
Curitiba, 07 - Um drone branco sobrevoa diariamente o pr�dio da Pol�cia Federal em Curitiba (PR), onde ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva est� preso h� um m�s, condenado pela Opera��o Lava Jato no caso triplex do Guaruj�. Pela c�mera da mini aeronave n�o tripulada, policiais monitoram o movimento dos moradores locais e dos "acampados" na �rea sitiada do entorno da Superintend�ncia da PF. O ambiente � cada vez mais tenso.
Os epis�dios recorrentes de conflitos levaram na �ltima semana o prefeito de Curitiba, o urbanista Rafael Greca (PMN), a fazer uma "s�plica" � Justi�a. Ele cobrou a sa�da de Lula - e dos manifestantes - do local e disse que e o zoneamento urbano do bairro onde est� a sede da PF pode at� comportar um pr�dio com o servi�o de emiss�o de passaportes, mas n�o "alojar, em car�ter de confinamento penitenci�rio, um preso com a expressiva trajet�ria pol�tica do l�der sindical, mentor e l�der de movimentos sociais, ex-presidente da Rep�blica".
O zumbido di�rio do drone da PF � mais um dos barulhos da nova rotina do antes sossegado bairro Jardim Santa C�ndida, local arborizado num dos extremos de Curitiba. Desde a chegada de Lula e do grupo de apoiadores, a �rea virou palco de rela��es conflituosas.
Do alto, as imagens do drone registram desde o dia 7 de abril o esvaziamento do acampamento - organizado pelo PT e pelo MST e batizado de "Lula Livre". Nas duas primeiras semanas, ap�s a chegada do ex-presidente, cerca de 500 manifestantes formavam o acampamento, com barracas espalhadas nas ruas do bairro e sobre as cal�adas. Com ele vieram o com�rcio clandestino, a cantorias, os gritos de ordem, o futebol nas ruas, a constante presen�a policial, os bloqueios de tr�fego e a quebra da rotina.
Desde o dia 7, s�o cerca de 70 pessoas, segundo a organiza��o, que passaram a dormir em barracas em um terreno alugado h� 800 metros do ponto principal dos protestos, a "esquina Olga Ben�rio", como batizaram os acampados o encontro da rua Guilherme Matter com a Dr. Barreto Coutinho. O cruzamento � o marco zero do acampamento, que est� bloqueado pelos manifestantes e pelo cord�o da isolamento da Pol�cia Militar - que cumpre ordem da Justi�a estadual de interdito da �rea do entorno da PF.
Ali permanecem quatro barracas da estrutura operacional do movimento: a que recebe os donativos, a da comunica��o, a da organiza��o e a das caixas de som. � no local que todos os dias o grito em coro, amplificado, quebra o sil�ncio das manh�s do bairro: "Bom dia, presidente Lula! Bom dia, presidente Lula! Bom dia, presidente Lula". Uma sauda��o-protesto que se repete no "boa tarde" e no "boa noite", diariamente.
Foi na "esquina Olga Ben�rio" que na sexta-feira passada um delegado da PF, morador do bairro, quebrou o equipamento sonoro e discutiu com manifestantes. Dias antes, moradores entraram em confronto verbal e houve empurra-empurra, novamente por causa do som das "sauda��es a Lula".
Os moradores se organizaram em grupos de WhatsApp para trocar informa��es e buscar a remo��o dos "invasores". Eles tamb�m passaram a isolar os jardins de suas cal�adas com fitas de seguran�a para tentar impedir montagem de barracas e a ocupa��o pelos apoiadores de Lula.
"Essa baderna nos impede de ir e vir com tranquilidade e seguran�a, nos coloca medo em rela��o a nossas esposas e filhos, nos coloca a merc� de maus odores e ao risco de doen�as em raz�o do lixo que por vezes se acumula", diz um abaixo-assinado enviado � governadora do Paran�, Cida Borghetti (PP), com c�pia para a 12.ª Vara Federal de Curitiba no dia 28. "Vivemos acuados e amedrontados. N�o conseguimos dormir em paz em nossas casas pr�prias camas. Ressaltamos que n�o existe aqui qualquer manifesta��o de posicionamento ideol�gico."
O documento foi enviado no dia anterior ao acampamento ser alvo de disparos de arma de fogo - ferindo de rasp�o no pesco�o um dos manifestantes. Um ato em protesto contra os tiros bloqueou uma principais vias de �nibus do bairro com pneus incendiados.
Os organizadores do acampamento pr�-Lula afirmam que as manifesta��es s�o pac�ficas.
Frentes
A Justi�a Federal recebeu at� aqui pedidos de remo��o de Lula da PF - e consequentemente dos manifestantes - de quatro frentes: dos moradores, da prefeitura de Curitiba, de um deputado estadual e da pr�pria Pol�cia Federal. Nenhum deles ainda foi julgado.
O pedido da Prefeitura, por meio da Procuradoria-Geral da Munic�pio, feito no dia 13 de abril, resultou na abertura de um processo por ordem da ju�za federal da 12.ª Vara Federal, Carolina Moura Lebbos.
O Minist�rio P�blico Federal se posicionou contra a transfer�ncia de Lula da sede da PF e diz que no atual momento "a princ�pio, � dif�cil afirmar a exist�ncia de outro local no Estado do Paran� que possa garantir o controle das autoridades federais sobre as condi��es de seguran�a f�sica e moral" Lula.
No documento, o procurador regional da Rep�blica Janu�rio Paludo, da for�a-tarefa da Lava Jato, diz que h� "um aparente conflito constitucional" na quest�o: o direito � livre manifesta��o; � liberdade de locomo��o dos moradores do entorno da PF; o direito do Estado de aplicar a pena; e o do preso, que at� o momento n�o pediu para ser removido da "cela" especial montada para ele no quarto andar do pr�dio da PF em Curitiba.
Lula completa nesta segunda-feira, 7, seu primeiro m�s de c�rcere. A defesa quer esgotar todos os recursos no processo antes de pedir uma remo��o da Superintend�ncia da Pol�cia Federal.
Na semana passada, o ex-presidente recebeu pela primeira vez as visitas de pol�ticos: o amigo, ex-governador da Bahia e poss�vel 'plano B' do PT para a disputa presidencial, Jaques Wagner, e a presidente do partido, Gleisi Hoffman. Sem o acesso esperado a aliados, dentro do c�rcere, Lula manteve nesses primeiros 30 dias o contato com o partido via advogados.
