O candidato ao governo de Minas pelo PSDB, senador Antonio Anastasia, disse ontem, em entrevista ao Estado de Minas e Portal Uai, que o estado vive sua maior crise em 300 anos. A fala foi uma reposta � declara��o feita pelo governador Fernando Pimentel (PT) no dia anterior, de que Minas n�o vivia uma situa��o de colapso. Na conversa, o senador tucano acusou a gest�o petista de calote e disse que, mesmo em crise, um estado da federa��o nunca deixou de repassar recursos aos munic�pios. Anastasia tamb�m prometeu, se eleito, enxugar a m�quina e cortar gastos “at� o tutano”. Sobre a possibilidade de acabar com o parcelamento dos sal�rios dos servidores, ele voltou a afirmar que n�o h� previs�o e que vai depender da recupera��o da economia.
O parcelamento de sal�rios dos servidores do estado talvez seja o maior problema para o pr�ximo governador resolver. O senhor tem dito que pretende voltar a pagar no 5º dia �til, mas admitiu que isso pode demorar at� dois anos. J� sabe de onde tirar dinheiro?
N�o temos condi��es a essa altura ainda de dizer que vamos corrigir o pagamento dos sal�rios em tr�s meses, seis meses ou em um ano e meio porque n�o conhecemos ainda qual a realidade do caixa do estado e os compromissos feitos. Tamb�m n�o sabemos qual ser� a rapidez da recupera��o econ�mica do estado e do Brasil no ano que vem, que � fundamental para que isso ocorra. Precisamos fazer dois tipos de trabalho. Um de economia, muito severo, reduzindo o n�mero de cargos comissionados, cargos pol�ticos, mas n�o � suficiente para diminuir o d�ficit do estado e voltar o pagamento em dia. Temos de aumentar as receitas. Para isso, vamos adotar dois crit�rios. Primeiro vamos criar procedimentos mais simples para as empresas e para as pessoas. Hoje, Minas Gerais, infelizmente, adota um conjunto de normas que torna o estado hostil aos neg�cios.
O que o senhor pretende fazer para reverter essa situa��o de perda de empresas?
Ter uma estrutura muito forte para estimular os neg�cios no estado. Isso vai reduzindo burocracias, procedimentos tribut�rios, fiscais, ambientais, facilitar a vinda de empresas e a expans�o das atuais. Isso aumenta a massa tribut�ria e nos permitir�, junto com renegocia��es que faremos com o governo federal, que � imprescind�vel, ter as condi��es de em um ano e meio, quem sabe, o mais cedo poss�vel, fazer o pagamento no 5º dia �til e, ao mesmo tempo, criar esse ambiente que chamo de amig�vel para os neg�cios em Minas, que hoje n�o existe.
O senhor tem dito que n�o vai fazer nenhuma obra nova enquanto n�o concluir as paradas. Mas quando o governador Fernando Pimentel assumiu, tamb�m disse que havia 500 obras paradas. O Caminho de Minas n�o concluiu 5% do que estava previsto. Por que o senhor deixou essas obras e como garantir ao eleitor que agora essa promessa ser� cumprida?
Essas obras do Caminhos de Minas eram referentes a um empr�stimo que fizemos com o Banco do Brasil. Era prevista uma parcela no �ltimo semestre de 2014 de R$ 1 bilh�o e, lamentavelmente, esse dinheiro n�o foi liberado por problemas pol�ticos. Como � �poca perdemos a elei��o em Minas e n�o ganhamos a elei��o nacional, o Banco do Brasil reteve esse dinheiro. Esse recurso faltou no nosso or�amento para dar continuidade �s obras. Agora, � bom lembrar que muitas obras n�o eram para ser encerradas mesmo. O hospital de Divin�polis era obra de seis anos, nem toda obra fica pronta em quatro anos, porque tem de licitar, fazer projeto, demora um pouco. E o governo novo entrou e paralisou tudo. Aquelas que j� estavam paradas, porque n�o tinha chegado o R$ 1 bilh�o, e as obras que tinham dinheiro poss�vel, como na �rea da sa�de, e n�o foram continuadas n�o sei por que motivo.
Em entrevista ao EM/Uai, o governador disse que Minas n�o entrou em colapso e que a situa��o de outros estados seria pior. O senhor concorda com essa afirmativa?
Pode perguntar aos servidores, aos fornecedores do estado. O estado est� em colapso, sim, um estado que � objeto de uma humilha��o como a que vi, de ter carros recolhidos porque n�o pagou, que d� um calote como o que est� dando nas prefeituras. O estado n�o est� pagando a cota constitucional e as prefeituras est�o entrando em colapso. A situa��o de Minas � a pior situa��o da hist�ria do estado em 300 anos.
