
Em algumas capitais pode-se perceber que nomes tradicionais da pol�tica migram para legendas menores, em busca de maior ades�o e menor resist�ncia entre correligion�rios. De b�nus, muitos ainda conseguem agregar o poder eleitoral de correntes religiosas, sobretudo os neopentecostais. Quem perde com isso? PT, PSDB e MDB.
Professor do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Federal do Paran�, Emerson Urizzi Cervi lembra que as tr�s legendas dominaram a cena pol�tica nos �ltimos 30 anos e, agora, sofrem com uma crise institucional. Para ele, quem mais perdeu foram os tucanos.
Em S�o Paulo, na �ltima pesquisa Datafolha, Celso Russomanno (Republicanos) apareceu em primeiro, seguido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). O cientista pol�tico e CEO da Dharma Political Risk and Strategy, Creomar de Souza, afirma que, ainda que perca outras capitais, se os tucanos conseguirem emplacar seu candidato, ganhar�o f�lego para lan�ar o governador do estado, Jo�o Doria, em 2022, � Presid�ncia da Rep�blica.
O Brasil, ali�s, bateu recorde de candidatos inscritos nas elei��es deste ano, cujo prazo final foi neste s�bado, �s 19h: 517.786 pessoas querem disputar uma cadeira de prefeito, vice-prefeito ou vereador, conforme o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), at� a noite de ontem. Os nomes para vereador representam a maior parte: 480,9 mil pedidos. J� prefeitos, s�o 18.416; para o cargo de vice-prefeito, 18.436. Os nomes ainda ser�o analisados pelo ju�zo eleitoral. Nas elei��es de 2016, o n�mero de inscri��es foi de 503,2 mil.
Desgaste na imagem
O cientista pol�tico Creomar de Souza avalia que o PT ser�, entre os partidos tradicionais, o que ter� a situa��o mais complicada, por ter sofrido muitos ataques nos �ltimos anos. J� no caso do MDB e do PSDB, a perda de espa�o deve variar de capital para capital. “O PT � a legenda que mais sofreu no passado recente, mas, tamb�m, tem maior cristaliza��o. Tende a perder prefeituras, por�m ser competitivo”, salienta.
Emerson Cervi acredita que as elei��es de 2016 foram as mais desastrosas para o PT em mat�ria de candidatos, votos e eleitos, e � poss�vel que 2020 mantenha o mesmo padr�o.
Em S�o Paulo, o cientista pol�tico e professor da Funda��o Getulio Vargas (FGV) de S�o Paulo Marco Ant�nio Carvalho Teixeira aponta que o PT caminha para seu pior desempenho na capital desde as elei��es de Luiza Erundina, no final da d�cada de 1980. “� prov�vel que nem chegue ao segundo turno”, adianta. O candidato da legenda, Jilmar Tatto, com 1% das inten��es de voto, n�o tem tido express�o na cidade, nem tampouco apoio interno.
Ainda que Celso Russomanno (Republicanos) tenha sa�do na dianteira, na �ltima pesquisa Datafolha, com Covas em segundo e M�rcio Fran�a (PSB) dividindo espa�o com Guilherme Boulos (PSOL), Teixeira lembra que o deputado bolsonarista pode repetir o cen�rio de 2012 e 2016 –– disparou �s v�speras da campanha e n�o chegou ao segundo turno.
Para o professor, Covas acaba se beneficiando com tal quadro. Na avalia��o de Teixeira, ele est� praticamente sozinho no centro, com alian�as s�lidas.
For�a dos veteranos
Em Manaus, h� a preval�ncia de partidos menores sobre as legendas tradicionais. Por�m, os candidatos de maior prefer�ncia do eleitorado seguem sendo os mais antigos. O professor do Departamento de Ci�ncias Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Tiago Jaca�na tra�ou um perfil dos candidatos a prefeito, apontando que o MDB � “supertradicional” na regi�o. A legenda tem o senador Eduardo Braga, que apoia Amazonino Mendes, do Podemos, que � quem lidera as pesquisas de inten��o de voto. “J� foi governador e prefeito, j� foi filiado a v�rios partidos. � um nome tradicional em partido n�o t�o tradicional”, destaca.
