
O temor de que a decis�o do Supremo Tribunal Federal (STF) de desmembrar os processos da Opera��o Lava-Jato – centralizada em Curitiba (PR) sob o comando do juiz federal S�rgio Moro – enfraqueceria as investiga��es n�o se confirmou. Com as opera��es Turbul�ncia e Custo Brasil, que acertaram em cheio nomes importantes do PSB e PT na semana passada, as investidas da Pol�cia Federal (PF), Procuradoria da Rep�blica e Receita Federal, pela primeira vez, n�o partiram da caneta de Moro, mas da Justi�a Federal dos estados de Pernambuco e S�o Paulo. No entanto, todas as informa��es tiveram um �nico ponto de partida: a Lava-Jato, que apura desvios de recursos da Petrobras para pagamento de propinas a pol�ticos e financiamento de campanhas.
Se vale o ditado que o tempo � o senhor da raz�o, a opera��o Custo Brasil – desencadeada na quinta-feira em S�o Paulo e que teve como alvo principal o ex-ministro do Planejamento dos governos petista de Lula e Dilma, Paulo Bernardo – revela tamb�m uma ironia do destino. A decis�o do STF atendeu a um pedido da senadora Gleisi Hoffman – mulher do ex-ministro e ferrenha defensora do mandato da presidente Dilma Rousseff –, em raz�o de investiga��o da Lava-Jato, que apurava irregularidades em contratos do Minist�rio do Planejamento para gest�o de cr�dito consignado. E foi justamente o suposto pagamento de propina a Paulo Bernardo o motivador desta etapa de investiga��es.
De acordo com as apura��es, somente o ex-ministro Paulo Bernardo, que esteve tamb�m � frente da pasta de Comunica��o, � suspeito de ter recebido R$ 7,6 milh�es de esquema ilegal envolvendo opera��es de cr�dito consignado de servidores p�blicos, entre 2010 e 2015. Al�m de Paulo Bernardo, s�o investigados os ex-tesoureiros do PT, Jo�o Vaccari Neto – preso desde 2015 –, e Paulo Ferreira, que se apresentou � Justi�a na sexta-feira; Valter Correia da Silva, secret�rio de Gest�o do prefeito de S�o Paulo, Fernando Haddad (PT); Daisson Silva Portanova, Guilherme de Salles Gon�alves, al�m de outras seis pessoas.
CAMPANHA Seguindo o mesmo roteiro, a Opera��o Turbul�ncia foi desencadeada a partir de Pernambuco, j� que apurava as condi��es de contrata��o do avi�o usado pelo ent�o candidato � Presid�ncia da Rep�blica Eduardo Campos (PSB), que morreu em acidente a�reo em agosto de 2014. Foram informa��es compartilhadas com a for�a-tarefa da Lava-Jato que viabilizaram a apura��o do suposto esquema de lavagem de dinheiro e propina para a campanha de Campos, que funcionava em Pernambuco e Goi�s. O esquema teria lavado mais de R$ 600 milh�es desde 2010.
De acordo com o delegado Marcelo Diniz Cordeiro, superintendente da PF em Pernambuco, a Turbul�ncia re�ne diversos documentos da Lava-Jato que permitiram a identifica��o de empresas fantasmas que contribu�ram at� para a aquisi��o da aeronave usada por Campos em sua campanha. Al�m disso, a investiga��o demonstrou que a Construtora OAS – uma das empreiteiras investigadas no esquema de desvios na Petrobras entre 2004 e 2014 – usou uma empresa fantasma de Pernambuco para repassar parte da quantia desviada em contrato para obras de transposi��o do Rio S�o Francisco.A PF identificou um repasse de R$ 18 milh�es para a OAS. Algumas das empresas alvos da Turbul�ncia foram citadas em dela��es premiadas de presos e condenados da Opera��o Lava-Jato. A for�a-tarefa destacou ainda que o alvo dessa etapa foram os operadores que faziam a capta��o de recursos e distribu�am propinas a pol�ticos. Em nome deles e em nome de familiares foram identificadas empresas fantasmas registradas tamb�m no Uruguai.
MORTE Na Opera��o Turbul�ncia, quatro empres�rios foram presos, um deles no momento em que embarcaria para Miami, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP). Com ele, os federais apreenderam US$ 10 mil. E, pela primeira vez na Opera��o Lava-Jato e seus desdobramentos, um dos envolvidos morreu no decorrer das investiga��es. O empres�rio Paulo C�sar de Barros Morato, um dos alvos dos federais, foi encontrado morto em um motel, mas sem sinais de viol�ncia, O empres�rio Jo�o Carlos Lyra, tamb�m preso em S�o Paulo e dono do avi�o, tamb�m foi preso em S�o Paulo. Al�m das pris�es, a PF confiscou tr�s aeronaves do grupo, avaliadas em R$ 9 milh�es, e quatro autom�veis de luxo.
ESQUEMA PERSISTIU
A Pol�cia Federal e a Procuradoria da Rep�blica descobriram que o fundo Consist, cujo mentor e benefici�rio maior teria sido o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunica��es/Governo Dilma), continuou operando mesmo depois da deflagra��o da Opera��o Pixuleco 2, em agosto de 2015, quando foram presos um lobista e um advogado sob suspeita de serem os operadores do esquema de desvios milion�rios sobre empr�stimos consignados. “H� ind�cios de que havia uma perman�ncia da organiza��o criminosa e, mesmo ap�s cessarem os cargos p�blicos esse esquema ainda se mant�m em diversos locais, uma gama de contratos ainda est� em vigor”, declarou o procurador da Rep�blica Andrey Borges de Mendon�a, da for�a-tarefa da Opera��o Custo Brasil.