
Pastora, cantora e deputada eleita pelo estado do Rio de Janeiro, Flordelis obteve 196.959 votos, o melhor desempenho entre as mulheres do estado que disputavam uma vaga na C�mara dos Deputados. Famosa nacionalmente na d�cada 1990 pelo n�mero de filhos, a mission�ria pregava que a fam�lia era “seu bem maior”.
Apesar disso, o inqu�rito mostra uma outra realidade. Em meio a trai��es, tentativas de assassinato, brigas, dinheiro, incesto e religi�o, muitos mist�rios se relacionam com os membros dessa fam�lia, que foi chamada pelo delegado Allan Duarte, respons�vel pelas investiga��es, de “organiza��o criminosa”.
Mas, afinal, quem � Flordelis e o que se sabe at� agora sobre o assassinato de Anderson do Carmo?
Nascida em 5 de fevereiro de 1961, Flordelis dos Santos de Souza foi moradora da favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Famosa pela hist�ria de ado��o dos filhos, a deputada ganhou a m�dia ap�s adotar 37 crian�as que estavam fugindo de uma chacina na Central do Brasil, no Centro do Rio de Janeiro. Atualmente, Flordelis � m�e de 55, sendo quatro biol�gicos (tr�s com o primeiro marido e um com Anderson).
Um fato curioso, � que Anderson do Carmo, antes de ser marido de Flordelis foi adotado pela deputada e chegou a ser tratado como genro, quando namorou uma de suas filhas.

Vista por muitos como uma mulher de fam�lia, altru�sta e dedicada, a deputada acabou at� mesmo virando roteiro de filme. Com o t�tulo "Flordelis - Basta uma palavra para mudar", o longa-metragem foi dirigido por Marco Ant�nio Ferraz. O elenco contou com atores renomados como Ana Furtado, Let�cia Sabatella, Cau� Reymond, Bruna Marquezine, Alinne Moraes e Deborah Secco.
J� casada com Anderson, Flordelis fundou a Comunidade Evang�lica Minist�rio Flordelis, em 1999, no Bairro do Rocha, Zona Norte do Rio. Antes de morrer, o pastor era presidente do Minist�rio Flordelis. De acordo com as investiga��es, ele controlava a igreja e a fam�lia, tomando conta de tudo, da partilha dos alimentos at� as finan�as.
Vida pol�tica
Flordelis sempre se mostrou inclinada para a vida pol�tica. Mesmo quando ainda era mission�ria, a deputada federal pregava em seus cultos sobre pol�ticas p�blicas e casos policiais. A primeira tentativa de entrar no mundo pol�tico foi em 2004, quando ela se candidatou para uma vaga na C�mara Municipal de S�o Gon�alo (RJ), sem sucesso. Em 2016, Flordelis concorreu � prefeitura da cidade.
Defensora das crian�as e adolescentes, ela foi eleita em 2019 como deputada federal pelo RJ. Mesmo no primeiro ano, a parlamentar concorreu � presid�ncia da bancada evang�lica na C�mara. Flordelis perdeu a cadeira para o deputado Silas C�mara (PRB-AM).
Al�m disso, ela chegou a integrar como titular as comiss�es de Seguridade Social e Fam�lia, de Defesa dos Direitos das Pessoas com Defici�ncia e dos Direitos da Mulher.
Flordelis � m�e do pastor e vereador de S�o Gon�alo Wagner Andrade (PMDB). Ele chegou a lan�ar a candidatura com o nome de Misael da Flordelis, mas, ap�s a perda do pai, retirou o nome da m�e.
Ap�s ser denunciada como mandante do assassinato de Anderson, Flordelis corre o risco de perder o mandato e ser expulsa do PSD. Em entrevista recente, o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o “crime n�o tem rela��o com o mandato”, por isso, n�o prev� foro especial, mas para que a deputada seja presa ou afastada do mandato, � preciso que haja autoriza��o da C�mara.