H� uma discord�ncia entre o senhor e Pimentel quanto ao valor deixado de d�ficit para o atual governo. Ele diz que foram R$ 7 bilh�es e o senhor que foram R$ 2 bilh�es. De qualquer forma, o senhor passou o governo com uma d�vida. Por qu�?
Em 2003, quando o PSDB entrou no governo, havia d�ficit de cerca de R$ 2 bilh�es em um or�amento de R$ 16 bilh�es, um pouco mais de 10%. Em 2004, fizemos o d�ficit zero e ficamos at� 2012 sem d�ficit no estado. No �ltimo dia de 2012, o Banco do Brasil fez dep�sito de R$ 2 bilh�es e tanto e Minas teve super�vit fora do comum de R$ 2 bilh�es. O dinheiro depositado no dia 31 foi gasto em 2013, ent�o em 2013 tivemos um d�ficit de cerca de R$ 900 milh�es, que era esse dinheiro usado, ent�o na realidade foi um super�vit de R$ 1 bilh�o. Em 2014 era prevista a entrada do R$ 1 bilh�o do Banco do Brasil, acrescido dos recursos da Lei Kandir, que n�o foram pagos pelo governo federal, ent�o representou um d�ficit de R$ 2 bilh�es em um or�amento de R$ 70 bilh�es, muito mais administr�vel. E esse valor de R$ 2 bilh�es – n�o sou eu que estou falando – est� em um relat�rio que ele, Pimentel, assinou em 28 de fevereiro de 2015, como governador do estado, e mandou ao Tribunal de Contas. Quem apontou o d�ficit n�o sou eu, � ele. Ent�o, o que ele renega � o que ele assinou.
O que vai ser feito em rela��o � Cidade Administrativa, que foi uma das maiores obras da gest�o tucana em Minas e segundo o governo atual tem um custo de R$ 120 milh�es? O senhor vai reavaliar a ocupa��o?
O Pal�cio da Liberdade n�o tem condi��es f�sicas de receber a sede do governo, aquilo que est� havendo l� � at� a destrui��o do patrim�nio hist�rico. Fizemos, ao nosso tempo, no Pal�cio da Liberdade um museu da hist�ria de Minas que, lamentavelmente, um dos primeiros atos do atual governo foi fechar. E pior, ainda pediu � Fiat a devolu��o do antigo Pal�cio dos Despachos, a atual Casa Fiat de Cultura, que faz parte do circuito cultural da Pra�a da Liberdade. A impress�o que tenho � que o atual governo n�o gosta de cultura, porque n�o gosta do museu na Pra�a da Liberdade, da Casa Fiat e deve querer agora que as secretarias voltem para os pr�dios: o Centro Cultural Banco do Brasil, o centro da minera��o, a Casa da Vale. Caso seja eleito governador, a sede administrativa do governo voltar� ao Pal�cio Tiradentes, que foi constru�do para isso. O Pal�cio da Liberdade voltar� a ser um pr�dio hist�rico para ser visitado pelos turistas e pelos estudantes.
O senhor, que � professor de forma��o, mudou a pol�tica salarial da educa��o para os subs�dios e o atual governo voltou para o vencimento b�sico. Se for eleito, vai manter ou mudar de novo a pol�tica remunerat�ria? Vai pagar o piso nacional para a jornada de 24 horas?
O Supremo sempre reconheceu que n�s cumpr�amos o piso dentro das 24 horas, porque era proporcional. Quando fizemos a jun��o foi exatamente para demonstrar o valor completo do contracheque. Houve a modifica��o agora, mas a maioria do que fizemos permaneceu exatamente como estava. N�o houve a volta daquelas gratifica��es que tornavam o contracheque muito opaco, pouco transparente. N�o vamos fazer modifica��o na forma de remunera��o. Meu intuito agora para o magist�rio, para os servidores da educa��o e para todos os demais, � um esfor�o grande para voltar a pagar no 5º dia, porque n�o adianta cogitar aumentos se n�o conseguirmos pagar a folha atual. Vamos ser realistas. O esfor�o imenso � dar planejamento e dignidade aos servidores que n�o recebem. O piso � direito, vamos sempre avaliar, reconhe�o que a remunera��o dos professores � baixa, tem que ser aumentada, mas na realidade or�ament�ria. O que n�o podemos fazer � dizer que vai ter aumento, como ele disse, e na realidade parcelar os sal�rios. E � sempre bom lembar tamb�m que nesse caso do parcelamento ainda � pior, porque a escala � anunciada e � descumprida, as pessoas ficam no escuro sem saber quando de fato v�o receber.
