
Eles respiram pol�tica desde que nasceram, assistindo ao entra e sai de lideran�as e eleitores em suas casas. De tanto conviverem com esse ambiente, entraram na disputa eleitoral e, com o empurr�ozinho do sobrenome, foram vitoriosos. Essa � a hist�ria dos herdeiros pol�ticos que assumiram prefeituras do Norte de Minas em 1º de janeiro. Em Rubelita, de 6,9 mil habitantes, o engenheiro agr�cola Ot�vio Miranda (PMDB), de 54 anos, tomou posse no cargo j� exercido por seu av� paterno, seu pai e sua m�e. Em S�o Jo�o da Ponte, de 30,3 mil habitantes, Danilo Veloso Santos (PT), de 42, ocupa agora a mesma cadeira j� ocupada pelo pai e pela m�e (ambos por dois mandatos).
Ot�vio Miranda reconhece o peso da tradi��o familiar em sua vit�ria. Conta que desde que Rubelita foi emancipada, em 1963, em apenas duas elei��es (1982 e 2004) o eleito n�o fazia parte das tr�s fam�lias que disputam o comando da pol�tica na cidade: Alves Miranda (a dele), Murta e Alves Ferreira. Na elei��o de outubro de 2016, ele foi vitorioso com 56,38% dos votos, derrotando Inael Murta (PSDB), que concorria � reelei��o. Em 2012, Inael derrotou Ot�vio.
Um tio dele, Djalma Alves Miranda, foi o intendente (uma esp�cie de primeiro gestor, que � nomeado) de Rubelita e ficou no cargo por cerca de seis meses, at� a posse do primeiro prefeito eleito pelo voto direto. O av� de Ot�vio, Le�nidas Alves, foi o segundo prefeito do munic�pio (1967-1970). O pai, Oswaldo Alves Miranda (j� falecido), comandou a prefeitura em um mandato (1989-1992) e a m�e, Maria do Divino Alves Miranda, a dona Vina, ocupou a chefia do Executivo por dois mandatos seguidos, de 1997 a 2004.
O novo prefeito de Rubelita afirma que, na fam�lia, a maior lideran�a foi exercida por seu av�, de quem – admite – ainda “herda” votos. Le�nidas, que era fazendeiro, faleceu em 1976. Segundo Ot�vio, 30 anos depois de sua morte, o nome do antigo chefe pol�tico ainda influencia a disputa local.
“Em Rubelita � assim: 40% dos moradores ainda falam do meu av�, dizendo que votam ‘no povo de Le�nidas’. Acho que pelo menos 30% dos votos que recebi vieram por causa do nome dele, que ainda � forte. Portanto, tenho o respeito do povo e a responsabilidade de honrar esse nome e fazer uma boa administra��o, como fizeram meu pai e minha m�e”, comenta o herdeiro. Ele disse que vai priorizar a gera��o de emprego e o apoio ao homem do campo.
Projeto pol�tico acima da tradi��o
O novo prefeito de S�o Jo�o da Ponte (30,3 mil habitantes), Danilo Veloso Santos (PT), ainda n�o tinha nascido quando o pai dele, Denizar Veloso Santos, tomou posse para o seu primeiro mandato na prefeitura da cidade (1971-1972). Depois, quando Danilo estava com 10 anos, o pai tomou posse para o segundo mandato (1983-1988). Anos mais tarde, com Denizar j� falecido, a m�e, Gervacina Ferreira Santos, tamb�m exerceu dois mandatos (1997-2004).
Danilo foi eleito com 52,9% dos votos e derrotou Sidnei Gorutuba (PMDB), que tentava a reelei��o. O novo prefeito admite que a tradi��o familiar contribuiu em sua campanha, mas n�o foi o fator mais importante para que chegasse � vit�ria. “Minha elei��o n�o ocorreu pelo fato de meu pai e minha m�e terem sido prefeitos. Fui eleito em cima de um projeto pol�tico. Preparei-me para ser prefeito. Passei quatro anos colocando o meu nome � aprecia��o da popula��o”, afirma.
No passado, S�o Jo�o da Ponte ficou conhecida pelo dom�nio dos “chefes pol�ticos”. Apesar de sua heran�a, Danilo afirma que n�o segue as antigas pr�ticas. “N�o tenho nada a ver com o coronelismo. Represento o povo mais simples, que precisa ser ouvido”, argumenta. Ele tamb�m afirma que o fato de ter se filiado ao PT pouca coisa mudou em sua elei��o. “Nos pequenos munic�pios, os eleitores votam na pessoa. N�o tem muito essa influ�ncia ideol�gica”, observa.
Danilo conta que iniciou e n�o concluiu o curso de engenharia civil exatamente por causa da pol�tica, pois retornou � cidade quando sua m�e era prefeita. Por outro lado, conta que adquiriu experi�ncia na �rea p�blica como presidente da Funda��o Municipal de Sa�de de S�o Jo�o da Ponte (Fumasa), entidade filantr�pica respons�vel pela gest�o do �nico hospital da cidade (Hospital S�o Geraldo) e secret�rio de Sa�de do munic�pio. “Tomei gosto em trabalhar em prol das pessoas, principalmente daquelas que precisam de uma boa administra��o. O meu objetivo � fazer uma gest�o s�ria, com transpar�ncia, responsabilidade e participa��o popular”, disse o novo prefeito, demonstrando que est� com o discurso afinado.
Voca��o no sangue e mulher como vice
Ainda no Norte de Minas, em Uba� (11,8 mil habitantes), o advogado Marco Antonio Andrade (PR), de 46 anos, o “Doutor Marquim”, assumiu a prefeitura, que j� tinha administrado anteriormente por dois mandatos seguidos (2005-2012). A fam�lia dele sempre teve influ�ncia na pol�tica local desde que o munic�pio foi emancipado, em 1963. Tamb�m j� comandaram a prefeitura um tio e dois irm�os dele. Marquim exerce o terceiro mandato com sua mulher como vice, a professora Joselane Aparecida Nobre (PSD).
“A pol�tica est� no sangue da nossa fam�lia”, diz o prefeito, eleito com uma vota��o esmagadora (85,74% dos votos). Marquim alega que a mulher dele foi escolhida como vice por causa da “concorr�ncia” no seu grupo pol�tico, pois apareceram 11 pr�-candidatos para integrar a chapa e Joselane foi escolhida como “nome de consenso”, a fim de evitar o risco de “racha”.
Ele afirma que n�o pretende nomear Joselane para nenhuma fun��o na prefeitura. Afirmou que mesmo sendo eleita como sua companheira de chapa, ela deve continuar como professora – “desde que n�o haja nenhum impedimento legal, considerando que vice � expectativa de cargo”.
Marquim disse ainda que a “tradi��o” de sua fam�lia na pol�tica em Uba� vem da caracter�stica da cidade pequena, onde “todo mundo conhece todo mundo”. “Aqui � assim, praticamente todo mundo sabe da hist�ria de cada um e onde as pessoas moram. As pessoas sabem em quem v�o votar. Al�m disso, tenho 46 anos e sou uma pessoa de cabe�a aberta. Portanto, n�o existe essa hist�ria de coronelismo”, assegura.