S�o Paulo - Algumas horas antes de furar o bloqueio imposto por militantes ao Sindicato dos Metal�rgicos do ABC e se entregar � Pol�cia Federal, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, reuniu vice-presidentes e demais dirigentes do PT, parlamentares e l�deres de movimentos sociais para dar uma de suas �ltimas orienta��es pol�ticas antes de ir para a pris�o: enquanto estiver na cadeia, em Curitiba, quem fala por ele sobre assuntos do partido � a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da legenda.
� primeira vista, a ordem, anunciada em uma sala reservada, pareceu redundante, j� que Gleisi foi eleita com maioria absoluta - 61% dos votos - no 6º Congresso Nacional do PT em junho do ano passado, em Bras�lia. Lula, l�der de fato da legenda, no entanto, teme que, na sua aus�ncia, as correntes e grupos internos que disputam espa�o no partido deflagrem uma guerra fratricida pelo poder.
Al�m de evitar um racha no PT, ao dar poder a Gleisi, Lula cria um canal para manter seu controle sobre o partido. Segundo l�deres petistas, a decis�o contrariou setores que defendiam a nomea��o de um porta-voz para o per�odo em que o ex-presidente estiver na cadeia.
De acordo com pessoas que acompanharam o desenrolar da pris�o do petista nos �ltimos dias, as idas e vindas nos processos de tomada de decis�es durante as negocia��es com a Pol�cia Federal para a rendi��o serviram como term�metro do que pode acontecer ao partido sem o comando de Lula. Um exemplo citado foi a escolha dos tr�s emiss�rios respons�veis por conduzir as negocia��es com a PF que, conforme auxiliares de Lula, s� foi decidida ap�s uma intensa disputa entre correntes, bancadas e movimentos sociais ligados ao PT.
A reuni�o na qual Lula indicou Gleisi como porta-voz teve a participa��o dos vice-presidentes do PT Marcio Macedo, Paulo Teixeira e Alberto Cantalice, do tesoureiro Em�dio de Souza, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e de integrantes de movimentos sociais. Segundo um dos participantes, Lula anunciou que a senadora � sua representante e mudou rapidamente de assunto, n�o dando margem a questionamentos.
Den�ncia
Gleisi � r� na Lava Jato pelos crimes de corrup��o passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a den�ncia do Minist�rio P�blico Federal, em 2010, R$ 1 milh�o do esquema de corrup��o na Petrobr�s foi destinado � campanha da petista ao Senado. Ela nega e se diz "v�tima de persegui��o pol�tica".
A senadora integra a corrente majorit�ria Construindo um Novo Brasil (CNB), mas at� a elei��o n�o participava ativamente da vida org�nica do partido. A escolha de Gleisi foi uma decis�o pessoal de Lula, que temia a vit�ria de Lindbergh, apoiado por correntes da esquerda petista como Mensagem e Democracia Socialista.
Ao transferir poderes � presidente do PT, no entanto, Lula deixou claro que as decis�es jur�dicas cabem � sua equipe de advogados, comandada por Cristiano Zanin Martins. Alguns l�deres petistas avaliam que, se Lula passar muito tempo preso, o ex-prefeito de S�o Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo do PT, pode perder espa�o.