
Bras�lia – Os depoimentos vazados nos dois �ltimos dias de executivos da construtora Odebrecht, prestados no in�cio deste m�s ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin, relator do processo que pede a cassa��o da chapa Dilma-Temer por abuso de poder econ�mico e pol�tico, revelaram detalhes bomb�sticos das rela��es do Departamento de Opera��es Estruturas, chamado de “departamento de propinas”, da empreiteira com partidos e pol�ticos e como o dinheiro irrigou a �ltima chapa presidencial. O ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, revelou que a ex-presidente Dilma Rousseff sabia de pagamentos via caixa 2 para o seu marqueteiro, Jo�o Santana. “Ela nunca me disse que sabia que era caixa dois, mas � natural, ela sabia que toda aquela dimens�o de pagamentos n�o estava na presta��o do partido”, afirmou o empres�rio ao relator do TSE.
De acordo com Marcelo Odebrecht, a empreiteira doou R$ 150 milh�es � campanha de Dilma-Temer em 2014, incluindo R$ 50 milh�es como contrapartida de uma medida aprovada no Congresso em 2009 de interesse da construtora. “Talvez quatro quintos” do valor destinado � campanha de Dilma tenham sido via caixa dois e quem fazia a interlocu��o do PT com a empreiteira para os pagamentos a Santana eram os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, segundo o empres�rio.
Marcelo Odebrecht apresentou ainda ao TSE documentos que apontam o detalhamento da suposta movimenta��o da conta-corrente do “departamento da propina” feita pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Essa informa��o, segundo a Ags�ncia Estado, consta de trechos das declara��es de Odebrecht. Entre os documentos est� uma curta planilha em que aparece o codinome “Amigo”, que seria refer�ncia a Lula. A lista revela que, em 22 de outubro de 2013, o saldo de “Amigo” era de R$ 15 milh�es. J� em 31 de mar�o de 2014, o valor passou para R$ 10 milh�es. N�o foi explicado o que foi feito com R$ 5 milh�es.
Ao falar sobre o gerenciamento da conta com recursos repassados para as campanhas de Lula e da presidente cassada Dilma Rousseff, Marcelo afirmou que foi o ex-presidente quem indicou Antonio Palocci para administrar a conta-corrente irrigada por recursos de caixa dois. “Falei com ela (Dilma)... Olha, presidente (Dilma), em 2010, 2009, em 2010, eu falei: presidente, tudo eu estou tratando com o Palocci, era o meu combinado com o Lula, t� ok? Ela falou: T� ok”, disse o delator.
A assessoria de imprensa do Instituto Lula, por meio de nota, afirmou que n�o foi encontrado nenhum recurso indevido para o ex-presidente. “Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso ser� provado na Justi�a.” “Lula n�o tem nenhuma rela��o com qualquer planilha na qual outros se referem a ele como ‘Amigo’.” O instituto disse que “n�o cabe comentar depoimento sob sigilo de Justi�a vazado seletivamente e de forma ilegal.” J� a ex-presidente Dilma voltou a rebater as declara��es de Odebrecht, afirmando que nunca conversou sobre recursos de caixa dois com ele.
PARTIDOS Em depoimento ao TSE, o ex-diretor de Rela��es Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que a empreiteira pagou R$ 21 milh�es em dinheiro ao PROS, PCdoB e PRB, para comprar tempo de TV para a chapa Dilma-Temer 2014. O dinheiro, proveniente de caixa dois, foi entregue em hot�is e flats. Alexandrino disse que a empreiteira pagou R$ 7 milh�es para cada partido. Fontes que acompanham as investiga��es consideram o depoimento de Alexandrino um dos mais delicados para a chapa, j� que em 2015 o TSE mudou a sua jurisprud�ncia e passou a reconhecer a compra de apoio pol�tico como uma forma de abuso de poder econ�mico. Os tr�s partidos negaram caixa dois.
J� o ex-executivo da Odebrecht Jos� de Carvalho Filho, por sua vez, disse que o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), passou a ele todos os endere�os para o pagamento de R$ 4 milh�es destinados ao PMDB durante a campanha eleitoral de 2014. Um dos locais indicados por Padilha foi o escrit�rio de Jos� Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer (PMDB), informou Carvalho Filho ao ministro Herman Benjamin. “Todos os endere�os, esses e os outros que eu n�o me lembro, me foram dados pelo Eliseu Padilha”, disse Carvalho Filho. Procurada pela reportagem, a assessoria de Padilha disse que o ministro n�o vai se pronunciar sobre o vazamento do depoimento. A Odebrecht disse ontem, em nota enviada � imprensa, que n�o se manifesta “sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas f�sicas, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justi�a”.
Outro executivo, Benedito Junior, afirmou que o PMDB recebeu recursos pela obra da Usina de Belo Monte. “O PMDB tinha as pessoas que tratavam l� com os executivos anteriores a mim”, revelou, e ao ser perguntado quem seria o articulador de repasse de recursos, ele citou o senador Edison Lob�o (PMDB-MA) e “um deputado do Par�” como pol�ticos beneficiados. Lob�o nega a propina.
Veja trechos do depoimento
“A Dilma sabia da dimens�o da nossa doa��o, e sabia que n�s �ramos quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para Jo�o Santana.
Isso ela sabia”
“Todo marqueteiro tinha um problema com campanha, de voc� fazer a campanha e depois voc� paga. E a� come�ou um processo, l� atr�s, estou falando de 2008, onde eles procuravam acertar com a gente um valor e a gente dar um conforto a Jo�o Santana, que ele recebia”
“Cl�udio (Melo Filho, executivo da Odebrecht) j� havia acertado com o Padilha que seriam R$ 10 milh�es (para o PMDB) e R$ 6 milh�es para Paulo Skaf. Teve o jantar com o Michel, que foi institucional, eu nunca faria a falta de educa��o de mencionar valor”.
Marcelo Odebrecht
ex-presidente da Odebrecht