logo com a presidente Dilma e que foi interceptado ocorreu depois que Moro j� tinha determinado a imediata interrup��o das grava��es. Ainda assim, o juiz disse que liberou o conte�do devido � previs�o legal de “dar publicidade ao processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista jur�dico e criminal do investigado do ex-Presidente Luiz In�cio Lula da Silva que podem eventualmente caracterizar obstru��o � Justi�a ou tentativas de obstru��o � Justi�a”.
O resultado foi uma corrida ao STF para suspender a posse de Lula e ainda uma saraivada de cr�ticas a Moro, por parte dos apoiadores da presidente. Dias depois, ao ser criticado por v�rios ministros da Corte, entre eles Teori Zavascki, relator das a��es de pessoas com foro privilegiado da Lava-Jato, Moro admitiu a trapalhada. Pediu “respeitosas escusas” � Corte pelas consequ�ncias da retida do sigilo das escutas telef�nicas envolvendo Lula e autoridades. Ele reafirmou que a divulga��o n�o objetivou “gerar fato pol�tico-partid�rio, pol�micas ou conflitos”. Como resultado, o STF retirou de Moro a compet�ncia de continuar investigando Lula e outras autoridades.
SONHO Com o enfraquecimento da base de apoio de Dilma, o PMDB – ent�o maior partido da base aliada do governo e tamb�m com a maior bancada na C�mara – come�ou a sonhar com a cadeira da Presid�ncia, tendo como l�der o vice-presidente Michael Temer. Para garantir o impeachment, o PMDB resolveu desembarcar o governo petista, mesmo com a sigla se beneficiando do comando de sete minist�rios. Mas, como sempre, o PMDB estava dividido. No dia seguinte � decis�o, a ministra da Agricultura, K�tia Abreu, se rebelou e disse que se manteria ao lado de Dilma.
A confirma��o veio durante a cerim�nia de lan�amento da terceira fase do programa Minha casa minha vida, no Pal�cio do Planalto, ao lado da presidente. Ela enviou mensagens por celular nas quais afirma que ela e os outros cinco ministros do partido decidiram n�o deixar seus cargos no governo. No texto flagrado pela imprensa, ela afirma que a decis�o foi tomada “ontem a noite” e cita o local: “casa de Renan”, numa refer�ncia � resid�ncia oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que se coloca cauteloso em rela��o ao impeachment.
SINCERIDADE E nesta onda de ver o PMDB se organizando para assumir o governo, at� mesmo o ministro do Supremo, abandonou a venda da Justi�a e afirmou que o pa�s enfrenta falta de alternativa pol�tica e citou o PMDB. “Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as m�os, eu olhei e: Meu Deus do c�u! Essa � a nossa alternativa de poder. Eu n�o vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando”, disse o ministro Lu�s Carlos Barroso, durante palestra em S�o Paulo. Ele fazia refer�ncia � foto de lideran�as do PMDB, na qual estavam o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o ex-ministro Eliseu Padilha (Avia��o Civil), entre outros.
Barroso conversava com alunos da Funda��o Lemann, em S�o Paulo, e, bem que tentou amenizar o teor de suas declara��es, deixando claro que falava como em um ambiente acad�mico, como se estivesse falando com seus alunos. O ministro n�o sabia que o evento estava sendo transmitido pelo sistema interno do Supremo e, ap�s ser alertado, pediu para n�o gravar mais. Era tarde demais.
Fato � que de grava��o em grava��o, a Rep�blica vai tremendo e comprometendo os desavisados, como o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que integra a comiss�o especial na C�mara para an�lise do impeachment da presidente. Ao sair em defesa da petista e Lula, disse: “A alus�o feita aqui de maneira injuriosa ao ex-presidente Lula e � ex-...”. N�o completou a frase. Nem precisava. Sua cara de constrangimento foi suficiente para provocar ir�nicas rea��es de seus companheiros de comiss�o pr�-impeachment.