
Primeira mulher a chefiar o Minist�rio P�blico Federal (MPF), Raquel Elias Ferreira Dodge, de 57 anos, assume o cargo hoje com uma extensa e pol�mica fila de casos de corrup��o envolvendo os principais personagens do cen�rio pol�tico nacional. A cerim�nia est� marcada para as 10h30 no audit�rio do MPF, em Bras�lia.
Caber� a ela decidir os pr�ximos passos em inqu�ritos e dela��es que colocam sob suspeita membros dos poderes Executivo, Legislativo e at� do Judici�rio. A grande d�vida � sobre como Dodge se portar� em rela��o aos casos da opera��o Lava-Jato. Se ela seguir� o ritmo de seu sucessor Rodrigo Janot, que denunciou centenas de pol�ticos, ou se ter� uma postura menos agressiva no combate � corrup��o.
Entre os primeiros desafios da nova procuradora-geral estar� a an�lise das dela��es da empreiteira OAS. As informa��es prestadas pelos executivos da empresa em acordo de colabora��o narram repasses por meio de caixa 2 para campanhas de v�rios partidos e envolvem os ex-presidentes petistas Luiz In�cio Lula da Silva e Dilma Rousseff, caciques do PSDB, como os senadores A�cio Neves e Jos� Serra, e aliados pr�ximos ao presidente da Republica Michel Temer (PMDB).
Caso as dela��es dos empreiteiros sejam homologadas pelo ministro-relator da Lava-Jato no Supremo,, Edson Fachin, caber� � nova procuradoria-geral da Rep�blica, chefiada por Dodge, apontar se ser�o abertos novos inqu�ritos. A atua��o da nova procuradora em seu primeiro desafio pode apontar como ser� o tratamento dela sobre as pr�ximas investiga��es de casos de corrup��o.
Durante debates entre candidatos � chefia do MPF, Dodge defendeu a continuidade e amplia��o da Opera��o Lava-Jato. Prometeu tamb�m maior celeridade na condu��o dos processos. Dentro do �rg�o, ela � tida como algu�m que fez oposi��o moderada a Janot. Em abril, uma proposta apresentada por Dodge ao Conselho Superior do Minist�rio P�blico para restringir o tr�nsito de procuradores no MPF gerou embate com o grupo de Janot, que via a proposta como obst�culo para a Lava-Jato.
Atualmente, procuradores de quaisquer unidades podem ser realocados para outras coordenadorias ou equipes exclusivas de determinadas investiga��es. A maioria dos que integram a for�a-tarefa da Lava-Jato, por exemplo, foi cedida por outros estados. Dodge argumentou que isso provocava desfalque em procuradorias nas unidades da Federa��o e sugeriu limitar a 10% o n�mero de procuradores que podem ser cedidos a outros estados. Janot criticou a medida e pediu vista, mas o Conselho aprovou a proposta de Dodge, que passar� a valer a partir de janeiro de 2018, mas sem afetar grupos de investiga��es j� formados.
Futuro de Temer nas m�os
A nova procuradora-geral decidir� tamb�m sobre o futuro dos principais integrantes do Pal�cio do Planalto e do pr�prio presidente Michel Temer, que j� foi denunciado duas vezes por Rodrigo Janot. Ministros como Eliseu Padilha (PMDB), da Casa Civil, e Moreira Franco (PMDB), da Secretaria-Geral da Presid�ncia, al�m do l�der do governo no Senado, Romero Juc� (PMDB), foram citados por v�rios delatores da Lava-Jato como benefici�rios de propinas. Padilha e Moreira Franco foram denunciados ao lado de Temer, acusados de organiza��o criminosa.
Dodge estar� � frente do MPF durante todo o desenrolar da segunda den�ncia apresentada por Janot na semana passada, em que a PGR acusou o presidente tamb�m de obstru��o de Justi�a. Ela pouco poder� influenciar o andamento da den�ncia, uma vez que o teor das acusa��es ser� analisado pelo C�mara dos Deputados e pelo STF, mas poder� ser chamada a se posicionar sobre quest�es pol�micas das dela��es dos executivos da JBS.
Na quarta-feira, por exemplo, a nova procuradora-geral poder� atuar no caso, quando o STF retoma o julgamento do pedido da defesa de Temer para que a den�ncia n�o seja enviada � C�mara.
Um outro caso envolvendo Temer, em que o presidente � investigado por influenciar a edi��o de um decreto para o setor portu�rio em troca de propina, ser� analisado por Dodge e a nova equipe do MPF. Caber� � nova procuradora avaliar as provas apresentadas pela Pol�cia Federal para decidir se Temer enfrentar� uma terceira den�ncia.
Al�m dos casos pol�micos envolvendo caciques pol�ticos, Raquel vai lidar tamb�m com interesses corporativos, os altos sal�rios e benef�cios da carreira no MPF, que, apesar da crise econ�mica pela qual passa o pa�s, incluiu em sua proposta de or�amento para 2018 um aumento de 16,7% para os procuradores. O �ndice foi considerado muito acima das expectativas de infla��o e foi barrado pelo Supremo.
Segunda colocada
Raquel Dodge foi indicada para a chefia do MPF por Temer mesmo tendo ficado em segundo lugar na lista tr�plice elaborada por procuradores de todo o pa�s. Desde 2003, quando o ex-presidente Luiz In�cio da Silva passou nomear o primeiro colocado da lista para assumir o cargo, todos os mais votados tinham sido indicados pela presid�ncia da Rep�blica.
Era uma forma de o Planalto evitar a interfer�ncia na escolha dos procuradores. Em primeiro lugar na lista composta por Dodge, ficou o vice-procurador-geral da Rep�blica Nicolao Dino, considerado mais alinhado a Janot e por isso muito criticado no meio pol�tico.
Em agosto, Dodge foi alvo de cr�ticas ap�s se reunir com Temer no Pal�cio do Jaburu, � noite e fora da agenda oficial do presidente. Um cinegrafista flagrou ela entrando na resid�ncia oficial do peemedebista �s 22h. A reuni�o causou mal-estar dentro do do pr�prio MPF e no Planalto.
As assessorias do presidente e de Dodge informaram que o encontro fora da agenda foi para discutir detalhes sobre a cerim�nia de posse. Questionada sobre o motivo de o encontro n�o ter constado na agenda oficial, a assessoria do Pal�cio do Planalto explicou que, quando Temer combinou a reuni�o com a ent�o futura procuradora-geral, ele j� estava no Jaburu. Diferentemente dos seus antecessores, Raquel Dodge n�o tomar� posse no Pal�cio do Planalto.
Quem �
Raquel Elias Ferreira Dodge, de 56 anos, nasceu em Morrinhos, Goi�s. Se formou em direito pela Universidade de Bras�lia (UnB) e fez mestrado na �rea pela Universidade Harvard (EUA). Em 1985, entrou para o Minist�rio P�blico, onde fez carreira na �rea criminal. � casada com Bradley Dodge, norte-americano que mora no Brasil e foi professor da Escola das Na��es, institui��o de ensino para filhos de diplomatas. Eles t�m dois filhos, Eduardo e Sofia, que moram nos EUA.