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Estado de Minas

Entenda como a interfer�ncia de Bolsonaro na Petrobras abalou o governo

Depois de interferir no reajuste do diesel, presidente Jair Bolsonaro faz reuni�es para tentar reverter queda de 7,75% da empresa na bolsa e evitar crises econ�mica e pol�tica. Motivo principal da ordem dada � estatal foi evitar uma nova paralisa��o dos caminhoneiros


postado em 13/04/2019 11:12

Caminhoneiros seguem com preço do diesel sem aumento, mas ordem de Bolsonaro não foi unânime nem entre os integrantes da categoria(foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 26/5/18)
Caminhoneiros seguem com pre�o do diesel sem aumento, mas ordem de Bolsonaro n�o foi un�nime nem entre os integrantes da categoria (foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 26/5/18)
O presidente Jair Bolsonaro mergulhou o governo em uma nova pol�mica. Dessa vez, com os agentes econ�micos. O chefe do Pal�cio do Planalto ligou na quinta-feira para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, determinando que segurasse o reajuste do �leo diesel anunciado na tarde daquele dia, de 5,7%. A ordem repercutiu mal nos mercados e provocou a queda de 7,75% no valor das a��es preferenciais da estatal (Leia na mat�ria abaixo). A classe pol�tica tamb�m se manifestou e cobrou coer�ncia do liberalismo econ�mico defendido pelo governo na pr�tica, e n�o apenas no discurso, uma vez que a a��o do presidente da Rep�blica representou uma interfer�ncia direta em uma decis�o estrat�gica. A medida, no entanto, atenuou o clima de revolta entre caminhoneiros, que discutem uma nova paralisa��o.

A controversa decis�o de Bolsonaro n�o coloca o governo diretamente em uma crise, avaliam interlocutores do presidente. De qualquer forma, percebendo as insatisfa��es generalizadas, convocou ainda ontem uma reuni�o interministerial para fazer o diagn�stico da situa��o e analisar a melhor maneira de evitar que o desconforto se alastre e, a� sim, insira o governo em um cen�rio de instabilidade pol�tico-econ�mica.

Foram convocadas duas reuni�es. Na primeira, reuniu-se com os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, Fernando Azevedo, de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto, e da Secretaria de Governo, Santos Cruz. Na segunda, conversou a s�s com Azevedo e o ministro do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), Augusto Heleno, chefe da pasta que tem por fun��o prevenir a ocorr�ncia de crises e articular o gerenciamento delas.

As reuni�es definiram um novo encontro para ter�a-feira, a fim de continuar debatendo as a��es decis�rias sobre o processo. Participar�o ministros da �rea t�cnica, como Albuquerque, e o da Infraestrutura, Tarc�sio de Freitas, bem como t�cnicos da Petrobras. O governo, no entanto, descarta que os encontros sejam uma forma de interven��o. “O senhor presidente entende que a Petrobras, uma empresa de capital aberto, sujeita �s regras de mercado, n�o deve sofrer interfer�ncia pol�tica em sua gest�o”, sustentou o porta-voz da Presid�ncia, Ot�vio R�go Barros.

O porta-voz reconhece que nunca se discutiu pol�tica de pre�os e que, justamente por isso, o governo se prop�e a n�o impor interven��o, apenas buscar di�logo e identificar aspectos t�cnicos para a tomada da decis�o sobre a pol�tica de reajustes feita pela Petrobras aos combust�veis. O governo tem pressa, porque a press�o pol�tica j� est� em ebuli��o.

Interven��o


Na Bovespa, investidores não gostaram da intervenção do governo(foto: Miguel Schincariol/AFP - 24/8/15)
Na Bovespa, investidores n�o gostaram da interven��o do governo (foto: Miguel Schincariol/AFP - 24/8/15)
O presidente nacional do MDB, Romero Juc�, advertiu que a interven��o na pol�tica de pre�os da estatal n�o � uma a��o que fortale�a a empresa. “J� vimos isso no passado e o resultado todos n�s sabemos. Essa n�o � uma a��o liberal, consent�nea com o discurso eleitoral do governo. � preciso pensar”, declarou, no Twitter. O deputado Vinicius Poit (Novo-SP) entende que a alta de pre�os nos combust�veis � realmente algo que pega no bolso de todos, mas avalia que n�o � o populismo econ�mico e o intervencionismo que devem entrar em cena. “Aqui, a solu��o caminha por mais concorr�ncia e privatiza��o da Petrobras do que canetada segurando pre�os”, ponderou.

