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Estado de Minas

Procurador Deltan Dallagnol prega mudan�as na lei em igrejas e congressos


postado em 18/07/2016 09:01 / atualizado em 18/07/2016 09:26

Deltan Dallagnol(foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )
Deltan Dallagnol (foto: Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil )
Rio - No audit�rio da Primeira Igreja Batista de Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol prop�e a cada espectador da palestra "Lideran�a Corajosa" que, durante um minuto, discuta com o companheiro ao lado sobre a quest�o: a Opera��o Lava-Jato transforma o Pa�s? "Outro dia, fiz a mesma proposta para um grupo de mulheres e quase n�o consegui retomar a palestra", brinca Dallagnol. A plateia ri, conversa e pouco depois o procurador retoma o racioc�nio. Diz que a investiga��o do maior esquema de desvio de recursos e pagamento de propina em estatais brasileiras "infelizmente n�o muda o Pa�s", mas pode despertar uma in�dita mobiliza��o de combate � corrup��o.

"Vivemos uma janela de oportunidade, o caso Lava-Jato deixou a sociedade altamente sens�vel e esperan�osa de mudan�as", diz Dallagnol.

A declara��o � quase um mantra do procurador de 36 anos que chefia a for�a-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, onde a investiga��o come�ou em mar�o de 2014. Al�m do trabalho na Lava-Jato, Dallagnol se dedica a viajar o Pa�s para divulgar a campanha Dez Medidas contra a Corrup��o, que alcan�ou 2,2 milh�es de assinaturas e j� tramita como projeto de lei de iniciativa popular na C�mara dos Deputados. Em palestra no Rio para investidores, na semana passada, o procurador disse que j� fez, "sem ganhar nada por isso", mais de 150 palestras s� sobre as medidas anticorrup��o e perdeu as contas das apresenta��es sobre outros temas ligados ao combate ao crime.

Quando Dallagnol, com um grupo de colegas, decidiu levar adiante a campanha pelo projeto de iniciativa popular, o ponto de partida foi a Igreja Batista, que frequenta desde crian�a. Os convites se expandiram. Hoje v�o do Congresso Brasileiro de Cirurgi�es � Associa��o Brasileira de Private Equity e Venture Capital, plateia do procurador na noite de 7 de julho em um hotel no Rio. "Vou decepcionar os que esperam mais um momento sobre como lucrar nos neg�cios. Se voc�s seguirem minhas dicas, infelizmente v�o falir. Tenho a��es de Petrobras, do BTG Pactual e da Queiroz Galv�o", disse o procurador, citando estatal, banco e empreiteira investigados na Lava-Jato, para divers�o dos investidores.

Weber, Luther King


O palestrante adapta sua apresenta��o � plateia, mas segue um roteiro padr�o que mistura pequenos filmes, tabelas, charges, mapas, cita��es de intelectuais como Max Weber, um dos pensadores da sociologia, e o pastor e ativista americano Martin Luther King. Vez ou outra, faz refer�ncia a alguma passagem b�blica. Rebate acusa��es de abusos da Lava-Jato, como excesso de pris�es preventivas e dela��es premiadas. Insistentemente defende a tese de que o combate � corrup��o "� uma quest�o de amor ao pr�ximo, de servi�o � sociedade".

Criador do curso "Humanismo em Nove Li��es", voltado para ju�zes, e um dos autores do estudo Corpo e Alma na Magistratura Brasileira, o cientista social Luiz Werneck Vianna tem observado a nova gera��o de profissionais de Direito no Brasil. "S�o filhos dessas novas correntes que aproximam o Direito da sociedade. Est�vamos necrosados em uma tradi��o positivista que interditava uma percep��o nova dos problemas sociais. � um movimento geracional que coincide com a mudan�a de bibliografia do Direito, em que cientistas sociais t�m sido cada vez mais incorporados. � um Direito mais responsivo, mais aberto a problemas sociais, voltado para temas como o reconhecimento das minorias", disse.

Em muitos profissionais, Werneck Vianna identificou tra�os comuns, como o fato de completarem os estudos em universidades americanas, v�nculos com a religi�o e idades em torno de 40 anos. "A velha tradi��o est� sendo deslocada. A 'common law' (Direito baseado mais na jurisprud�ncia e nas decis�es dos tribunais do que apenas no texto da lei) passou a ser incorporada por essas novas gera��es, muitos foram estudar nos Estados Unidos. H� um grupo de pessoas formadas no campo do Direito que escolheu a carreira p�blica e tenta assumir um protagonismo em mudan�as no Pa�s. H� um movimento em que est� presente a m�stica da salva��o, da miss�o de salva��o. H� alguma coisa de revolu��o dos santos, como a que ocorreu com o advento do protestantismo, nesses ju�zes e promotores", disse o pesquisador.

Dallagnol em muito se encaixa nesse novo perfil. Em 2003, quando ingressou por concurso no Minist�rio P�blico Federal, tinha 23 anos e era o segundo mais novo procurador do Pa�s. Logo passou a trabalhar na investiga��o de remessas ilegais de dinheiro para o exterior no caso Banestado. "Hoje est� perdido nos escaninhos do Judici�rio rumo � prescri��o", lamenta ele em mais um trecho recorrente de suas palestras. "Minha hist�ria � de algu�m que teve fracassos sucessivos no combate � corrup��o", resume. Entre 2013 e 2014, Dallagnol fez mestrado na Universidade Harvard (EUA). "Quanto voltei, estava 'gr�vido' do meu primeiro filho, pensava em ir para a academia. Mas entrei em um caso (inicialmente, uma investiga��o sobre lavagem de dinheiro) que hoje � a Lava-Jato. Deu no que deu", conta o procurador aos ouvintes.

O coordenador da Lava-Jato desperta na plateia muita curiosidade sobre os rumos das investiga��es e a impunidade, mas tamb�m sobre sua vida pessoal. Conta que � casado, tem dois filhos e reconhece que sacrifica a vida familiar pela causa do combate � corrup��o. N�o s�o raras as perguntas sobre o que planeja no futuro. A uma espectadora que foi mais direta e questionou se pretende entrar para a pol�tica, o procurador n�o afastou a possibilidade. "Eu descartaria poucas coisas em rela��o a meu futuro, cogito talvez at� virar pastor. Mas n�s focamos no presente", respondeu.


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