Bras�lia e S�o Paulo - Os delatores da JBS confessaram ter aberto um caixa de R$ 40 milh�es para a compra de apoio pol�tico � campanha de A�cio Neves (PSDB-MG) � Presid�ncia da Rep�blica, em 2014, a pedido do tucano. Os valores teriam sido pagos por meio de doa��es oficiais - classificadas, mesmo assim, como "propinas", pelos executivos do grupo - e de notas fiscais frias de empresas indicadas pelos dirigentes partid�rios, segundo a dela��o. Outros R$ 60 milh�es teriam sido destinados somente � campanha individual do senador afastado.
Somente para A�cio teriam sido destinados R$ 11 milh�es - nas primeiras tratativas. Posteriormente, os valores chegaram a R$ 60 milh�es, de acordo com os delatores.
A maior quantia do "caixa de propinas" supostamente acertado entre a empresa do setor agropecu�rio e o ent�o candidato foi para o PTB. Segundo o delator Ricardo Saud, foram R$ 20 milh�es pagos por meio de caixa dois, em esp�cie, e doa��es oficiais aos diret�rios da legenda. "Isso tudo antes da elei��o. Porque eles (dirigentes do PTB) falaram que s� dariam apoio ao A�cio se pagassem antes da elei��o", afirmou.
"Foram R$2 milh�es entregues em esp�cie na casa do senhor Luiz Rondon, tesoureiro nacional do PTB. Al�m disso, alguns dep�sitos feitos por indica��o do Luiz Rondon em algumas contas. Est�o anotadas as tr�s contas espec�ficas", alegou.
O acordo de dela��o da JBS ainda menciona R$ 5 milh�es ao diret�rio estadual do PTB da Bahia, R$ 4 milh�es ao do Rio de Janeiro, R$ 3 milh�es ao de Santa Catarina, R$ 1,5 milh�o para o do Rio Grande do Sul, R$ 3,4 milh�es ao Mato Grosso.
Outro partido que teria ficado com a maior parte das propinas acertadas entre A�cio e a JBS, de acordo com os delatores, foi o Solidariedade. Dos R$ 15 milh�es direcionados � sigla, R$ 11 milh�es foram doados oficialmente ao diret�rio nacional, segundo os executivos. Ricardo Saud, da J&F, ponderou que o Solidariedade, naturalmente, seria uma das legendas que apoiariam A�cio, mas, mesmo assim, foi acertada a "ajuda".
Os outros R$ 4 milh�es foram viabilizados por meio de notas fiscais frias a empresas indicadas por Paulinho da For�a, presidente da legenda, contaram os delatores. Os documentos foram entregues ao MPF.
O delator narrou inclusive um conflito entre A�cio e o senador Agripino Maia em torno da campanha do DEM em 2014. Inicialmente, segundo o executivo, estavam acertados R$ 10 milh�es ao partido, mas, ap�s um suposto desentendimento entre o presidenci�vel e o democrata, o financiamento teria sido interrompido.
"E o Agripino me ligava dia sim, dia n�o: 'cara, cad� o dinheiro, j� foi autorizado, eu fui o coordenador da campanha'. Aquela coisa toda. A� eu peguei e falei: 'Voc� vai me desculpar, mas n�o tem nada para o senhor, mandaram cancelar'".
De acordo com a dela��o, ap�s uma conversa entre A�cio e Agripino, o caixa do DEM voltou a ser liberado. "Ele conversou, e voltou com 2 milh�es. Esses 2 milh�es foi feita a doa��o e pediu para depositar na conta do DEM", alegou Saud.
A JBS ainda d� conta de doa��es oficiais de R$ 150 mil ao PSL, R$ 650 mil ao PTC, R$ 50 mil ao PSDC, R$ 400 mil ao PTN, R$ 500 mil ao PEN, R$ 1 milh�o ao PT do B, e R$ 1,3 milh�o ao PMN - todas integrantes da coliga��o "Muda Brasil", que lan�ava A�cio � Presid�ncia.