O crime
Anderson do Carmo foi executado com mais de 30 tiros na porta da casa do casal em Pendotiba, Niter�i (RJ). Na �poca do assassinato, a deputada federal afirmou que se tratava de um assalto. Apesar disso, a investiga��o conduzida pelo Minist�rio P�blico e pela Pol�cia Civil n�o demorou muito para encontrar diverg�ncias nos depoimentos, al�m de outras evid�ncias.
De acordo com a investiga��o, a fam�lia tentou esconder as evid�ncias dos crimes chegando at� mesmo fazer uma fogueira no quintal da casa para destruir provas. Os policiais acreditam que Flordelis tentou assassinar o pastor pelo menos seis vezes por envenenamento, al�m de contratar pistoleiros em outras duas vezes.
Em uma das mensagens encontradas pelos policiais, Flordelis chama Anderson de “traste” e pede ajuda para um filho. “Andr�, pelo amor de Deus, vamos p�r um fim nisso. Me ajuda. Cara, t� te pedindo, te implorando. At� quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio?”, escreveu.
Em outra, Marzy, uma das filhas do casal, incentiva o irm�o Lucas a matar o pastor por R$ 10 mil. Vale relembrar que o rev�lver usado na execu��o estava em cima do arm�rio de Fl�vio, filho que admitiu ser o autor dos disparos.
Depoimentos e o que pesa sobre cada um
- Flordelis: Durante depoimento, a deputada disse sentir muitas saudades do marido. De acordo com ela, no momento do assassinato, estava dentro de um quarto da casa conversando com o neto Ramon e que foi impedida de ver o marido morto. Flordelis, por�m, foi apontada como mentora do crime. Ela responder� por homic�dio triplamente qualificado, tentativa de homic�dio duplamente qualificado, associa��o criminosa majorada, uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideol�gica.
- Vereador Misael: No depoimento, o vereador afirmou que Flordelis era “mentora intelectual” do assassinato. Ele relatou que a deputada teria revelado aos filhos que tinha quebrado o celular do marido e que achava que Anderson estava “dando a volta nela” em rela��o �s finan�as da fam�lia. Foi Misael que acusou os irm�os adotivos Lucas dos Santos e Marzy.
- Daniel dos Santos Souza: O jovem, de 21 anos, � apresentado como filho biol�gico do pastor e da deputada federal. Apesar disso, de acordo com a investiga��o ele foi adotado de forma ilegal. Em depoimento, Daniel afirmou acreditar no envolvimento da m�e que disse para ele que “a hora do pai iria chegar”. Ele tamb�m acusou os irm�os Fl�vio e Lucas.
- Simone dos Santos: Filha biol�gica de Flordelis com o primeiro marido. Simone j� namorou Anderson quando os dois eram adolescentes. Ela seria a respons�vel pelos envenenamentos. De acordo com as investiga��es, ela buscou informa��es sobre uso de veneno na internet. Durante depoimento, oito dias ap�s o crime, ela confirmou que fez pesquisas sobre o veneno cianeto e como coloc�-lo nos alimentos, mas negou que fosse para us�-lo contra o padrasto. Simone vai responder por homic�dio triplamente qualificado, tentativa de homic�dio triplamente qualificado e associa��o criminosa majorada.
- Maria Edna Virginio do Carmo: M�e de Anderson, foi ela que contou para a pol�cia sobre o suposto caso do filho com a enteada Simone e que Daniel n�o era filho biol�gico do casal.
- Marzy Teixeira da Silva: Filha adotiva do casal, incentivou Lucas a matar o pastor Anderson. Durante depoimento, ela confessou o pedido e afirmou que a m�e sabia de tudo. Ela tamb�m participou dos envenenamentos. Marzy vai responder por homic�dio triplamente qualificado, tentativa de homic�dio triplamente qualificado e associa��o criminosa majorada.
- Andr� Luiz de Oliveira: Filho adotivo, � tamb�m ex-marido de Simone. De acordo com a investiga��o ele foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento.
- Rayne Silva: Neta do casal, ela � filha adotiva de Simone dos Santos. Citada durante depoimento de �rica dos Santos, uma de suas tias, a jovem mandou uma mensagem pedindo o “contato de algum bandido” um m�s antes do assassinato. Ela vai responder por homic�dio triplamente qualificado e associa��o criminosa majorada.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz