S�o Paulo – “Como os pedidos s� foram diminuindo, quando o celular tocava de manh� a gente j� sabia que era o banco ligando para cobrar a presta��o da casa”, lembra o auxiliar de cozinha Luiz Eduardo Meirelles, de 48 anos, que faz doces para festas desde que foi demitido de uma confeitaria da Grande S�o Paulo, em maio. Ele est� no grupo de mutu�rios da faixa 1 do Minha casa, minha vida, programa federal de subs�dio � moradia popular, que n�o vem conseguindo pagar as presta��es.
Para efeito de compara��o, o �ndice de presta��es atrasadas na carteira de cr�dito que inclui as faixas 2 e 3 do Minha casa, minha vida – para fam�lias com renda mais elevada –, era de cerca de 2,03% no terceiro trimestre deste ano, de acordo com a Caixa Econ�mica Federal.
O cr�dito imobili�rio da faixa 1 do Minha casa se destina �s fam�lias que t�m renda mensal bruta de at� R$ 1,8 mil. Os pre�os dos im�veis variam de acordo com a localidade e, como at� 90% do valor da casa � custeado com recursos p�blicos, os novos contratantes pagam presta��es mensais a partir de R$ 80. At� o ano passado, esses n�meros eram mais generosos: a presta��o m�nima paga pelos benefici�rios do programa era de R$ 25 ao m�s. Al�m disso, para toda a faixa 1, cerca de 95% do valor do im�vel era subsidiado.
No Amap� e em Roraima, estados com maior percentual de inadimplentes em setembro, os atrasos nos pagamentos chegam a 41%. Em seguida est�o Par� (40%), Bahia (37%) e Mato Grosso (36%). Distrito Federal, Alagoas e Rond�nia t�m os menores �ndices, com 7%, 11% e 19%, respectivamente. “Mais preocupante que o aumento da inadimpl�ncia da fatia mais carente do programa � a persist�ncia dos atrasos em um patamar t�o alto, bem acima dos financiamentos banc�rios convencionais e das demais faixas do Minha casa, minha vida”, diz Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Estudos em Microfinan�as e Inclus�o Financeira da Funda��o Getulio Vargas.
“O programa precisa criar mecanismos de cobran�a mais eficientes, como os usados pelo microcr�dito. Uma alternativa seria a ado��o de agentes de cr�dito, atuando de porta em porta, para instruir os mutu�rios e propor alternativas de renegocia��o das d�vidas”, diz o especialista. Com medo de perder o im�vel, o auxiliar de cozinha Luiz Eduardo Meirelles conta que vai vender a moto da fam�lia e passar� a fazer as entregas dos doces de bicicleta. “Trabalhar em casa era um sonho antigo que virou falta de op��o, s� que todo mundo est� segurando gastos e fica dif�cil vender. A gente passou da fase dos pequenos cortes. Vamos abrir m�o de parte do patrim�nio para salvar o principal.” Em muitos casos, o mutu�rio custa a acreditar que ter� o im�vel retomado, por se tratar de parcelas simb�licas, de acordo com Marcelo Prata, do Canal do Cr�dito, comparador de produtos financeiros.