Os executivos relataram que a �nica legenda que lan�ou candidatura independente, em 2014, e entrou no pacot�o apontado pelos delatores � o PSC, que al�ou Pastor Everaldo ao Planalto. O diretor de Rela��es Institucionais da J&F Ricardo Saud alegou ter tratado do pagamento de R$ 100 mil, por meio de doa��o oficial, a pedido de A�cio Neves, junto a um interposto do partido.
"Como � que o pastor Everaldo era candidato e t� dando R$ 100 mil para o partido? parece que era pra ter um debate e tal", relatou. Pastor Everaldo tamb�m � citado pela Odebrecht em uma suposta propina para ajudar A�cio em debate eleitoral televisivo, na corrida presidencial de 2014.
At� mesmo o PMDB, que apoiou Dilma Rousseff, entrou para o pacot�o de repasses da JBS para a "compra de apoio pol�tico" da candidatura de A�cio, segundo a vers�o dos delatores. Os executivos dizem ter doado R$ 1,5 milh�o para a campanha de Ivo Sartori (PMDB-RS) ao governo estadual do Rio Grande do Sul.
"O A�cio pegou e pediu pra dar R$ 1,5 milh�o para o PMDB do Rio Grande do Sul. L�, o Ivo Sartori era dissidente, porque o PT tinha candidato. A�, o A�cio deu 1,5 milh�o desse dinheiro dessa propina para o Sartori. E a� fizemos doa��es oficiais dissimuladas”, relatou.
Defesas
"S�o falsas as declara��es dadas por Joesley Batista e Ricardo Saud, que atuaram em seus depoimentos como verdadeiros atores na tentativa de construir uma narrativa que sustente a hist�ria criminosa que fabricaram para ganhar os benef�cios da dela��o e sobre a qual n�o apresentaram provas concretas", disse a assessoria do senador tucano.
"O senador A�cio Neves prestar� � Justi�a, por meio de sua defesa, todos os esclarecimentos sobre os assuntos mencionados e reitera que jamais recebeu propinas ou defendeu interesses da JBS, como o pr�prio Saud admite na declara��o dada de que: 'A�cio nunca fez nada por n�s'", finaliza a assessoria.
O PTB tamb�m se manifestou: "O Diret�rio Nacional do Partido Trabalhista Brasileiro afirma que a legenda recebeu doa��es de campanha da empresa JBS S.A. nas elei��es gerais de 2014. Entretanto, o PTB ressalta que todas as doa��es recebidas pela referida empresa foram feitas por indica��o do presidente nacional do PSDB, senador A�cio Neves (MG), candidato a presidente da Rep�blica apoiado pelo partido naquela �poca. E reiteramos que as doa��es recebidas foram realizadas rigorosamente dentro das normas legais e devidamente declaradas � Justi�a Eleitoral".
"O Diret�rio Nacional do PTB, portanto, esclarece que o partido jamais teve qualquer rela��o com a JBS nem com qualquer membro da empresa - seja pessoa f�sica, seja pessoa jur�dica. Certificamos que o partido n�o teve v�nculo com a JBS no passado, n�o tem no presente e n�o ter� no futuro".
"Declaramos tamb�m que o PTB n�o tem compromisso em ajudar a JBS, tendo em vista a atua��o aberta, firme e intensa de parlamentares do partido na CPI do BNDES, comiss�o que teve por objetivo investigar irregularidades em empr�stimos concedidos pelo banco. Por fim, reiteramos o apoio do Partido Trabalhista Brasileiro �s investiga��es da Lava Jato, e queremos que as den�ncias envolvendo a JBS S.A. sejam apuradas e a empresa seja devidamente punida por todos os crimes que cometeu". A nota � assinada por Roberto Jefferson, presidente nacional da legenda.
O senador Jos� Agripino Maia, presidente do DEM, afirmou que nunca houve "qualquer entrevero com A�cio Neves" e que apenas ligou para o delator Ricardo Saud porque havia um atraso nas doa��es oficiais da JBS ao partido. "A minha liga��o foi por conta de a doa��o ter sido feita a doa��o dia 2 de outubro, perto de quando se encerrava o per�odo em que as doa��es poderiam ser utilizadas e distribu�das aos candidatos. Foi feita pelo retardamento da doa��o prometida e que n�o acontecia. N�o teve entrevero entre eu e A�cio", afirmou.
