
A epidemiologia �, talvez, a mais exata das ci�ncias m�dicas, sendo poss�vel dizer sem medo que, enquanto intensivistas salvam vidas na linha de frente, individualmente, � a matem�tica que evita as mortes em massa. Nos bastidores da pandemia, s�o os c�lculos que nos protegem.
Quando vamos atravessar uma rua e h� um carro vindo, l� longe, nosso c�rebro s� toma a decis�o estrat�gica de caminhar quando, intuitivamente, calcula a velocidade do carro e cruza esse dado com a velocidade necess�ria para aquela travessia. � assim que sabemos se devemos esperar, caminhar ou mesmo correr at� o outro lado. Se v�ssemos um carro se aproximando e, imediatamente, nossa vis�o dele fosse interrompida, n�o haveria como deduzir a velocidade do autom�vel e, tamb�m imediatamente, saber�amos n�o haver seguran�a para atravessar.
O mesmo ocorre em uma epidemia. O acesso ao n�mero de infectados e mortos � fundamental para cruzar com dados como a taxa de exposi��o (ou de isolamento) e determinar, por exemplo, a velocidade de transmiss�o da doen�a em determinada regi�o. Ent�o, cruzando esses dados com a taxa de ocupa��o dos leitos nos hospitais e (mais n�meros) com o tempo m�dio de interna��o de um paciente daquela doen�a � poss�vel saber se haver� leitos para todos que adoecerem. � assim que se avalia, por exemplo, o risco de flexibilizar a quarentena. Matem�tica pura.
Os n�meros absolutos, sua evolu��o, a velocidade de propaga��o e a letalidade de uma doen�a, mais que um retrato do presente, determinam a��es e estrat�gias capazes de promover um futuro mais seguro para todos.
De volta ao exemplo do pedestre, pense como seria atravessar a rua se, ao terceiro passo, houvesse uma mudan�a brusca na velocidade do autom�vel ou nas caracter�sticas da faixa de travessia – mudando subitamente de asfalto para lama. Prosseguir seria arriscado, pois simplesmente n�o h� mais como prever nada.
A decis�o do governo federal de alterar os par�metros de registro e divulga��o das v�timas do novo coronav�rus � como mudar as regras no meio de uma partida. Al�m de invalidar todas as estrat�gias vigentes, elevando subitamente o risco, a altera��o interrompe a sequ�ncia que desenha a hist�ria da doen�a no pa�s. Esse ‘desenho’ serve de par�metro para modelos matem�ticos que podem antever os passos do v�rus e salvar milhares de vidas. Sobreviver fica mais dif�cil. Para todos.