
Preso desde a �ltima quinta-feira (7), o deputado estadual Cabo J�lio (MDB) enviou uma longa carta ao Legislativo na qual pediu perd�o pelo “constrangimento” de ter a execu��o provis�ria de sua pena decretada enquanto exerce mandato na Assembleia. O parlamentar disse que � o pior momento de sua vida e pensou em se matar, mas n�o o fez por causa do filho de 4 anos.
“� desesperador. Tive vontade de me matar, mas pensei no Gugu. L� no fundo do meu cora��o, eu acredito que Deus n�o desistiu de mim. No meio do caos, da ang�stia e do desespero, eu creio que posso voltar ao primeiro amor da minha f�”, escreveu.
Cabo J�lio disse ter escrito aos colegas “do c�rcere”, na madrugada de sexta-feira para s�bado. O parlamentar disse ter ficado sabendo da pris�o pela imprensa e se entregado de imediato.
Na carta lida pelo l�der de governo Durval �ngelo no plen�rio nessa ter�a-feira (12), Cabo J�lio relembrou sua trajet�ria e disse que a primeira campanha foi feita com a venda de rifas.
Ele falou sobre a rela��o com o empres�rio Luiz Ant�nio Trevisan Vedoin, dono da maior empresa de ambul�ncias do Brasil, que acabou condenado no esc�ndalo conhecido como a M�fia dos Sanguessugas. Cabo J�lio disse ter recebido doa��o de Vedoin e indicado emendas para a compra de ambul�ncias, quando n�o pesava suspeita sobre o empres�rio.
“N�o acho que a Justi�a tenha sido injusta, mas talvez, desproporcional, devido ao momento que vivemos. Um dos processos est� prescrito e estou preso. Isso � mat�ria de direito e deveria ser reconhecido de of�cio pelo juiz”.
Preso em sala especial
Cabo J�lio est� preso em sala especial no 3º Batalh�o do Corpo de Bombeiros, na Pampulha, por sua condena��o na M�fia dos Sanguessugas. O parlamentar foi condenado duas vezes pelo envolvimento em um esquema de fraude em licita��es de munic�pios para a compra de ambul�ncias com verbas do Minist�rio da Sa�de.
A condena��o por improbidade administrativa lhe imp�e quatro anos de reclus�o e 40 dias-multa. Em outubro de 2016, Cabo J�lio foi condenado mais uma vez a pena de seis anos de deten��o em regime semiaberto e ao pagamento de mais 50 dias-multa � propor��o de um sal�rio-m�nimo de 2006.
A defesa do deputado conseguiu um habeas corpus para a pris�o de quatro anos. Com isso, ele fica preso no regime semiaberto, o que lhe d� direito a sair durante o dia.
Leia a �ntegra da carta escrita por Cabo J�lio:
AOS DEPUTADOS E DEPUTADAS DA ALMG
Escrevo esta carta, do c�rcere, na madrugada de sexta para s�bado. Inicialmente, pe�o perd�o a todos pelo constrangimento de tal momento acontecer no cargo de deputado estadual.
Quem convive comigo sabe que n�o sou bandido, n�o sou desonesto e procuro tratar todo mundo com respeito. Vivo exclusivamente para a minha fam�lia e para minha c�lula de ora��o.
Estou na ALMG desde 2012 e nunca ningu�m, nestes dois mandatos, viu nada que desabonasse a minha conduta.
Exerci o mandato de vereador, quando fiz parte da mesa diretora como secret�rio-geral, e de igual forma, ningu�m nunca ouviu fato que maculasse a minha passagem pela C�mara Municipal de Belo Horizonte - CMBH.
Este � o pior momento da minha vida. Os jornais foram informados antes de mim da execu��o provis�ria da minha pena. Quando soube, me apresentei imediatamente.
