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Estado de Minas

Relembre o primeiro grampo a derrubar um ministro

Antes das escutas telef�nicas e dela��es serem a regra para afastar pol�tico suspeito, grava��o telef�nica demitiu Rog�rio Magri do governo Collor, acusado de corrup��o


postado em 13/06/2016 06:00 / atualizado em 13/06/2016 07:39

Diálogo de Magri com um assessor, interceptado em 1992, resultou no afastamento dele do Ministério do Trabalho(foto: Jefferson Pinheiro/CB/D.A Press - 22/4/1992)
Di�logo de Magri com um assessor, interceptado em 1992, resultou no afastamento dele do Minist�rio do Trabalho (foto: Jefferson Pinheiro/CB/D.A Press - 22/4/1992)

“Ent�o me orienta, especificamente, o que temos que fazer juntos... � s� eu e voc�, p..., n�o tem gravador, n�o tem p... nenhuma”. No pa�s da banaliza��o das intercepta��es telef�nicas e das dela��es premiadas, este di�logo pode ser considerado o dinossauro dos grampos, que teve a for�a de derrubar o sindicalista Rog�rio Magri, de 75 anos, a �poca ministro do Trabalho e Previd�ncia Social do governo Fernando Collor de Mello, acusado de corrup��o passiva. As conversas s�o entre Magri e seu ent�o assessor Volnei �vila, interceptadas nos idos de mar�o de 1992, quando n�o se podia imaginar que, duas d�cadas depois, a pol�tica brasileira seria pautada pelos grampos e grava��es de delatores.

Quem nos faz voltar no tempo � o perito Ricardo Molina – com forma��o em m�sica, mestrado em lingu�stica e doutor em ci�ncias –, que em seu livro O Brasil na fita (Editora Record), remonta por ordem cronol�gica o Brasil dos governos Collor a Dilma. Passa tamb�m pela seguran�a p�blica, demonstrando o despreparo, que ficou patente na morte do tesoureiro de Fernando Collor, Paulo C�sar Farias, O PC Farias, e sua namorada Suzana Marcolino, em 23 de junho de 1996, at� hoje envolva em circunst�ncia nebulosas. Uma crise que perpassa tamb�m pela pol�tica, j� que PC Farias era o homem-bomba de Fernando Collor, presidente cassado em raz�o de movimenta��o de caixa 2 de campanha. Um esc�ndalo que hoje parece brincadeira de crian�a perto do mensal�o e do petrol�o


Injusti�ado


Hoje, dedicado exclusivamente ao sindicalismo, Rog�rio Magri – assessor da For�a Sindical – diz que foi injusti�ado porque a conversa foi analisada de forma “descontextualizada”. “N�o h� adjetivo para se classificar um delator. Ele conduz a conversa da forma que lhe interessa e fora do contexto maior”, diz Magri. Qualquer semelhan�a com outros pol�ticos pilhados em grava��es n�o � mera coincid�ncia, j� que at� mesmo a presidente afastada Dilma Rousseff, execrou os delatores da Opera��o Lava-Jato, que apura os desvios bilion�rios dos cofres da Petrobras. Magri n�o quis falar sobre seu algoz, Volnei �vila. “Nem sei o que foi feito dele. Eu estou aqui, atuando, viajando por esse Brasil”, diz.

No entanto, compara seu caso aos dos caciques do PMDB – Eduardo Cunha, Jos� Sarney, Romero Juc�, Renan Calheiros, entre outros –, que foram gravados em conversas informais com o ex-presidente da Transpetro, S�rgio Machado, que comprovariam a a��o deles para barrar investiga��es da Lava-Jato. “O S�rgio Machado fez amizades com as pessoas e, para se ver livre da cadeia, se aproveitou para gravar conversas”, explica Magri. Para se defender, diz tamb�m que o dinheiro que teria recebido, 30 mil d�lares, de uma empresa n�o tinha suas digitais porque a libera��o da obra n�o estava nas duas pastas que comandava � �poca.


Socorro


As alega��es de Magri, no entanto, n�o encontram respaldo no trabalho do perito Molina. Ele conta que, � �poca, a PF – ent�o comandada pelo delegado da Pol�cia Civil de S�o Paulo, Romeu Tuma –, n�o tinha condi��es t�cnicas de fazer a degrava��o da conversa, feita por Volnei com um gravador microcassete estrategicamente colocado dentro do bolso de seu palet�. A ideia partiu da deputada estadual do Rio, Cidinha Campos (PDT). Com a batata quente na m�o e sob a press�o da imprensa, Tuma se socorreu na Universidade de Campinas (Unicamp) para comprovar que a voz era de Magri e que a grava��o n�o tinha sido montada. “Naquela �poca, grava��es raramente eram usadas como prova. O principal motivo era a falta de especialistas que pudessem garantir tecnicamente sua autenticidade”, explica Molina no seu livro, que tem um cap�tulo dedicado exclusivamente ao sindicalista Magri.
 

