No pa�s dos esc�ndalos, os olhos dos brasileiros est�o voltados para a capital federal, de onde, a cada dia, surge um novo cap�tulo do teatro do absurdo em que a pol�tica se transformou. S� que, entre o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT); turbul�ncias do governo do presidente em exerc�cio Michel Temer (PMDB); vazamentos da Opera��o Lava-Jato e processo de cassa��o do presidente afastado da C�mara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), t�m elei��es no meio do caminho. A pouco mais de tr�s meses para elas acontecerem, pouca gente tem prestado aten��o nisso.
Enquanto a hora de escolher prefeitos e vereadores n�o chega, o tema tem ficado � margem do interesse da popula��o. � o que mostra levantamento feito pelo Estado de Minas por meio do Google Trends, ferramenta que informa os termos mais procurados no buscador. Na pr�tica, internautas est�o atr�s de muito mais conte�dos relacionados ao processo de impeachment, por exemplo, do que a respeito do pleito.
Numa escala de 0 a 100, a busca pelo termo “elei��es municipais”, que alcan�ou 4 pontos em outubro de 2012, data do �ltimo pleito, � igual a 0 desde outubro de 2014. J� a procura pelo termo “impeachment” vem crescendo desde outubro de 2014, alcan�ando picos de 12, em fevereiro do ano passado, 16, em dezembro, at� chegar a 100, em abril deste ano, quando foi votada a admissibilidade do afastamento de Dilma pela C�mara.
“N�o existe clima de elei��o”, afirma o cientista pol�tico Carlos Ranulfo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A tend�ncia, segundo ele, � de que a popula��o demore a sentir esse clima no ar. Por causa da minirreforma eleitoral, a campanha vai come�ar em 16 de agosto, apenas 45 dias antes de 2 de outubro, quando brasileiros v�o �s urnas. O tempo caiu pela metade em rela��o �s elei��es anteriores.
Ranulfo chama aten��o para o quadro de desgaste do sistema pol�tico, o que pode abrir espa�o para discursos sobre uma “nova pol�tica”. “O eleitor vai buscar uma coisa nova. Mas pol�tica n�o se faz da noite para o dia. Mesmo os grandes partidos v�o querer pegar carona nesse desgaste”, diz. O especialista n�o cultiva otimismo quanto �s consequ�ncias desse processo. “Isso pode levar a um resultado muito pior. Junto ao desgaste do momento, o eleitor tende a ir para a urna menos informado do que o normal”, diz Ranulfo, em refer�ncia � campanha mais curta.
DECEP��O E APATIA Para a especialista em comportamento eleitoral, a cientista pol�tica Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de S�o Carlos (Ufscar), embora a discuss�o das elei��es seja nos munic�pios, a conjuntura nacional ser� determinante para o posicionamento dos brasileiros em outubro. “O eleitor nunca teve um conhecimento t�o grande sobre como acontece a corrup��o. H� uma decep��o com a classe pol�tica”, afirma.
Ela tamb�m aponta para uma tend�ncia de aumento dos votos nulos e brancos. “Isso pode ser tanto por uma apatia, j� que um n�mero grande e eleitores vem se decepcionando paulatinamente, quanto por protesto”, refor�a. J� Ranulfo aposta tamb�m no aumento das absten��es, aqueles eleitores que sequer comparecem �s urnas. Em 2014, �ltimas elei��es municipais, 19,4% do eleitorado se absteve, recorde desde 1998, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brancos tamb�m cresceram, chegando a 3,8%. J� os nulos somaram 5,8%.
Maria do Socorro tamb�m destaca uma tend�ncia de renova��o nos quadros das c�maras municipais. Com a experi�ncia de quem tem seis mandatos na biografia, o vereador de Belo Horizonte Ronaldo Gontijo (PPS), que n�o vai disputar as elei��es deste ano, mas tamb�m aposta numa renova��o recorde – em 2012, ela girou em torno dos 40% da casa legislativa da capital. “Quem est� no meio pol�tico est� mais desgastado do que os de fora”, afirma.
O parlamentar, que acumula o cargo de presidente municipal do seu partido, acredita que o momento nacional vai exigir mais dos candidatos. “Quanto mais isentos estiverem o partido pol�tico e o candidato, mais chance de levar sua mensagem � popula��o. N�o adianta chegar s� com um discurso”, diz Gontijo, aflito com a indefini��o do cen�rio municipal. “Nenhuma corrente pol�tica est� definida”, diz.
Para pr�-candidatos, cobran�a ser� maior
Pr�-candidatos � prefeitura de Belo Horizonte acreditam que ser�o mais cobrados pelos eleitores no pr�ximo pleito de outubro. Eles atribuem o maior rigor e desconfian�a dos cidad�os na escolha do prefeito e vereadores � conjuntura pol�tica nacional, em especial �s den�ncias de corrup��o que vieram � tona na Opera��o Lava-Jato. Assim como estudiosos sobre o tema, eles apostam num aumento de votos brancos, nulos e absten��es. A maior dificuldade de conquistar votos se alia ao desafio de fazer uma campanha mais enxuta e barata, imposta pelas mudan�as na legisla��o eleitoral.
Um dos nomes cotados pelo PT para a candidatura � Prefeitura de Belo Horizonte, o ex-vice prefeito Roberto Carvalho afirma que o debate nacional tornou o eleitor mais politizado. “Infelizmente, o desalento do povo com a � pol�tica muito grande. S� com a pol�tica s�ria podemos motivar as pessoas”, afirma. Ele considera que as elei��es n�o ser�o piores para o partido, um dos alvos das investiga��es, do que para as demais legendas. “Vai ser dif�cil para o PT e para todos os outros. N�o tem nenhum partido que escapa a esse sistema inaceit�vel”, diz.
Atual vice-prefeito, D�lio Malheiros (PSD), pr�-candidato � Chefe do Executivo, afirma que a rea��o aos esc�ndalos de corrup��o vai refletir nas urnas. “Aquele pol�tico tradicional vai estar preocupado. O eleitor vai se identificar com candidatos ficha limpa com postura de bia gest�o e que n�o fa�am promessas mirabolantes. Assuntos nacionais estar�o na pauta e eleitores escolher�o candidatos mais respons�veis com as finan�as p�blicas e a responsabilidade fiscal”, diz Malheiros, lembrando das pedaladas fiscais, manobras para melhorar as contas p�blicas que embasam o pedido de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
� essa tamb�m a opini�o do deputado estadual Jo�o Leite (PSDB), pr�-candidato tucano � Prefeitura de BH. “Vamos ser cobrados por uma vida pol�tica coerente. Sentimos uma indigna��o das pessoas, elas estar�o atentas. Os partidos e candidatos ter�o que demonstrar sua transpar�ncia e honestidade”, diz. Ele concorda que o processo de impeachment tem roubado a cena no debate p�blico. “Tudo isso toma aten��o e espa�o das elei��es municipais”, diz.