
A oposi��o ao governo est� fragmentada e resiste em apoiar propostas conjuntas para fazer frente �s decis�es do Executivo e �s cr�ticas que Bolsonaro tem feito �s institui��es.Embora ainda faltem dois anos para as elei��es gerais, o cen�rio que se desenha come�a a solidificar uma disputa entre o presidente e seu ex-ministro da Justi�a Sergio Moro, ambos com apoio do eleitorado mais conservador, de direita.
As pesquisas mais recentes apontam que o presidente tem 30% de aprova��o e vem sofrendo uma deteriora��o da imagem junto � popula��o. No entanto, ainda se mant�m como forte candidato para as pr�ximas elei��es. Outros nomes cotados para concorrer ao Executivo enfrentam entraves, como � o caso do governador do Rio, que foi alvo de uma opera��o da Pol�cia Federal em decorr�ncia das suspeitas de desvios de verba na compra de respiradores para hospitais de campanha. Witzel alega que � alvo de persegui��o pol�tica e chegou a chamar o presidente de ditador.
O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva era o grande nome da oposi��o, e havia a expectativa de que ele liderasse a constru��o de uma candidatura de esquerda competitiva depois de deixar a pris�o. Por�m, logo nos primeiros dias fora do c�rcere, Lula posicionou-se contra o pedido de impeachment do presidente. O petista lembrou que o chefe do Executivo foi eleito democraticamente.
Embora tenha feito cr�ticas �cidas a Bolsonaro, o ex-presidente n�o lidera articula��o pol�tica na oposi��o. Chegou-se a cogitar que ele iria at� o Congresso conversar com parlamentares, contudo, esses planos foram adiados em raz�o da pandemia. Lula continua com s�lida base eleitoral e apoio popular e pol�tico. Mas uma condena��o na segunda inst�ncia de Justi�a impede que ele se candidate.
A �ltima declara��o do ex-presidente sobre o assunto � de que ele n�o ser� candidato. Com isso, Lula deve apoiar um nome lan�ado pelo PT. O mais prov�vel no momento � o do ex-governador de S�o Paulo Fernando Haddad, que, embora tenha perdido o �ltimo pleito, conquistou 47 milh�es de votos e chegou a disputar o segundo turno, mesmo tendo se lan�ado nos momentos finais da campanha.
H� menos de duas semanas, o PT assumiu o papel de oposi��o pol�tica e decidiu apoiar o impeachment de Bolsonaro, mesmo que isso tenha ocorrido em um manifesto que envolve diversos partidos e centenas de entidades sociais e sindicais.
A aposta da esquerda � de que Moro esfacele a base eleitoral do presidente da Rep�blica. O primeiro baque ocorreu quando o ex-juiz deixou o governo fazendo acusa��es graves de que o chefe do Executivo tentou interferir na Pol�cia Federal. Mas, sem articula��o pol�tica, e longe de Bras�lia, Moro perde for�a no meio pol�tico. Por ora, ele alega que n�o � candidato, embora j� se fale nos bastidores que ele estar� no pr�ximo pleito e que pretende formar uma base de articula��o com entidades jur�dicas, pol�ticas e que pregam o combate � corrup��o para se lan�ar concorrente ao Planalto.
Acenos
Moro faz alguns discretos acenos, de olho nas urnas. Em busca do eleitorado conservador que amea�a romper com Bolsonaro, compara o presidente ao PT. Quer arrebanhar esse agrupamento da direita que n�o concorda com as atitudes de Bolsonaro, atrelando-o ao extremismo pol�tico, algo que, teoricamente, o igualaria aos petistas em m�todo.
O professor Ricardo Caichiolo, cientista pol�tica do Ibmec-DF, lembra que, por estar no cargo, Bolsonaro tem maior facilidade em vencer as pr�ximas elei��es, pois a evid�ncia trazida por quem chefia o Poder Executivo tamb�m � uma ferramenta eleitoral. “O candidato � reelei��o comumente parte de uma situa��o vantajosa em rela��o a outros candidatos pela pr�pria natureza de exposi��o do cargo e a m�quina governamental � disposi��o. Portanto, mesmo com o alto �ndice de rejei��o, o presidente Bolsonaro segue com chances consider�veis de permanecer no Planalto por mais quatro anos.”
Ainda de acordo com Caichiolo, a pandemia de coronav�rus e a quebra de apoio entre Moro e Bolsonaro podem ser fatores determinantes em 2022. “A pandemia tornou-se um fato pol�tico e ideol�gico no trato com os governadores, com destaque para os de S�o Paulo e Rio. Quanto a Moro, a disputa de ret�rica sobre a suposta interven��o na PF colocou os antes indivis�veis presidente e ministro em polos opostos. De fato, uma eventual candidatura de Moro pode representar uma amea�a aos planos de reelei��o de Bolsonaro”, completa. Para o especialista, embora os opositores estejam atuantes, permanecem sem uma figura de l�der.
“A oposi��o vem fazendo um trabalho combativo no Congresso e parte dela tem tentado se mobilizar para fazer frente ao governo, mas ainda n�o estabeleceu uma lideran�a, tampouco um discurso convergente, com destaque para a falta de entendimento sobre se deve existir ou n�o o protagonismo do ex-presidente Lula”, destaca.
Como nas Diretas
Os protestos come�am a se espalhar pelo pa�s, com pautas que evocam a democracia, assemelhando-se ao movimento das Diretas J�, que, na d�cada de 1980, pediu elei��es diretas para presidente da Rep�blica. No entanto, as diferen�as, hoje, s�o que os partidos pol�ticos perderam for�a e entidades sociais, como a Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE), deixaram de ter capacidade de mobiliza��o ao longo dos anos. A pandemia do novo coronav�rus dificulta a organiza��o dos atos, pelo temor de que a doen�a se espalhe ainda mais. Na semana passada, um manifesto assinado por l�deres de seis partidos pol�ticos pediu para que as pessoas n�o sa�ssem �s ruas.
Ciro, Marina e FHC falam sobre frente
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os ex-ministros Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) concordaram em unir for�as em uma frente ampla para defender a democracia, deixando as diferen�as pol�ticas e partid�rias no passado. Durante um debate promovido, ontem, pela jornalista Miriam Leit�o, na GloboNews, FHC considerou que a luta atual n�o � s� pol�tica, � social e econ�mica. J� Marina, que disputou as tr�s �ltimas corridas presidenciais, disse que os l�deres pol�ticos devem, agora, ter a responsabilidade de compartilhar a guerra pela democracia.
Ela relacionou a crise pol�tica com a grave pandemia, que coloca o pa�s como o terceiro no mundo em n�mero de mortes. Ciro, por sua vez, foi ainda mais incisivo sobre a posi��o de figuras e partidos pol�ticos contra o que chamou de “escalada do autoritarismo”. O ex-ministro tamb�m destacou a crise na sa�de, com 23 militares ocupando espa�os no Minist�rio da Sa�de. “N�o creio em um golpe de (Hamilton) Mour�o (vice-presidente da Rep�blica), mas h� 23 militares na Sa�de. Quero saber se os militares v�o querer ser responsabilizados por essa trag�dia”, cobrou.
