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Estado de Minas

Fascinado por grandes l�deres, Temer quer enterrar narrativa de conspirador


postado em 12/05/2016 10:31 / atualizado em 12/05/2016 10:57

O presidente em exercício Michel Temer(foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
O presidente em exerc�cio Michel Temer (foto: Marcelo Camargo/ Ag�ncia Brasil)
S�o Paulo - A biografia da czarina Catarina, a Grande, considerada modernizadora do Imp�rio Russo, foi uma das �ltimas leituras do vice-presidente Michel Temer antes de sua agenda ser dominada pela transi��o de governo. Amigos contam que ele ficou fascinado com a narrativa dos 34 anos em que ela governou e promoveu uma profunda reforma na administra��o russa. Antes, leu as biografias de Winston Churchill, pol�tico conservador e estadista brit�nico, e de Franklin Roosevelt, 32º presidente dos EUA.

Temer adora hist�rias de estadistas e lia muito at� o acirramento da crise pol�tica que culminou com a vota��o do impeachment na C�mara. Desde ent�o, sua maior preocupa��o, segundo amigos e aliados, � com a pr�pria biografia.

Ele estava cercado pelo mais �ntimo c�rculo de colaboradores em sua casa de dois andares, em Pinheiros, na capital paulista, quando a presidente Dilma Rousseff afirmou, em entrevista um dia ap�s a vota��o da admissibilidade do impeachment na C�mara, que era "estarrecedor" ver um vice-presidente no exerc�cio de seu mandato conspirando "abertamente".

A presidente j� tinha batido nessa tecla alguns dias antes. Temer cogitou dar uma resposta dura para "defender sua honra", mas recuou. "Eu nunca vi o Michel t�o irritado como nessas falas da Dilma", conta um amigo com tr�nsito pelos quatro "gabinetes de transi��o" - o Pal�cio do Jaburu, resid�ncia oficial em Bras�lia, e tr�s escrit�rios em S�o Paulo (um do PMDB, outro pessoal e sua casa).

A narrativa que Temer e seu grupo esperam deixar para a hist�ria tem um eixo central. "N�o resta d�vida de que foi a presidente Dilma quem empurrou Michel para o isolamento e, na sequ�ncia, para a oposi��o. Ele passou os primeiros quatro anos queimando cr�dito com o PMDB. No mandato seguinte ela prometeu que seria diferente e que o partido teria melhores espa�os, mas isso n�o aconteceu", diz o deputado L�cio Vieira Lima (PMDB-BA), um dos principais l�deres do impeachment na C�mara.

O ex-ministro Moreira Franco, interlocutor e amigo de Temer, avalia que o PT sempre adotou a estrat�gia de aproveitar que o PMDB n�o tem dono. "Acharam que poderiam aproveitar isso para acirrar a divis�o entre os grupos da C�mara e do Senado, do Michel e do Renan. (O isolamento) come�ou j� na campanha de 2010. N�s prev�amos que aquele tipo de tratamento iria gerar consequ�ncias. E gerou", diz.

A inflex�o de 2010 se consolidou no primeiro mandato de Dilma, mas parecia ter terminado em abril de 2015, quando assumiu a articula��o pol�tica do governo.

Antes de aceitar o convite, Temer e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) tiveram conversa reservada com Dilma. Coube ao paraense dizer que o PMDB sempre teve problemas com o governo. Ele ressaltou que o vice n�o poderia ser demitido e exigiu amplos poderes para sua atua��o no Congresso.

Aceitas as condi��es, Temer foi a campo. "Ele aprovou as pautas do governo e cumpriu sua miss�o. Mas, depois das articula��es feitas na C�mara, a Casa Civil n�o cumpriu os acordos feitos com deputados. Em pol�tica a palavra � ferramenta importante. N�o faltou caneta para Temer, faltou lastro", diz Moreira Franco.

At� governistas reconhecem que o peemedebista foi bem-sucedido na tarefa. "Michel foi um bom articulador pol�tico, um dos per�odos em que mais se aprovaram mat�rias do governo", reconhece o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), um dos vice-l�deres do governo Dilma na C�mara.

O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva tentou impedir o rompimento, mas foi vencido pelo cansa�o. A �ltima conversa entre eles aconteceu no fim de mar�o, na base �rea de Bras�lia, e terminou com um desabafo.

Temer estava irritado com a decis�o da presidente de convidar, dez dias antes, o peemedebista Mauro Lopes para a Secretaria de Avia��o Civil, apesar de resolu��o do PMDB ter determinado que seus filiados devessem ficar fora do governo por 30 dias.

O parlamentar foi nomeado na mesma cerim�nia na qual Lula assumiu a Casa Civil. Um dia antes, Temer procurou Lula e o alertou sobre a gravidade da decis�o. O ex-presidente prometeu que resolveria a situa��o, o que n�o aconteceu.

Como retalia��o, Temer n�o foi � posse e cortou comunica��o com Lula at� o encontro da base a�rea, que aconteceu depois de muita insist�ncia do petista. O di�logo durou cerca de 40 minutos. "A presidente n�o ouve ningu�m, nem o senhor. O senhor est� aqui me escutando h� algum tempo, mas com ela n�o consigo terminar sequer uma frase", disse Temer.

Lula insistiu que tentaria mudar a situa��o. Eles ficaram de se falar novamente, mas isso nunca aconteceu. O movimento pelo impeachment j� era irrevers�vel.