Com t�cnica limitada

 
Apesar do trabalho bem-sucedido, que inscreveu o nome de Rog�rio Magri, entre os ministros falastr�es da Rep�blica, a falta de recurso t�cnicos foi um dificultador � �poca. O perito Ricardo Molina conta que foram necess�rias duas semanas – o que hoje seria feito em apenas tr�s dias –, at� a conclus�o do laudo mas pelo menos dois detalhes foram important�ssimos para se concluir a veracidade da fita. Durante o trabalho, Molina descobriu no fundo da grava��o o som de um rel�gio carrilh�o tocando de 15 em 15 minutos. A grava��o continha cinco horas de conversas gravadas. E, logo depois disso, identificaram ainda o barulho da cadeira na qual Volnei se sentara. “Era uma cadeira girat�ria, que rangia de modo muito particular a cada vez que ele se mexia. E ele se mexia muito, pois, provavelmente, estava nervoso com a situa��o”, revela o perito. Tanto o rel�gio quanto a cadeira faziam parte do cen�rio da grava��o da fita, o gabinete de Magri.

A partir disso, a carreira de ministro do sindicalista Magri come�ou a ruir. O Congresso aprovou uma Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) para apurar a corrup��o no ent�o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O INSS, por sua vez, revela Molina, identificou as empresas que obtiveram escalonamento de d�vidas durante a gest�o do sindicalista para saber porque os nomes de pelo menos 43 delas desapareceram da lista devedores. Magri se manteve no cargo por apenas dois anos, 1990 a 1992. Ele diz que foi a primeira v�tima da trama maior que era derrubar o presidente Fernando Collor. “Eles queriam o Collor e eu fui o primeiro alvo”, revela hoje.

Magri diz que n�o foi a experi�ncia ruim com a dela��o que o fez desistir de seguir a carreira pol�tica. “Eu fui ministro por acaso”, garante. Ele contou que, em 1989, foi eleito presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e apoiou Collor durante a campanha eleitoral. “Um dia, ele esteve em visita a uma metal�rgica e se comprometeu com os trabalhadores que, se eleito, o ministro do Trabalho seria um oper�rio. Desta forma, depois da vit�ria, o procuramos para indicar o nome do sindicalista e metal�rgico Sebasti�o de Paula Coelho. Na reuni�o, est�vamos eu e o Luiz Ant�nio de Medeiros Neto, fundador da For�a Sindical. Dias depois me chamaram e achei que tinha emplacado o nome, mas, para minha surpresa, o convite foi para mim”, relembra.

Magri revela que, mesmo depois de ministro, nunca pensou em seguir a carreira pol�tica como deputado ou senador. “Fa�o hoje o que mais gosto e considero mais relevante: a pol�tica sindical e a pol�tica partid�ria. Viajo por todo o pa�s, mas fazendo aquilo que acredito. Estou na ativa e feliz”, conta. 

 

De escuta em escuta 

 
Se a grava��o de Rog�rio Magri � emblem�tica por se uma das primeiras a interferir na vida pol�tica do pa�s, o livro O Brasil na fita (Editora Record), de Ricardo Molina, mostra que outros figur�es ainda na d�cada de 1990 tamb�m tiveram seus epis�dios com conversas gravadas. Entre eles est� ainda Ant�nio Carlos Magalh�es, ACM, o Rei da Bahia, e ainda o controverso pol�tico Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro. ACM caiu em uma conversa com o tamb�m pol�mico, procurador da Rep�blica, Luiz Francisco Fernandes de Souza, que n�o perdeu a oportunidade de o gravar.

Na conversa, ACM admitiu que leu a lista de votos do painel do Senado, durante vota��o de cassa��o do ent�o senador Luiz Estev�o – investigado e condenado por envolvimento com o juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, no esquema de desvio de obras do Tribunal Regional do Trabalho. Luiz Estev�o foi preso este ano para come�ar a cumprir sua pena. Apesar de grampeado, at� morrer em 2007, aos 79 anos, ACM n�o teve maiores dores de cabe�a com os grampos.

Anthony Garotinho, em julho de 2001, conta Molina, foi pego tamb�m em uma conversa gravada em 1995, com o Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes de Carvalho, afirmando que fez o pagamento de propina ao auditor fiscal que autorizou o sorteio de carros e uma casa no programa de r�dio Show do Garotinho, que o pol�tico comandava. E Molina mostra tamb�m, de escuta em escuta, que muitos outros pol�ticos tiveram suas intimidades violadas, como Joaquim Roriz e Jos� Roberto Arruda, ex-governadores do Distrito Federal, al�m dos ex-presidentes Jos� Sarney (PMDB) e Luiz In�cio Lula da Silva.

Mas o livro de Molina, al�m do resgate da hist�ria recente do pa�s, ainda nos faz relembrar casos policiais – chacina de Vig�rio Geral, massacre do Eldorado dos Caraj�s, a pris�o do cantor Belo por tr�fico de drogas, entre outros – at� casos de amor como as do Rei Pel� com uma ex-namorada, passando por textos do piloto Airton Sena, ainda com apenas 19 anos, at� o resgate da autoria de grava��o de Elizeth Cardoso, a Divina. Ou seja, uma viagem deliciosa pelo tempo nos bastidores de casos que marcaram a vida do pa�s. 


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