
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) come�ou a construir essa alcunha ainda no calor da reelei��o de Dilma Rousseff ao Planalto, em 2014. Nos links de not�cias que os ve�culos tradicionais compartilhavam nas redes sociais � �poca, uma curiosa hashtag surgia, ainda incipiente: #bolsonaro2018. No in�cio, a tag aparecia sobretudo em coment�rios de mat�rias ligadas � pol�tica. Com o tempo, passou a brotar tamb�m sob postagens absolutamente aleat�rias, como o resultado de um jogo de futebol ou uma mat�ria sobre uma exposi��o de arte, por exemplo.
O “fen�meno” ganhou corpo em 2015 e 2016, crescendo de forma inversamente proporcional � popularidade da presidente eleita e de seu principal advers�rio, A�cio Neves (PSDB). Nas bolhas de esquerda, a tag soava como piada e era tratada com desd�m quando vinha � tona em conversas informais. A “anedota” cresceu, se multiplicou e levou o capit�o reformado do Ex�rcito � Presid�ncia do Brasil.
O ambiente virtual dos �ltimos quatro anos talvez tenha sido o lugar onde o pa�s foi mais real. Foi ali que os brasileiros mostraram n�o se conhecer - ou n�o se reconhecer em seus pares -, foi ali que dois Brasis entenderam qu�o distantes est�o um do outro, ainda que sejam, muitas vezes, vizinhos de porta ou de bairro. Foi tamb�m nas redes que o Brasil mostrou absoluta falta de educa��o para o consumo de informa��o, com baixa motiva��o para a leitura e assustadora in�pcia para a interpreta��o de textos.
Nesse cen�rio, as chamadas fake news assumiram o protagonismo da campanha. Impulsionadas pela alta velocidade da inclus�o digital e pelo alto custo dos servi�os de dados no pa�s, levaram as tradicionais trocas de acusa��es entre advers�rios a um novo patamar. Links de sites “independentes” com “not�cias bomb�sticas” sobre os candidatos surgiam a todo momento nos aplicativos de mensagens, que roubaram a cena.
Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), 70,5% dos domic�lios brasileiros contavam com acesso � internet em 2017 e, j� naquele ano, o equipamento favorito para chegar � rede era o celular (69%). O consumo de not�cias pela internet, al�m de crescer a cada ano, � especialmente maior entre as faixas mais jovens. Tamb�m cresce muito o volume de informa��es que chega ao usu�rio via redes sociais e aplicativos de mensagens, sem a chancela dos ve�culos de comunica��o tradicionais.
Sem educa��o para a informa��o e, muitas vezes sem limite de dados suficiente para checar a fonte da informa��o e sua veracidade - ou at� mesmo para clicar no link e ler o texto na �ntegra -, muitos se deixaram levar apenas pela informa��o contida no t�tulo, compartilhando-a ainda mais rapidamente se a “verdade colocada” corroborasse sua opini�o sobre determinado tema.
Quando o ataque de Juiz de Fora tirou Bolsonaro dos compromissos da vida real, sua candidatura sofreu pouco, visto que #Bolsonaro2018, agora #B17, j� estava t�o presente virtualmente que dispensava o corpo a corpo. O capit�o compensou o pouco tempo de TV com lives, trocou debates por tu�tes e ressignificou a internet para a pol�tica no pa�s.