Reeleito em 2016, o atual prefeito, Arthur Virg�lio Neto (PSDB), n�o tem nome forte para suced�-lo. Embora seja o partido que mais sofreu ataques nos �ltimos anos, o PT est� em terceiro, com o deputado federal Jos� Ricardo em alian�a com o PSol
No Nordeste, as elei��es municipais seguem outra l�gica de disputa de grupos locais consolidados e tradicionais. Isso se v� na mais populosa capital da regi�o, Salvador, cuja corrida � prefeitura est� dividida entre o DEM, com um candidato forte do prefeito ACM Neto; o atual vice-prefeito, Bruno Reis; e outras tr�s candidaturas � esquerda. Cientista pol�tico e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo F�bio Dantas Neto diz n�o ver espa�o para polariza��o entre outsiders e populistas declarados em Salvador.
O professor explica que a disputa est� centrada entre o candidato de ACM Neto, que conseguiu aglutinar 13 legendas, e a base governista estadual petista, do governador Ruy Costa, que est� mais segmentada, com tr�s candidatos: al�m da aposta do PT, a Major Denice Santiago, que n�o tem trajet�ria pol�tica, e Ol�via Santana (PCdoB), h� o deputado federal Pastor Sargento Isid�rio (Avante), que tamb�m � ligado ao grupo, apesar de ter um discurso conservador e mais alinhado com o bolsonarismo.
Espa�o fechado
Em Goi�nia, a expectativa � de que o PSDB continue sem espa�o. O dom�nio na prefeitura � tradicionalmente do MDB –– Iris Rezende resolveu, neste ano, n�o disputar reelei��o e anunciou sua aposentadoria da vida pol�tica, aos 86 anos.
O doutor em ci�ncias pol�ticas e especialista em comportamento eleitoral Robert Bonif�cio explica que o PT nunca foi forte em Goi�s. Hoje, no entanto, segundo o especialista, a legenda tem uma candidata respeit�vel, a deputada estadual Adriana Accorsi. Ela apareceu em segundo lugar, empatada tecnicamente com Maguito, em pesquisa Serpes/O Popular, divulgada neste s�bado.
Caiado apoiar�, em Goi�nia, o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que ocupa o primeiro lugar nas pesquisas. Ele tem vis�es alinhadas com as de Bolsonaro, inclusive as negacionistas, como a avers�o ao isolamento social. Bonif�cio destaca que, al�m das legendas, o personalismo exerce mais for�a.
Candidatos em massa
Um dos segredos das pequenas legendas para ganhar espa�o nas elei��es municipais � a forte ades�o de eleitores a candidatos vindos do meio evang�lico. E essa configura��o repete-se em Curitiba, conforme o professor Emerson Urizzi Cervi. Ele explica que, com o fim das coliga��es, os partidos t�m um n�mero maior de postulantes a apresentar. E, em Curitiba, apenas dois ou tr�s partidos, “que s�o de igreja evang�lica”, conseguiram passar de 50 candidatos a vereador.
“Os partidos tradicionais n�o est�o conseguindo. MDB, PSDB e PT v�o apresentar chapas bem menores do que partidos pequenos. Isso em decorr�ncia do fim das coliga��es”, explica
Apesar do poder dos pequenos ter aumentado, o candidato que partiu na frente em Curitiba � o prefeito da capital, Rafael Greca (DEM). Seu principal opositor, Ney Leprevost (PSD), que foi para o segundo turno com ele em 2016, desistiu do pleito. O terceiro mais forte, o ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT), tamb�m saiu da jogada, dando larga vantagem a Greca. Na sequ�ncia, vem o bolsonarista Delegado Francischini, do PSL. “Tem um v�cuo entre os mais jovens e entre os progressistas, que ficaram sem candidato”, explica Cervi.