"Todas as contas eleitorais do Solidariedade foram aprovadas pela Justi�a Eleitoral", diz nota do partido. "A JBS fez uma doa��o legal de R$ 11 milh�es, que foram distribu�dos oficialmente entre diversos candidatos do partido pelo Brasil, portanto, n�o h� irregularidade. Tamb�m � importante ressaltar que o Solidariedade foi um dos primeiros partidos a se definir na elei��o de 2014, muito antes dos demais", finaliza a nota.
"Sobre a informa��o de que o Partido Social Crist�o teria recebido recursos do Grupo JBS nas elei��es de 2014, o partido esclarece que:
- O Grupo JBS n�o fez nenhuma doa��o para o Diret�rio Nacional e nem para a campanha presidencial do PSC;
- As campanhas do partido sempre foram modestas e feitas com recursos legais, informados � Justi�a Eleitoral por meio das presta��es de contas entregues ao TSE;
- � absolutamente fantasiosa a suposi��o de que atua��o do partido na campanha de 2014 tenha sido influenciada por qualquer empresa".
O presidente do PMN Ant�nio Carlos Bosco Massarolo confirmou que o partido recebeu R$ 1,3 milh�o, registrado em doa��es oficiais, da JBS, no entanto, disse desconhecer as tratativas do senador afastado A�cio Neves para angariar os recursos. Ele tamb�m afirmou que, como encabe�ou a chapa eleitoral, o tucano ficou respons�vel pela arrecada��o de campanha.
"A JBS provavelmente fez essa doa��o a pedido do A�cio Neves, porque o partido n�o tinha essas rela��es com a empresa. N�o sei como foram as tratativas, mas, pelo que vi na imprensa, parece que o linguajar do A�cio n�o � dos melhores", afirmou.
Massarolo ainda esclarece que, quando a doa��o � feita ao partido, "� feito um recibo eleitoral � discriminado da origem". "Nas contas dos candidatos deve constar. � �poca, n�o existia nenhum tipo de ideia de que poderia haver esses embara�os legais da JBS", relatou.
O PSDC tamb�m se manifestou: "Em depoimento prestado pelo executivo da JBS, Valdir Aparecido Boni, � Procuradoria Geral da Rep�blica em 4 de maio de 2017, o executivo afirma que todas as tratativas pertinentes as irregularidades fiscais que teriam beneficiado a JBS, em Rond�nia, foram mantidas exclusivamente com o contador Clodoaldo Andrade, na sede da sua empresa, Rio Madeira Contabilidade Empresarial".
"Considerando que o senhor Clodoaldo Andrade, integra a dire��o do PSDC do Estado de Rond�nia (...) e que no depoimento prestado pelo executivo Valdir Aparecido Boni, ele teria conhecido o referido contabilista na sede do PSDC (...) a Comiss�o Executiva do Diret�rio Nacional do PSDC, fundamentada em seu compromisso com a transpar�ncia e a legalidade, convocou o Presidente Estadual do PSDC em Rond�nia, o Eng. Edgard Nilo Tonial e o Contador Clodoaldo Andrade, tamb�m integrante da Dire��o Estadual do PSDC naquele Estado, para comparecerem na sede operacional do partido em S�o Paulo - SP, e apresentarem a vers�o dos fatos.
Ap�s a audi�ncia, a Dire��o Nacional do PSDC, deliberar� sobre as provid�ncias que se mostrarem necess�rias, no �mbito partid�rio".
A reportagem entrou em contato com o PT do B, mas n�o obteve resposta at� a publica��o desta mat�ria. O espa�o est� aberto para manifesta��o.
Da mesma forma, entrou em contato com o PEN e o PTC, mas n�o consegui respostas. O espa�o est� aberto para os duas legendas.