O senhor foi secret�rio de pastas importantes e vice-governador no governo do senador A�cio Neves. Se eleito, vai retribuir e convid�-lo a ocupar cargo da mesma import�ncia?
Trabalhei com o governador A�cio em um per�odo muito feliz da hist�ria de Minas, fizemos grandes obras. Sou candidato ao governo e ele a deputado federal. Meu intuito � fazer um governo que seja revolucion�rio, heterodoxo, inovador, um governo com uma equipe enxuta, muito t�cnica e que possa apresentar a Minas um modelo distinto de administra��o. O senador A�cio j� foi governador do estado, ent�o, evidentemente, n�o tem at� sob ponto de vista de trajet�ria pol�tica das pessoas possibilidade de retornar a cargos de que j� tenha participado no passado ou que n�o integrem esse seu interesse. Se eleito, estar� na bancada federal, trabalhado com os demais deputados, e junto com os senadores eleitos para o bem do estado.
O candidato do seu partido, Geraldo Alckmin, n�o decolou nas pesquisas. Ontem, o ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati fez um mea-culpa, disse que o PSDB errou, cedeu � tenta��o de um projeto de poder, apoiou o governo Temer, pediu recontagem de votos. Qual erro o PSDB cometeu? Por que n�o est� conseguindo emplacar nacionalmente como op��o para um pr�ximo governo?
Discordo quando voc� fala que ele n�o emplacou. Ele est� em segundo lugar nas pesquisas, empatado com outros tr�s. Temos um candidato mais na frente e quatro em empate t�cnico em segundo lugar. E todos sabem que quem for para o segundo turno com este que est� em primeiro lugar, dizem as pesquisas, vencer� as elei��es. O que temos de fazer agora � colocar nosso candidato Geraldo Alckmin no segundo turno, porque no segundo turno ele vencer� as elei��es.
Mas se esperava um desempenho melhor do PSDB. � a primeira vez desde 1989 que o partido corre o risco de n�o estar no segundo turno.
Veja, o primeiro colocado � de um partido muito pequeno, chamado de nanico, quase microsc�pico. O pr�prio PT tem as dificuldades partid�rias, a Rede � um partido pequeno da Marina, o MDB que � o maior partido est� com 2%. Ent�o h� no momento no pa�s uma grande revolu��o partid�ria, as pessoas perderam a confian�a nos partidos, isso � uma realidade. As pessoas est�o votando nas pessoas, n�o h� mais aquela identidade que havia no passado. Est�o votando na credibilidade, na hist�ria e experi�ncia e n�o mais na sigla partid�ria. O Geraldo agora, com a campanha avan�ando, mostrando sua experi�ncia, e um homem ponderado, equilibrado, tenho certeza de que avan�ar�.
E sobre sa�de p�blica? O que fazer para melhorar o sistema no estado para que os munic�pios n�o fiquem dependentes da estrutura capital?
Esse sistema ca�tico est� acontecendo em Minas porque o estado est� devendo quase R$ 6 bilh�es para os munic�pios. S� para as Santas Casas s�o mais de R$ 1 bilh�o, beira o caos, n�o h� recurso para nada, o estado est� inadimplente. Na raiz de todos os problemas – seguran�a, sa�de, educa��o, infraestrutura – est� o caos que o atual governo diz que n�o existe. Estamos em uma situa��o de bancarrota, ca�tica. O governo � um governo reclam�o, que se contenta em lamentar, mas n�o enfrenta a realidade, n�o enfrenta a crise. Temos de colocar as finan�as em ordem para voltar a pagar os munic�pios, isso vai melhorar muito a situa��o da sa�de. Nunca ouvi dizer na hist�ria do Brasil, uma entidade da Federa��o, que � o estado, n�o passar aos munic�pios inclusive valores constitucionais previstos, em nenhuma crise isso aconteceu.
Tem projeto de enxugar a m�quina, reduzindo secretarias e funcion�rios?
Haver� sim um trabalho efetivo, no primeiro momento, de reduzirmos a radicalmente estrutura administrativa do estado como nunca se viu. Tenho dito at� que n�o vamos cortar gordura, nem a carne e o osso, vamos ao tutano para cortar o que � poss�vel, reduzir cargos comissionados e pol�ticos, todas as despesas desnecess�rias, n�o s� para fazer economia, mas para mostrar solidariedade � sociedade, que est� sofrendo, e aos pr�prios servidores. Acho muito importante que esse exemplo venha da c�pula da administra��o. E vamos fazer para tornar o estado mais leve, r�pido, ligeiro e eficiente.

