Avesso �s entrevistas e apari��es p�blicas fora dos tribunais, o ministro Teori Zavascki, que morreu no acidente a�reo em Paraty (RJ), teve perfil discreto ao longo de toda sua carreira como magistrado. Apesar de ter todos os holofotes voltados para seu gabinete quando foi sorteado para ser o ministro-relator no Supremo Tribunal Federal (STF) dos casos da Opera��o Lava-Jato que envolviam pol�ticos com foro privilegiado, Zavascki se manteve distante dos microfones, preferindo se pronunciar sempre por meio de suas decis�es.
O ministro era o respons�vel por conduzir os desdobramentos da maior investiga��o de combate � corrup��o no pa�s, que envolve nome de autoridades e os principais nomes da pol�tica nacional. Nas �ltimas semanas, seu gabinete vinha se debru�ando nas dela��es premiadas feita por 77 executivos do grupo Odebrecht.
O acordo de dela��o com a empresa – considerada uma das principais partes no esquema de corrup��o que se instalou na Petrobras e empresas subsidi�rias da estatal – ainda deveria ser homologado pelo ministro. Nas informa��es que foram divulgadas sobre alguns depoimentos, estavam implicados v�rios nomes fortes do governo de Michel Temer. At� ent�o, Zavascki j� havia homologado 24 dela��es premiadas no �mbito da opera��o, com cita��es de nomes de peso de v�rios partidos pol�ticos.
Em mar�o de 2015, em um dos principais epis�dios da Lava-Jato, Zavascki autorizou a abertura de inqu�rito para investigar 47 pol�ticos suspeitos de participa��o no esquema de corru��o. Todos eles foram inclu�dos na lista que ficou conhecida como “Lista do Janot”. O ministro determinou no fim de 2015 a pris�o do ent�o senador Delc�dio do Amaral e em maio deferiu medida que suspendeu o ent�o presidente da C�mara Eduardo Cunha.
Durante o conturbado processo do impeachment da presidente Dilma, Teori tamb�m tomou decis�es sobre o andamento do processo. Ele criticou por meio dos autos a divulga��o por parte do juiz Sergio Moro dos �udios envolvendo o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, e determinou que todas as investiga��es que envolviam Lula fossem remetidas ao Supremo. Depois ele devolveu a investiga��o para Curitiba, mas determinou que os �udios envolvendo Dilma fossem anulados. Em maio, o ministro negou pedido do governo Dilma para anular o processo de impeachment, permitindo que o Senado votasse sobre a abertura do processo.
VIDA PESSOAL E CARREIRA
Descendente de poloneses (por parte do pai) e italianos (por parte da m�e), Zavascki nasceu no pequeno munic�pio de Faxinal dos Guedes, no interior de Santa Catarina, em 15 de agosto de 1948. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1971, e fez doutorado em Direito Processual Civil pela mesma institui��o.
Entre 1976 e 1989 trabalhou como advogado para o Banco Central. Em 1979 foi aprovado em concurso p�blico e nomeado para os cargos de juiz federal e consultor jur�dico no Rio Grande do Sul, mas n�o tomou posse, escolhendo continuar com sua carreira na advocacia do BC. Na d�cada de 1990 se tornou desembargador do Tribunal Regional da 4ª Regi�o e se tornou presidente do tribunal em 2001.
Em 2002, Teori foi indicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para uma cadeira no Superior Tribunal de Justi�a (STJ). No ano seguinte, ap�s passar por sabatina no Senado, o catarinense foi nomeado pelo ex-presidente Lula e tomou posse em maio de 2003. Desde que assumiu as cadeiras nos tribunais, o ministro atuou tamb�m como professor na Faculdade de Direito do Rio Grande do Sul e na Universidade de Bras�lia.
Em setembro de 2012, Zavascki foi indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff para assumir uma cadeira na Suprema Corte, no lugar do ministro Cezar Peluzo, que se aposentou ao atingir a idade limite de 70 anos. Ao se despedir do STJ, ele brincou com seus colegas de tribunal sobre a fama de ser excessivamente minucioso em quest�es processuais. “Espero que todos os bons momentos apaguem minha fama de ‘apontador’ ou ‘cobrador’ das pequenas coisas”, brincou Zavascki.
O catarinense foi a terceira indica��o de Dilma para o STF. Em uma nova sabatina no Senado, seu nome foi aprovado por 54 votos a quatro. O STF vivia tempos movimentados, com o julgamento do caso do mensal�o, e houve especula��o de que Dilma nomearia um juiz ligado ao PT. O receio sobre Zavascki se dissipou rapidamente, com as decis�es t�cnicas apresentadas pelo ministro em plen�rio.