� desesperador. Tive vontade de me matar, mas pensei no Gugu. L� no fundo do meu cora��o, eu acredito que Deus n�o desistiu de mim. No meio do caos, da ang�stia e do desespero, eu creio que posso voltar ao primeiro amor da minha f�.
Em 1998, ap�s liderar a greve da pol�cia, fui eleito como o deputado federal mais votado de Minas. Foi uma campanha quase toda feita com vendas de rifas, no valor de R$1,00 (um real).
Veio a reelei��o e um empres�rio chamado Luiz Ant�nio Trevisan Vedoin - � �poca, dono da maior empresa de ambul�ncias do Brasil - me procurou. Naquele tempo, n�o havia nenhuma suspeita sobre ele.
Vedoim vendia ambul�ncias atrav�s de licita��o para o Minist�rio da Sa�de, para a Pol�cia Rodovi�ria Federal e at� para o Minist�rio P�blico Federal.
Fiz indica��es de emendas parlamentares de asfalto para cidades mineiras, mas nenhuma era executada. A assessoria da Comiss�o de Or�amento do Congresso Nacional orientou os deputados e senadores de que as emendas da sa�de tinham, em parte, execu��o obrigat�ria.
Esse empres�rio me doou, de junho a novembro de 2012, R$112.000,00 (cento e doze mil reais) para a campanha, depositados na minha conta-sal�rio pessoal no Banco do Brasil. Algu�m envolvido em propina recebe valor em sua conta-sal�rio?
Seu interesse em minha reelei��o era continuar a ganhar licita��es na �rea da sa�de. Quatro anos depois, esse mesmo empres�rio foi preso e todos os parlamentares que receberam recursos de sua empresa foram processados.
Eu nunca tive, enquanto deputado federal, um �nico prefeito. O crit�rio escolhido para destinar a emenda de ambul�ncia era ter um vereador da Pol�cia Militar.
Foram ouvidos pela Pol�cia Federal prefeitos, vereadores, membros e presidentes de comiss�es de licita��o. Nunca nenhum deles me viu, me conheceu pessoalmente ou sequer deu ou recebeu um centavo meu.
No processo principal, que tramitou em Cuiab�, fui absolvido do crime de lavagem de dinheiro e de forma��o de quadrilha. Fui condenado por corrup��o passiva, por ter recebido em minha conta pessoal a doa��o de R$112.000,00 (cento e doze mil reais) durante a campanha de 2012. Neste processo, foram investigadas 20 emendas de 20 cidades e fui condenado a 4 (quatro) anos de deten��o convertidos a uma pena de presta��o de servi�os.
O Minist�rio P�blico Federal, ainda que todas as emendas tenham sido investigadas no processo principal de Cuiab�, pin�ou uma a uma e ingressou com outras a��es individuais, cidade por cidade.
Fui condenado a 6 (seis) anos de deten��o em regime semiaberto.
O STF decidiu que se uma pessoa for condenada em 1º grau e tiver sua senten�a confirmada em 2º grau por �rg�o colegiado, obedecendo o duplo grau de jurisdi��o, deve come�ar a execu��o provis�ria da pena, independentemente de recurso ao STF ou STJ.
No meu caso, nunca tive senten�a de 1º grau. Por prerrogativa de fun��o, fui julgado somente em uma �nica inst�ncia. Ainda assim, de forma in�dita, o TRF mandou executar a pena. At� a pena de presta��o de servi�os foi executada provisoriamente.
Enfim, estou nas m�os de Deus e da Justi�a. Tudo isso me leva a uma reflex�o que muitos n�o v�o entender: pecado tem nome e tem consequ�ncias.
N�o acho que a Justi�a tenha sido injusta, mas talvez, desproporcional, devido ao momento que vivemos. Um dos processos est� prescrito e estou preso. Isso � mat�ria de Direito e deveria ser reconhecido de of�cio pelo juiz.
Por fim, obrigado a todos pela miseric�rdia a mim dirigida. Em especial, obrigado ao Corpo de Bombeiros pela imensa miseric�rdia.