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Estado de Minas

'Areng�o' e Rodrigo Janot, separados na Lava Jato


postado em 16/01/2017 11:43 / atualizado em 16/01/2017 12:30

(foto: José Cruz/Agência Brasil)
(foto: Jos� Cruz/Ag�ncia Brasil)
"Areng�o, bota a l�ngua no palato", dizia o e-mail do procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, para o subprocurador-geral e ex-ministro da Justi�a Eug�nio Arag�o. Ou "Areng�o", apelido com que Janot o carimbou, s� entre eles, nos bons tempos em que a amizade prevaleceu. Por maio de 2016, quando o e-mail chegou, j� iam �s turras.

Rec�m-sa�do do Minist�rio da Justi�a, nem completados dois meses de mandato - 14 de mar�o a 12 de maio, no governo da presidente Dilma Rousseff -, Eug�nio Jos� Guilherme de Arag�o, de 57 anos, estava de volta � Procuradoria-Geral da Rep�blica, onde entrou em 1987. E tratava, com Rodrigo, que � como chama Janot, da fun��o que passaria a ocupar.

Entre e-mails e "zaps", o procurador-geral perguntou se o ex-ministro gostaria de assumir a 6.ª C�mara do Minist�rio P�blico Federal (MPF) - a que trata de popula��es ind�genas e comunidades tradicionais. "N�o gostaria", respondeu Arag�o. "Teria de lidar com o novo ministro da Justi�a (Alexandre de Moraes, de Michel Temer), com quem eu n�o tenho uma rela��o de confian�a", explicou. "E o Supremo (Tribunal Federal)?", contrap�s Janot. "O Supremo a gente conversa", respondeu Arag�o. "Ent�o, t�, Areng�o, bota a l�ngua no palato", escreveu o procurador-geral. "Rodrigo, quer saber, n�s somos pessoas muito diferentes, e eu n�o dou a m�nima para cargos", respondeu Arag�o, sem mais retorno.

"Que diabos quer dizer 'bota a l�ngua no palato'?", perguntou-se Arag�o. Foi uma d�vida que surgiu ao ler a met�fora sobre o c�u da boca. "Significa um palavr�o?", perguntou-se, experimentando dois ou tr�s. Conformou-se com a ordin�ria explica��o de que Rodrigo o mandara calar a boca e/ou parar de arengar. Era um s�bado, 21 de maio. Na segunda, 23, um impalat�vel Arag�o foi ao gabinete de Janot.

"Ele me deu quarenta minutos de ch� de cadeira", contou, no segundo suco de melancia. Chegou, ent�o, o subprocurador da Rep�blica Eduardo Pelella, do c�rculo de estrita confian�a de Janot (mais ontem do que hoje). "O Rodrigo � o Pink, o Pelella � que � o C�rebro", disse Arag�o, brincando com o seriado famoso.

Pelella, que n�o quis dar entrevista, levou-o, "gentil, mas monossil�bico", � sala cont�gua ao gabinete, e foi ter com Janot. Quando sentiu que outro ch� de cadeira seria servido, Arag�o resolveu entrar. "Os dois levaram um susto", contou. Pelella pediu que o colega sentasse, e se retirou.

Come�ou, ent�o, conforme di�logo relatado por Arag�o ao jornal, a tensa e �ltima conversa de uma longa amizade:

Janot: Voc� me deu um soco na boca do est�mago com aquela mensagem ("n�o estou interessado em cargos").

Arag�o: � aquilo mesmo que est� escrito l�.

Janot: Ent�o considere-se desconvidado.

Arag�o: �timo. Eu n�o quero convite (para fun��o), tudo bem, n�o tem problema. Olha, Rodrigo, n�s somos diferentes. � isso mesmo. Para mim, voc� foi uma decep��o...

Janot: O que voc� est� querendo dizer? Vai me chamar de tra�ra?

Arag�o: N�o, tra�ra n�o. N�o chega a tanto. Desleal, mas tra�ra n�o. (No caso Opera��o da Lava Jato) voc� foi extremamente seletivo...

Janot: Voc� vem aqui no meu gabinete para me dizer que eu estou sendo seletivo?

Arag�o: � isso mesmo.

Janot: Voc� vai para a p... que o pariu... Voc� acha que esse (ex-presidente) Lula � um santo? Ele � bandido, igual a todos os outros...

Arag�o: Voc� foi muito mesquinho em rela��o ao Lula, s� porque ele disse que voc� foi ingrato (em raz�o da indica��o para a fun��o)... N�o tinha nem de levar isso em considera��o.

Janot: Isso � o que voc� acha. Eu sou diferente. O Lula � bandido, como todos os outros. E voc� vai � m...

Arag�o: E os vazamentos das dela��es? Eu tive informa��es, quando ministro da Justi�a, pelo Setor de Intelig�ncia da Pol�cia Federal, que sa�ram aqui da PGR...

Janot: Daqui n�o vazou nada. E eu n�o te devo satisfa��o, voc� n�o � corregedor.

Arag�o: �, voc� n�o me deve satisfa��o, mas posso pensar de voc� o que eu quiser.

Janot: Voc� v� � m..., voc� n�o � meu corregedor.

Arag�o: Eu n�o vim aqui para conversar nesse n�vel. S� vim aqui para te avisar que estou de volta.

Nunca mais se falaram. A reportagem quis ouvir Janot a respeito das declara��es de Arag�o. A assessoria de imprensa da PGR assim respondeu ao pedido: "O procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, est� em per�odo de recesso e n�o vai comentar as considera��es do subprocurador-geral da Rep�blica Eug�nio Arag�o".

Sem fun��o

Desde ent�o, sem ter sido designado para nenhuma fun��o em especial, Arag�o continua trabalhando normalmente como subprocurador-geral da Rep�blica, no mesmo pr�dio em que despacha Janot.

Os dois foram amigos por muitos anos, rela��o que inclu�a as respectivas fam�lias. N�o poucas vezes Arag�o degustou a boa comida italiana que Rodrigo aprendeu a fazer. Compartilhavam a bebida, tamb�m, embora com menor sede.

A diverg�ncia come�ou, sempre na vers�o de Arag�o, nos idos do mensal�o, mais precisamente quando Janot, j� procurador-geral - "com a minha decisiva ajuda", diz Arag�o - pediu a pris�o de Jos� Genoino (e de outros l�deres petistas), em novembro de 2013, acatada pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo. "O Rodrigo j� tinha dito ao Genoino, na minha frente, e na casa dele, v�rias vezes, que ele n�o era culpado", contou o ex-ministro da Justi�a.

Como ministro do governo petista, Arag�o aumentou o volume das cr�ticas aos excessos da Lava Jato e aos frequentes vazamentos de dela��es premiadas ainda sob sigilo. Chegou a ser considerado, pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da for�a-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o maior inimigo da opera��o.


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