Adapta��o

Michel Miguel Elias Temer Lulia, de 75 anos, � um pol�tico com fama de conciliador. Pelo menos � assim que o v� o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Conhe�o Michel h� muito tempo", escreve FHC no livro Di�rios da Presid�ncia - 1995-1996, contando que, em 1995, ao montar sua base de apoio no Congresso, teve em Temer figura fundamental.

"Ele entrou no PMDB por meu interm�dio", afirma FHC no livro, referindo-se ao ex-procurador de Justi�a que dele se aproximou quando o PSDB ainda nem existia - ambos eram do PMDB.

Nos primeiros meses do primeiro mandato, como relata no livro, FHC teve em Temer suporte de articulador em quest�es relevantes. A boa rela��o com o ent�o presidente da Rep�blica aparece quando FHC lembra que mantinha linha direta com Temer, que se tornou l�der do PMDB e depois presidente da C�mara. Em troca do apoio, segundo o pr�prio FHC, Temer trabalhou afinado com o chefe do Executivo.

Recentemente, quando Temer passou ao enfrentamento com Dilma Rousseff, o pr�prio vice deixou claro que a companheira de chapa e de Pal�cio n�o lhe dera sequer parcela do prest�gio que ele tivera com FHC.

Temer foi presidente da C�mara dos Deputados por tr�s mandatos (1997-1999, 1999-2001 e 2009-2010), eleito em seis mandatos e apontado em 2009 pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como parlamentar mais influente do Congresso. Presidente do PMDB desde 2001, foi chamado por Lula para compor a chapa com Dilma em 2010.

J� na primeira reuni�o de governo, por�m, Temer teve clara no��o de que o papel que o esperava como vice-presidente da Rep�blica pouco tinha a ver com aquele de articulador privilegiado no governo de FHC.

O amigo Gaud�ncio Torquato, que o acompanha e o aconselha desde sua estreia

nas urnas, em 1986, reconhece: "Michel n�o � um pol�tico de massa". Na �ltima vez em que concorreu a deputado federal, em 2006, quase ficou fora da C�mara. Com 99.046 votos (0,476% do total), elegeu-se por causa da distribui��o das "sobras" de votos da coliga��o.

Nascido na pequena Tiet� (SP), no dia 23 de setembro de 1940, Temer come�ou na pol�tica no movimento estudantil na Faculdade de Direito da USP, no Largo de S�o Francisco. Foi l� que perdeu sua primeira elei��o, em 1962, quando foi candidato a presidente do Centro Acad�mico XI de Agosto. Na ocasi�o, o estudante de Economia Jos� Serra trabalhou contra Temer. O hoje tucano tornou-se, por afinidade, o principal interlocutor de Temer no PSDB. Em 1997, quando o peemedebista disputou a presid�ncia da C�mara pela primeira vez, Serra e Arnaldo Madeira o procuraram e fizeram um gracejo. "N�s trabalhamos contra voc� no CA, mas agora, em retribui��o, vamos lhe apoiar."

Temer � doutor em Direito pela PUC-SP e respeitado enquanto constitucionalista. Em 1983, assumiu o cargo de procurador-geral do Estado de S�o Paulo e, em seguida, a Secretaria de Seguran�a P�blica de S�o Paulo, na gest�o Franco Montoro. Em 1986, elegeu-se para a Assembleia Nacional Constituinte gra�as ao apoio de Montoro. Como presidente da C�mara, assumiu a Presid�ncia da Rep�blica interinamente duas vezes.

Discreto

Temer mant�m na vida privada a mesma discri��o da p�blica. N�o gosta de festas e s� participa de eventos sociais que tenham finalidade pol�tica. Fica apenas o tempo necess�rio e evita bebidas alco�licas.

Ele bebe pouco. Prefere vinho ou uma dose, pequena, de seu drink predileto: um shot de Vermouth Carpano Punt puro.

Al�m da leitura, gosta de cinema, mas n�o se lembra quando foi a �ltima vez que esteve em uma sala. Tamb�m adora s�ries e assistiu a todas as temporadas de House of Cards, sua favorita. A quem pergunta, rejeita compara��es com Frank Underwood, o ex-vice presidente que chegou � Casa Branca na fic��o.

Embora n�o seja fan�tico, � torcedor do S�o Paulo. E, por falar em esporte, pratica apenas um, a caminhada. Preocupado em manter a forma, anda diariamente nos jardins da Granja do Torto. Antes de assumir a Vice-Presid�ncia, seu local predileto para o exerc�cio era o Parque Vilas Lobos, na zona sul de S�o Paulo.

Com a notoriedade e o ass�dio provocados pelo poder, comprou uma esteira e equipamentos de muscula��o para se exercitar em casa. Ele tem um fraco por doces.

Temer tem cinco filhos. Com a primeira mulher, Maria Celia de Toledo, teve Luciana, em 1969, Maristela, em 1972, e Clarissa, em 1974.

Maristela e Clarissa s�o psic�logas. Luciana seguiu os passos do pai: � doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP, onde � professora-assistente. Ela, hoje, � secretaria municipal de Assist�ncia Social de Fernando Haddad (PT), em S�o Paulo, e deve apoiar sua candidatura � reelei��o.

Michel Temer tamb�m tem um filho adolescente, Eduardo, de 17 anos, que vive em
Londres. Ele reconheceu e paternidade e mant�m contato frequente com o jovem, fruto do relacionamento com uma jornalista.

Com sua atual mulher, Marcela, de 32 anos, teve Michelzinho, de 6 anos, que adora andar de skate no Pal�cio do Jaburu. Marcela, que n�o gosta do Jaburu, mora na casa da fam�lia, em S�o Paulo, mas agora, com a nova realidade, deve se mudar para Bras�lia.


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