A interven��o feita por Bolsonaro — que teria sido sugerida por Lorenzoni — lembra o congelamento de pre�os no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que represou o reajuste da gasolina quando o pre�o do barril de petr�leo subia no mercado internacional. O presidente da Rep�blica se defendeu. Admitiu ter ligado para Castello Branco e disse que n�o vai ser intervencionista e fazer pr�ticas que “fizeram no passado”. “Mas quero os n�meros da Petrobras para me esclarecer por que 5,7% de reajuste, quando a infla��o deste ano est� projetada para menos de 5%. Se me convencerem, tudo bem. Se n�o me convencerem, tudo bem”, disse ontem, quando alfinetou Dilma e, mais uma vez, usou o argumento de praxe de que n�o � economista. “Quem entendia de economia afundou o Brasil, est� certo? Os entendidos afundaram o Brasil”, enfatizou.

O presidente admite ter tomado a medida como uma forma de prevenir uma nova paralisa��o de caminhoneiros. Ivar Luiz Schmidt, l�der do Comando Nacional do Transporte, reconhece que a decis�o possa ter evitado um novo movimento, mas avalia que o governo ainda n�o sabe a melhor maneira de agir em rela��o � categoria. “Como brasileiro, acho que foi uma decis�o equivocada. Esse aumento evitado na quinta pode ser maior depois por conta disso. H� outras pol�ticas que podem ser adotadas para melhorar nossa situa��o”, argumentou. O caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como “Chor�o”, outro l�der da categoria, limitou-se a agradecer. “Isso prova que, mais uma vez, o presidente est� do nosso lado”, ponderou.

Perda de R$ 32,4 bilh�es


Ao ressuscitar a pr�tica da ex-presidente Dilma Rousseff, de segurar os pre�os do combust�vel, a interven��o do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras abalou o mercado, a estatal e o setor de combust�veis. Ontem, a petroleira perdeu R$ 32,4 bilh�es em valor com a queda das a��es. As ordin�rias despencaram 8,54% e as preferenciais ca�ram 7,75%.

A medida vai contra a agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes — que, de Washington, disse desconhecer o assunto. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que os liberais defendem a menor interven��o poss�vel no controle de pre�os. Para o economista Alexandre Esp�rito Santo, da �rama, a interven��o, se n�o for bem explicada pelo governo, vai na contram�o da proposta de liberalismo que elegeu Bolsonaro. “Foi um baita ru�do, talvez um dos piores dos 100 dias de governo, potencializado pelo vencimento das op��es na segunda-feira”, assinalou.

De acordo com o economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, o movimento n�o � nada saud�vel. “N�o � o que o mercado quer ouvir, os investidores est�o sens�veis a esse tipo not�cia”, destacou. O d�lar fechou em R$ 3,89, com alta de 0,83%, tamb�m consequ�ncia da decis�o de Bolsonaro, segundo o diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer. “Aumentou a percep��o de risco na vis�o dos investidores estrangeiros”, avaliou. No entender do economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu Filho, o impacto foi grande, mas “menos pior” do que uma eventual paralisa��o dos caminhoneiros. “Uma greve pode tirar 1% do Produto Interno Bruto (PIB) de um ano j� complicado. Ele optou corretamente”, opinou.

Para o presidente da Associa��o Brasileira dos Importadores de Combust�veis (Abicom), S�rgio Ara�jo, a interven��o piora as condi��es de competitividade do setor. “No nosso c�lculo, a defasagem � de R$ 0,14. O reajuste da Petrobras, de R$ 0,12, ainda seria pouco”, disse. Os associados est�o com opera��es paralisadas, porque a estatal pratica pre�os abaixo da importa��o. “Dos nove, a metade n�o importou nem um litro este ano”, lamentou.

A interfer�ncia tamb�m cria inseguran�a regulat�ria e jur�dica, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires. “Est� na hora de o governo usar criatividade para reduzir a volatilidade do petr�leo, criar um fundo de estabiliza��o, imposto flex�vel, ou chamar os governadores para mostrar que as al�quotas de ICMS s�o absurdas”, sugeriu. Com a suspens�o do reajuste, Pires calcula que a Petrobras perder� R$ 400 milh�es por m�s. Paulo Tavares, presidente do Sindicombust�veis-DF, defendeu a revis�o do modelo de reajustes. “A Petrobras tem 75% dos custos em reais e pratica 100% atrelado ao d�lar”, afirmou. Presente em um encontro nacional setorial, Tavares comentou que todos os dirigentes ficaram surpresos com a interven��o.

Procurada, a Petrobras enviou uma declara��o do presidente da companhia, Roberto Castello Branco: “Recebi ontem, no fim do dia, uma liga��o telef�nica do presidente Bolsonaro me alertando sobre os riscos do aumento do pre�o do diesel. Considerei leg�tima a preocupa��o do presidente. A Petrobras decidiu, ent�o, suspender, por alguns poucos dias, o reajuste. Reitero que a empresa � completamente aut�noma para a tomada de decis�es”. 


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