
Sem nunca ter perdido uma elei��o, o ent�o ministro da Fazenda Ant�nio Palocci era nome de peso em 2006 na c�pula do PT para suceder a Luiz In�cio Lula da Silva. Bra�o direito do presidente e principal astro da equipe que conseguia �timos resultados na economia, o m�dico sanitarista ganhou mais for�a ap�s Jos� Dirceu deixar o governo no esc�ndalo do mensal�o. Pois 11 anos depois partiu extamente de Palocci o depoimento mais comprometedor para Lula.
Agora, em conversas com aliados, Lula diz que est� decepcionado com Palocci. Al�m de negar as acusa��es, o ex-presidente se queixa de express�es usadas no depoimento a Moro, como “pacto de sangue” e “propina”. A defesa de Lula ressalta que o novo depoimento de Palocci contradiz outros prestados por Palocci e delatores.
A proximidade entre Lula e Palocci vem de muito tempo, antes de o PT chegar ao Planalto. Os dois est�o entre os principais fundadores do partido, em 1980. Pouco depois de ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP), em Ribeiro Preto, em 1978, Palocci militou na Libelu (Liberdade e Luta), movimento estudantil de tend�ncia trotskista.
Entre 1985 e 1988, trabalhou na Secretaria de Sa�de de S�o Paulo como diretor do Hemocentro de Ribeiro Preto e diretor do Servi�o de Vigil�ncia Sanit�ria do estado. Palocci ganhou cada vez mais for�a dentro do PT. Em 1988, entrou para a atividade parlamentar e, aos 28 anos, foi eleito vereador em Ribeir�o Preto.
Sua ascens�o na pol�tica ocorreu ininterruptamente. Apenas dois anos depois, ainda no meio do primeiro mandato, ele se elegeu deputado estadual. Tamb�m permaneceu dois anos na Assembleia paulista e, em 1992, ganhou a Prefeitura de Ribeir�o Preto. Preferiu n�o tentar a reelei��o, disputou uma cadeira na C�mara dos Deputados e foi eleito com 125 mil votos.
Campanha Em Bras�lia, Palocci se tornou um dos principais nomes do PT. Voltou a conquistar a Prefeitura de Ribeir�o Preto, em 2000, mas deixou o cargo para coordenar a campanha presidencial de Lula em 2002. Ap�s tr�s derrotas em disputas presidenciais (1989, 1994 e 1998), Lula passou por uma significativa transforma��o para a campanha de 2002. Enquanto marqueteiros fizeram mudan�as na imagem do ex-sindicalista, que tinha um discurso radical, coube a Palocci fazer a interlocu��o de Lula com o setor empresarial. Foi do m�dico a ideia de publicar a Carta ao Povo Brasileiro, em junho de 2002, na qual Lula se compromete a governar respeitando contratos. O documento idealizado por Palocci serviu para acalmar o mercado, que receava a vit�ria do petista.
No governo Lula, Palocci foi nomeado ministro da Fazenda e adotou uma pol�tica econ�mica baseada no controle da infla��o, super�vit prim�rio e na manuten��o dos marcos gerais do Plano Real. O resultado foi queda da infla��o, fortalecimento do real frente ao d�lar e – grande marco da atua��o de Palocci – a quita��o da d�vida com o Fundo Monet�rio Internacional (FMI). Sua atua��o no comando da equipe econ�mica rendeu muitas cr�ticas de lideran�as da esquerda, que consideraram Palocci um adepto das pol�ticas neoliberais deixadas por Fernando Henrique Cardoso.
Ainda que tenha passado ileso durante o esc�ndalo do mensal�o petista em 2005, Palocci foi alvejado em outras den�ncias de corrup��o e a partir de 2006 viu seu nome se enfraquecer como candidato a sucessor de Lula. Ele foi acusado de articular repasse de caixa dois de campanhas petistas em 2002 e 2004 e fazer lobby para empres�rios.
A candidatura de Palocci foi descartada no PT depois que estourou o epis�dio do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que trabalhava em uma casa alugada por lobistas em Bras�lia e teve seu sigilo banc�rio quebrado de forma ilegal. O caseiro tinha revelado o encontro de Palocci, ent�o ministro da Fazenda, com empres�rios e lobistas fora da agenda oficial. Com o titular da Fazenda enfraquecido, Dilma Rousseff, ent�o ministra de Minas e Energia, foi a escolhida para disputa eleitoral de 2010.
PATRIM�NIO MULTIPLICADO
Com a elei��o de Dilma, em 2011 Palocci voltou ao centro do poder, desta vez como ministro-chefe da Casa Civil. Mas a nova passagem pela Esplanada dos Minist�rios seria breve. A den�ncia era de que o m�dico aumentou seu patrim�nio em 20 vezes entre 2006 e 2010. Em junho, ele foi o primeiro a deixar o governo Dilma, apenas seis meses depois de assumir, naquela que ficou conhecida como “faxina”.
Apesar de ter ocupado v�rios cargos p�blicos de destaque, a maior for�a de Palocci estava nos bastidores da pol�tica e nas negocia��es para arrecada��es de campanhas. Mas foram exatamente essas articula��es que o levaram para cadeia. Em junho, ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 12 anos de pris�o pelos crimes de corrup��o passiva e lavagem de dinheiro. O juiz entendeu que Palocci negociou propinas com a Odebrecht por meio de contratos com a Petrobras.
Preso h� um ano, durante a Opera��o Omert� (nome de uma fase da Lava-Jato que faz refer�ncia � origem do codinome “Italiano” que a Odebrecht usava em planilhas para citar Palocci e que ele assumiu em depoimento a Moro), o ex-ministro n�o tinha admitido nenhum crime at� esta semana, quando prestou depoimento bomb�stico a Moro. Al�m de assumir todos os crimes de que era acusado no processo, Palocci implicou Lula nas articula��es e pode ter novamente interferido em uma elei��o presidencial.