
A menos de uma semana da estreia da Sele��o no Mundial da R�ssia, os brasileiros est�o mais preocupados com os problemas do cen�rio pol�tico do que com o que acontecer� dentro das quatro linhas. De acordo com estudo da Diretoria de An�lise de Pol�tica da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), desde o fim do m�s passado, temas como desemprego, corrup��o, elei��es e a greve dos caminhoneiros tiveram mais aten��o nas redes sociais do que a Sele��o. Nos �ltimos 12 dias, foram 2,3 milh�es de men��es nas redes � Sele��o Brasileira e � Copa, enquanto 4,8 milh�es de postagens tratavam de temas pol�ticos. Nas redes sociais, os debates sobre o apoio ao time brasileiro (ainda que em segundo plano) s�o calorosos e movimentam muitos torcedores �s v�speras do Mundial.
Misturando futebol e protesto pol�tico, a designer mineira Lu�sa dos Anjos Cardoso lan�ou uma camisa vermelha in�dita para a Sele��o. Inicialmente, a camisa vermelha tinha o escudo da CBF, mas nas vers�es mais recentes o s�mbolo da entidade foi exclu�do. Em um v�deo publicado na sua rede social, a mineira afirmou que a ideia da camisa surgiu do inc�modo dela e de amigos em torcer pela Sele��o usando a camisa oficial da CBF ap�s vestimenta ser usada por manifestantes da direita.
Poucos dias ap�s lan�ar a camisa vermelha, a entidade m�xima do futebol nacional notificou Lu�sa e pediu para que ela n�o vendesse mais a camisa com o s�mbolo da CBF. A logo da entidade foi retirada da blusa e a nova vers�o continua sendo vendida com op��es de n�meros 13, 50 ou sem n�mero. O pre�o por camisa � de R$ 45. A reportagem procurou a designer para saber o total de camisas vendidas at� agora, mas n�o teve retorno.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, apaixonado por futebol, tem sido duro cr�tico da CBF. Ele afirma que jogou fora as duas camisas que tinha da Sele��o depois do impeachment de Dilma e que deve torcer pelo Brasil com a camisa do Corinthians. Outros fatores que contribu�ram para aumentar a antipatia e o rep�dio ao escudo da entidade foram as den�ncias de corrup��o envolvendo seus dirigentes.
FUTEBOL E POL�TICA
O uso pol�tico da Sele��o � hist�rico no Brasil. Uma das maiores paix�es nacional e motivo de orgulho – deixando de lado o 7 a 1 em pleno Mineir�o em 2014 – n�o passaria inc�lume pelos interesses pol�ticos, independentemente dos partidos no poder. Ao longo dos anos foi comum a tentativa de associar a imagem de sucesso do futebol a governos.
Antes mesmo do primeiro t�tulo mundial da Sele��o, na d�cada de 1930 o ent�o presidente Get�lio Vargas percebeu a import�ncia do esporte para a popula��o, afetando o humor de grande parte da sociedade. Na Copa de 1934, na It�lia, Vargas estabeleceu uma zona de influ�ncia dentro da equipe, determinando que Lourival Fontes, homem-forte do governo, se tornasse o chefe da delega��o. A partir de ent�o, os atletas brasileiros passaram a representar internacionalmente – no discurso oficial – uma esp�cie de “novo homem brasileiro”.
Em 1950, ao receber o Mundial pela primeira vez, a atua��o pol�tica para usar o futebol como s�mbolo do pa�s ficou ainda mais clara. A constru��o do Maracan� – na �poca o maior est�dio do mundo – se tornou uma demonstra��o da for�a nacional e foi muito usada no discurso pol�tico. “Era como se a constru��o do Maracan� e a vit�ria na Copa dessem uma li��o ao mundo sobre a grandiosidade da na��o. E o governo tentava faturar em cima disso, apesar de todos os problemas econ�micos com a alta infla��o gerada por um crescimento financeiro desequilibrado’, avalia a jornalista Vanessa Gon�alves da Silva, em seu estudo A for�a de uma paix�o: Pol�tica e Futebol durante a ditadura militar no Brasil.
Segundo Vanessa, na Copa de1970, um dos per�odos mais violentos da ditadura militar, houve forte uso pol�tico da Sele��o para angariar apoio popular. “O jingle oficial � conhecido at� hoje (“90 milh�es em a��o, para frente Brasil, salve a Sele��o …”). Como M�dici era apaixonado por futebol, buscou sempre essa liga��o e sabia da import�ncia do futebol. A Sele��o fez uma visita na sede do governo e tem a foto com todos os atletas perfilados, como se fosse parte do Ex�rcito mesmo. A inten��o era demonstrar que eles representavam o governo”, explica Vanessa.
Diante desse cen�rio, a milit�ncia que se opunha ao governo militar torceu contra a Sele��o? “Nada disso. A maioria das pessoas, inclusive presos pol�ticos, conseguia separar muito bem as duas coisas. Os poucos que viam com contrariedade essa liga��o for�ada entre o time e o governo logo foram contaminados pela qualidade da Sele��o brasileira. E a grande maioria entendia que a Sele��o era algo do pa�s, n�o da ditadura”, explica Vanessa, que entrevistou v�rios presos pol�ticos da d�cada de 1970 para saber o que eles pensavam sobre a sele��o.
ANTIPATIA Durante a Copa de 1970, o m�dico Apolo Heringer Lisboa, vivia clandestinamente na zona morte do Rio de Janeiro. Sem televis�o em casa, o r�dio era o ve�culo usado para acompanhar os jogos do Brasil. Segundo Apolo, pouqu�ssimos militantes torceram contra a equipe de Pel�, Jairzinho e Tost�o, mas representantes do governo tentaram mostrar na imprensa que a oposi��o aos militares torcia contra o pa�s.
“Eu era torcedor fan�tico da Sele��o. Os militares tentaram manipular a situa��o, vendendo a imagem de que a equipe era do Estado e que era preciso amar o pa�s como o povo amava a sele��o. Acho que o mesmo acontecer� agora, as pessoas sabem diferenciar as coisas. Temer est� com prazo esgotado,E criou-se uma antipatia das camisas da CBF, mas todo mundo vai torcer muito pelo Brasil’, aposta Apolo.