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Estado de Minas POL�TICA

'�ndio n�o tem um palmo de terra. Pertence � Uni�o', diz indigenista

A reserva ind�gena Raposa Serra do Sol dever� ser revista por Jair Bolsonaro (PSL) assim que ele assumir a Presid�ncia da Rep�blica, confirmou nessa segunda-feira (17) o presidente eleito


postado em 18/12/2018 07:49 / atualizado em 18/12/2018 08:29

Sydney Possuelo(foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
Sydney Possuelo (foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)

Maior indigenista da atualidade, Sydney Possuelo, 78 anos, afirma que o �ndio vive o seu pior momento no Pa�s. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele critica o risco de o futuro governo mudar o foco das pol�ticas determinadas pela Funai - o �rg�o deixar� a estrutura do Minist�rio da Justi�a para se integrar � pasta da Mulher.

A futura titular do minist�rio, Damares Alves, j� falou, por exemplo, em rever a pol�tica para os chamados povos isolados. A reserva ind�gena Raposa Serra do Sol dever� ser revista por Jair Bolsonaro (PSL) assim que ele assumir a Presid�ncia da Rep�blica, confirmou nessa segunda-feira (17) o presidente eleito.

O sertanista avalia que s� cabe ao �ndio fazer o primeiro contato.

Possuelo foi demitido da Funai em 2006 durante o governo Lula, ap�s criticar a vis�o de que �ndio tinha terra demais - um discurso que agora volta � tona. "�ndio n�o tem um palmo de terra. A terra ind�gena pertence � Uni�o para usufruto do �ndio." A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. avalia a vit�ria de Jair Bolsonaro?

Como ele ainda n�o assumiu, tenho esperan�a de que, a partir de um esclarecimento, o presidente possa mudar sua posi��o sobre os �ndios. H� um risco de extin��o da Funai, que j� n�o tem for�a.

Como fica a situa��o dos militares neste cen�rio?

A quest�o ind�gena nasceu no meio militar, com o Marechal Rondon, nosso her�i, que criou em 1910 o Servi�o de Prote��o ao �ndio, o SIP. Se formos analisar especificamente o per�odo do regime militar, depois de 1964, tivemos uma das melhores �pocas da Funai na quest�o de estrutura e recursos. Havia poder de demarcar as terras, de vigi�-las, de n�o permitir invas�es. Manter essa tradi��o seria um fato fant�stico desse novo governo.

O sr. acha que essa possibilidade existe?

Temos de admitir que n�o � isso que est� ocorrendo, infelizmente, mas tenho esperan�as de que essa postura mude. A ret�rica antiga de que h� muita terra para pouco �ndio � perigosa. Primeiro, � preciso deixar claro que �ndio n�o tem um s� palmo de terra no Brasil. Ele n�o � dono de nada. O dono � a Uni�o, que lhe garante o usufruto exclusivo daquela �rea.

Foi por criticar esse discurso que o sr. foi demitido em 2006 pelo governo Lula.

Um s� homem do agroneg�cio pode ter centenas de milhares de hectares, mas uma comunidade inteira de �ndios n�o pode ter. � preciso lembrar que o Brasil foi configurado pelo bra�o e pela presen�a do �ndio.

A futura ministra de Mulher, Damares Alves, disse que � preciso integrar os �ndios e acabar com a pol�tica de povos isolados. Como o sr. v� isso?

Eu criei essa pol�tica em 1987. Ela nasce exatamente do acompanhamento da hist�ria. Antes, quando se fazia contato, morriam muitos �ndios. Mas havia o dilema: se n�o fizer o contato, a comunidade ind�gena tamb�m morre com a abertura de estradas e fazendas. Ent�o, trabalhamos com v�rios presidentes para definir uma pol�tica espec�fica para esses povos isolados, sem contato com a sociedade nacional. Quando voc� contacta esse povo, ele come�a a mudar sua atitude. Vai mudar para qu�? Rondon achava que o �ndio tinha de vir para nossa sociedade para usufruir das nossas benesses, mas n�o � isso o que ocorre. O �ndio � sempre desprezado, n�o participa diretamente da nossa sociedade.

O que o sr. diria ao presidente eleito sobre esse cen�rio?

Quando foi candidato, ele disse que iria abrir as terras ind�genas para o agroneg�cio. Isso � acabar com os �ndios, � um erro. Temos uma quantidade imensa de terras onde j� cabe o agroneg�cio, que � importante para o Pa�s, mas as florestas nacionais e as terras ind�genas tamb�m s�o. Tudo cabe neste Pa�s imenso.

O sr. acredita na possibilidade de mudan�a dessa postura?

Acredito que tudo isso faz parte apenas de um desconhecimento. E penso que, em algum momento, o presidente vai raciocinar melhor e, mais tranquilo, vai consultar a si mesmo. N�o precisa consultar luminares. Basta ele analisar a nossa hist�ria, a hist�ria das For�as Armadas, para perceber como esses homens foram importantes para o Pa�s. Seria um erro grav�ssimo fazer da floresta um campo de soja. H� outras terras para a agricultura.

Como o sr. v� a atua��o das ONGs na �rea ind�gena?

O terceiro setor nasce como um auxiliar do governo quando o governo n�o d� conta de tudo. Nesse sentido, � interessante haver organiza��es para crian�as, adultos, negros, �ndios, mas desde que essas entidades venham para c� e se juntem ao governo na busca do melhor caminho. O que n�o pode acontecer � cada um ter a sua pol�tica. O governo que estabele�a as diretrizes para as ONGs. A pol�tica deve ser estabelecida pelo governo.

O governo, ent�o, precisa rever a pol�tica em rela��o �s ONGs?

Creio que sim. N�o � cortar recursos, � fiscalizar com bra�o de ferro. Essas organiza��es pegam dinheiro e ningu�m vai atr�s.

Como v� a presen�a de mission�rios evang�licos nas comunidades isoladas?

Quando fui presidente da Funai (1991 a 1993), botei para fora, expulsei mission�rios americanos que estavam na terra dos zo�, no Par�. A meta desses mission�rios � aprender a l�ngua ind�gena para fazer uma B�blia na l�ngua deles e, a partir da�, o �ndio escolhe se vai para o c�u ou para o inferno. Quando voc� vai para os EUA, � grande a chance de voc� n�o passar pela alf�ndega. Por isso, eu os expulsei da �rea e a Funai assumiu. � uma quest�o de soberania.


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