
A pris�o do ex-ministro Geddel Vieira Lima trouxe mais problemas ao governo em uma semana que j� n�o seria f�cil. O presidente Michel Temer precisa apostar todas as fichas na rela��o com a base governista na C�mara para derrubar a den�ncia de corrup��o passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR). Com a possibilidade de o procurador-geral, Rodrigo Janot, apresentar outra den�ncia hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF), e com parte dos deputados receosos em assumir um compromisso p�blico com o Planalto, a pris�o de um dos homens que, at� pouco tempo atr�s, estava na “cozinha” de Temer pode ser o motivo que alguns precisavam para autorizar a investiga��o contra o presidente.
Geddel foi detido preventivamente pela Pol�cia Federal, na tarde dessa segunda-feira (3), na Bahia, acusado de obstru��o de Justi�a nas apura��es da Opera��o Cui Bono?, express�o que significa “A quem interessa?”. Desdobramento da Opera��o S�psis, a investiga��o foca em irregularidades na Caixa Econ�mica Federal cometidas na �poca em que o peemedebista era vice-presidente de Pessoa Jur�dica do banco. Com Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos na opera��o: os ex-presidentes da C�mara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o doleiro L�cio Funaro e Andr� Luiz de Souza.
De acordo com a decis�o do juiz federal da 10ª Vara, Vallisney de Oliveira, o pol�tico baiano tem agido para evitar que o deputado cassado Eduardo Cunha e o doleiro L�cio Funaro fechem acordo de colabora��o premiada. Em depoimento � Justi�a, Funaro citou mensagens e liga��es para sua esposa que o ex-ministro teria feito. Ele entregou imagens da tela do celular para comprov�-las. Com o codinome “carainho”, Geddel sondava a mulher de Funaro sobre a disposi��o dele em fechar dela��o com o Minist�rio P�blico Federal (MPF). O advogado de defesa do ex-ministro, Gamil F�ppel, afirma que o peemedebista foi “injustamente enredado no bojo da Opera��o Cui Bono?” e que “deposita sua integridade f�sica nas m�os da autoridade policial”.
Sem rela��o
Ao saber da pris�o, aliados do presidente rapidamente se mobilizaram para afastar a situa��o de Geddel do tr�mite da den�ncia contra Temer. L�der do governo no Congresso, o deputado Andr� Moura (PSC-SE) reconhece que � algo que traz instabilidade, mas afirma que n�o h� qualquer rela��o com a pe�a que ser� apreciada na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) a partir desta semana (leia mais na p�gina 3). “N�o h� nenhum tipo de conex�o da pris�o com a den�ncia. A pris�o � por conta de uma suposta tentativa de obstru��o � Justi�a. Espero que os membros da CCJ analisem a acusa��o em si, que tenham, acima de tudo, responsabilidade com pa�s e com o momento que estamos vivendo (...) N�o podemos permitir que esses fatores externos possam ser utilizados na CCJ na tentativa de trazer mais discuss�o”, comenta.
Entretanto, o descolamento dos fatos n�o ser� f�cil. Por mais que esteja fora do governo desde novembro do ano passado (leia mem�ria), Geddel � um dos principais aliados de Michel Temer e um dos pilares da sua carreira pol�tica, ao lado de Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, e de Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presid�ncia. O pol�tico baiano, ali�s, � citado por Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, na grava��o com Temer que originou a den�ncia em an�lise na CCJ. No di�logo, Joesley comenta que perdeu o contato com Geddel porque ele virou investigado e o presidente o alerta que � “perigos�ssima a situa��o”, porque isso poderia ser considerado obstru��o de Justi�a.
Em outro trecho, Joesley fala que vinha se comunicando com o presidente por meio de Geddel, mas, como n�o era mais poss�vel, pergunta quem seria a outra pessoa. � quando Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures para o contato. Flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil que seria para o presidente, Loures foi solto no s�bado.
Para o deputado Julio Delgado, (PSB-MG), a deten��o de mais um homem do “n�cleo duro” de Michel Temer corrobora a tese apresentada por Rodrigo Janot na den�ncia. “� claro que agrava o quadro do presidente. Demonstra claramente todo o esquema montado para interferir nas investiga��es e evitar dela��es premiadas”, diz. “A situa��o est� extremamente deteriorada. O governo ter� de gastar muita energia para poder equilibrar o jogo. Ele est� ficando sem aliados para defend�-lo”, comenta um integrante da base que prefere n�o se identificar.
O cientista pol�tico do Instituto Universit�rio de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Geraldo Tadeu Monteiro concorda que a situa��o se complica. “O governo est� sendo acossado por todos os lados. E, na C�mara, � um julgamento pol�tico, n�o � jur�dico.”
“In-su-por-t�-vel!”
Colega de escola e desafeto do cantor e compositor Renato Russo, l�der da banda Legi�o Urbana, Geddel era considerado pelo artista como “in-su-por-t�-vel!”. A hist�ria � contada no livro Renato Russo: O filho da Revolu��o, do jornalista Carlos Marcelo. “Filho do pol�tico baiano Afr�sio Vieira Lima, o gordinho Geddel era um dos palha�os da turma. Chegava ao col�gio dirigindo um Opala verde, o que despertava a aten��o das meninas e a inveja dos meninos — que davam o troco chamando-o de “Su�no”. Tinha sempre uma piada na ponta da l�ngua; as mat�rias, nem sempre. — Eu vou ser pol�tico!”, destaca trecho da biografia.
Mem�ria
Apartamento da disc�rdia
Em novembro de 2016, um apartamento em uma �rea tombada de Salvador foi o respons�vel pela queda do ex-ministro Geddel Vieira Lima. O problema come�ou quando o peemedebista comprou um im�vel do empreendimento La Vue Ladeira, na Barra, �rea nobre da capital baiana. Avaliado em R$ 2,6 milh�es, o pr�dio ganhou destaque nacional depois que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero pediu demiss�o do cargo e revelou que estava sofrendo press�o de Geddel para que intermediasse a libera��o das obras pelo Instituto do Patrim�nio Art�stico e Cultural (Iphan), �rg�o vinculado ao Minist�rio da Cultura.
A constru��o do empreendimento havia sido inicialmente autorizada pelo Iphan da Bahia, controlado por um aliado de Geddel. Mas o Iphan nacional decidiu embarg�-la por causa dos poss�veis impactos em bens hist�ricos da �poca da funda��o da capital baiana, no S�culo 16. � �poca, Calero chegou a gravar a conversa que teve com presidente Michel Temer, no Pal�cio do Planalto, sobre a press�o de Geddel. Em depoimento � Pol�cia Federal, Calero disse que foi “enquadrado” por Temer, que interveio em favor do ent�o ministro da Secretaria de Governo. “No epis�dio que agora se torna p�blico, cumpri minha obriga��o como cidad�o brasileiro que n�o compactua com o il�cito e que age respeitando e valorizando as institui��es”, afirmou.
