
A Pol�cia Federal tem ind�cios de que os quatro suspeitos presos s�o os mesmos que acessaram conversas trocadas pelo Telegram de altas autoridades dos Tr�s Poderes, entre elas o ministro da Justi�a, S�rgio Moro; procuradores da Lava Jato; o ministro da Economia, Paulo Guedes; e a l�der do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). As provas foram encontradas em per�cias, buscas e apreens�es e baseadas em depoimentos dos presos realizados ma ter�a.
O The Intercept Brasil tem divulgado desde 9 de junho mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava-Jato, relativas ao per�odo em que ele era juiz do caso em Curitiba. O site sustenta que recebeu o conte�do de fonte an�nima. A informa��o de que Walter "Vermelho" relatou ter contato com Greenwald foi confirmada ao Estado por duas altas fontes da opera��o. Segundo elas, o hacker disse conhecer o jornalista. A reportagem n�o conseguiu confirmar se presencialmente ou se eles teriam tido apenas contato virtual.
Os investigadores tratam o relato com cautela, uma vez que o hacker � apontado como estelionat�rio - raz�o pela qual tudo o que ele informar ser� investigado, especialmente a partir da quebra dos sigilos banc�rio, fiscal e telem�tico do grupo, autorizada pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Bras�lia.
Essas informa��es poder�o revelar com quem os suspeitos conversaram nos �ltimos meses e a origem do dinheiro atribu�do a dois deles - o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira movimentou R$ 627 mil em dois per�odos no ano passado e neste ano. Uma das linhas de investiga��o apura se eles venderam os dados e com qual motiva��o.
O casal e, ainda, Danilo Cristiano Marques, tamb�m foram presos. Todos os suspeitos s�o do interior de S�o Paulo. Do grupo, al�m de Walter "Vermelho", Gustavo Santos confirmou que teve acesso �s mensagens interceptadas de autoridades e outras pessoas a partir do computador de "Vermelho".
O defensor de Gustavo Santos, Ariovaldo Moreira, disse que ele afirmou em depoimento que, ao tomar conhecimento das mensagens, alertou o colega de que ele poderia ter problemas. Segundo o advogado, seu cliente relatou tamb�m que "Vermelho" tinha interesse em vender os dados para o PT. Em nota, o partido criticou Moro e afirmou se tratar de "criminosa tentativa" de envolver a sigla no caso.
'Fonte de confian�a'
No Twitter, Moro escreveu nesta quarta-feira, 24, que "pessoas com antecedentes criminais" s�o a "fonte de confian�a daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime". O ministro n�o citou nomes, mas, ao apontar "pessoas com antecedentes criminais", se referiu ao grupo preso na Opera��o Spoofing. Walter "Vermelho", que mora em Araraquara, interior paulista, acumula processos por estelionato, falsifica��o de documentos e furto.
O ministro tamb�m registrou que, ao autorizar a pris�o dos suspeitos, o juiz informa que 5.616 liga��es foram efetuadas pelo grupo com o mesmo modus operandi e suspeitas, portanto, de serem hackeamentos. "Meu terminal s� recebeu tr�s. Preocupante", postou.
Na quarta, os diretores do The Intercept, Leandro Demori e Glenn Greenwald, rebateram, tamb�m no Twitter. "Est� cada vez mais claro: Moro virou pol�tico em busca de um foro privilegiado", disse Demori. "Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusa��o de que esses supostos criminosos presos agora s�o nossa fonte fica por sua conta. N�o surpreende vindo de quem n�o respeita o sistema acusat�rio e se acha acima do bem e do mal. Em um pa�s s�rio, o investigado seria voc�", escreveu Demori em resposta a Moro.
Greenwald afirmou na rede social que o ministro "est� tentando cinicamente explorar essas pris�es para lan�ar d�vidas sobre a autenticidade do material jornal�stico". "Mas a evid�ncia que refuta sua t�tica � muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa", escreveu. Em nota, o The Intercept disse que a investiga��o "n�o muda o fato de que a Constitui��o garante o sigilo da fonte".
O site tamb�m afirmou, em nota, que "assim como a melhor imprensa mundial, n�o comenta assuntos relacionados � identidade de suas fontes an�nimas". O comunicado diz ainda que h� uma "tentativa de ligar supostos hackers" ao site, o que classifica como "mais uma etapa dos constantes ataques" � reda��o ap�s o in�cio da publica��o da s�rie "As mensagens secretas da Lava Jato", em 9 de junho. "Trata-se de um claro ataque � liberdade de imprensa."
A nota afirma que a opera��o "n�o muda o fato de que a Constitui��o Federal garante o direito do Intercept de publicar suas reportagens e manter o sigilo da fonte, mesmo direito garantido para toda a imprensa brasileira diariamente".
O site afirmou ver com preocupa��o "as conclus�es precipitadas do ministro S�rgio Moro sobre uma investiga��o que sequer teve seu inqu�rito conclu�do" e esperar que a PF, "comandada por Moro, tenha autonomia para conduzir uma investiga��o isenta".
Ao Supremo Tribunal Federal, Moro disse desconhecer "qualquer investiga��o em andamento a respeito" do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil.
Suspeito 'est� atordoado', diz advogado
O advogado Luiz Gustavo Delgado, contratado por Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", disse ter levado comida, rem�dios de uso controlado e um cobertor para seu cliente na tarde de quarta-feira na Superintend�ncia da Pol�cia Federal em Bras�lia.
Delgado afirmou que n�o teve acesso ao teor integral do inqu�rito conduzido pela PF. "Ele prestou um depoimento. Eu n�o tive acesso ainda. Vou ver as medidas cab�veis no caso do meu cliente", disse o advogado.
Ainda segundo ele, Walter "Vermelho", como Delgatti Neto � chamado por amigos, prestou depoimento acompanhado apenas por um defensor p�blico. "Conversei com ele. Ele tem problemas psiqui�tricos. Est� atordoado", afirmou.
Walter "Vermelho" � visto como o principal integrante ou l�der do grupo preso pela PF. Ele foi localizado em Araraquara (SP). Em depoimento nesta quarta � pol�cia, afirmou ter clonado os aparelhos celulares de autoridades como o ministro S�rgio Moro.
A PF tamb�m ouviu nesta quarta o depoimento do casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira. Defensor de ambos, o advogado Ariovaldo Moreira disse que Santos negou "enfaticamente" participa��o na invas�o do celular de autoridades. Segundo ele, s� esse depoimento durou mais de seis horas.
Gustavo Santos disse � PF ter provas de que alertou Walter "Vermelho", amigos que se conheceram em Araraquara, para "parar de mexer com isso", em refer�ncia ao telefone de autoridades. Mais cedo, seu advogado afirmou que Santos teria uma conversa trocada com "Vermelho" no Telegram em que avisava para o amigo: "Cuidado que voc� pode ter problema com isso". Depois de Santos, quem come�ou a ser interrogada foi Suellen.