
A pandemia de coronav�rus tem afastado mais eleitores das urnas em todo mundo, um cen�rio que tende se repetir nas elei��es municipais brasileiras, marcadas para 15 de novembro, segundo cientistas pol�ticos consultados pela BBC News Brasil.
Monitoramento do Instituto Internacional pela Democracia e Assist�ncia Eleitoral (Idea, na sigla em ingl�s), mostra que, de 41 elei��es realizadas neste ano em diferentes pa�ses, 26 (63% do total) registraram aumento na absten��o na compara��o com pleitos anteriores.Na Fran�a, onde o voto n�o � obrigat�rio, apenas quatro em cada dez eleitores compareceram �s urnas para votar nas elei��es municipais de junho, levando ao recorde de 60% de absten��o (12 pontos percentuais a mais do que o observado no pleito municipal anterior, em 2014).
Como o voto � obrigat�rio no Brasil, cientistas pol�ticos n�o preveem um patamar t�o alto de absten��o por aqui. Acreditam, por�m, que deve haver aumento na compara��o com a disputa eleitoral de 2016, quando mais de 25 milh�es de eleitores n�o compareceram �s urnas no primeiro turno (17,6% do total de brasileiros aptos a votar) — o que pode impactar resultados nas disputas mais apertadas.
Naquele ano, houve a terceira alta seguida de absten��o nas elei��es municipais, fen�meno que indica um aumento do "desalento" dos eleitores, ou seja, uma menor confian�a na pol�tica e no valor do seu voto, afirmam estudiosos. Para o cientista pol�tico Ivan Filipe Fernandes, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), essa tend�ncia deve ser agravada pela pandemia.
"Neste ano, teremos pessoas com medo de contrair covid-19 e fazendo aquele c�lculo de se vale a pena sair de casa considerando o efeito pequeno do seu voto individual no resultado da elei��o. Somando isso com um processo em que as pessoas j� est�o desalentadas com a pol�tica, a minha expectativa � que aumente muito o n�o comparecimento. Acredito que teremos absten��o recorde neste ano", afirma o professor, autor de estudos sobre absten��o eleitoral.
Para Fernandes, o aumento da absten��o pode impactar o desfecho de elei��es que estiverem mais acirradas, como o caso de S�o Paulo. "J� em Belo Horizonte, onde as pesquisas apontam que o atual prefeito (Alexandre Kalil, do PSD) tem grande vantagem e deve ser eleito em primeiro turno, uma absten��o maior n�o deve afetar o resultado", ressalta.
Idosos e mais pobres devem ser mais afetados
O cientista pol�tico Antonio Lavareda, presidente do conselho cient�fico do Instituto de Pesquisas Sociais Pol�ticas e Econ�micas (Ipespe), acredita que a pandemia afetar� a disposi��o do eleitor em votar por duas formas: tanto devido ao temor de ser infectado ao sair de casa, quanto pelo esfriamento da campanha eleitoral, j� que neste ano a realiza��o de eventos na rua e de debates pelas redes de televis�o foi reduzida como forma de evitar o cont�gio da doen�a.
Ele nota que as elei��es regionais realizadas no Uruguai em setembro tiveram alta taxa de participa��o (85% dos eleitores compareceram). Na sua avalia��o, por�m, o cen�rio deve ser diferente no Brasil porque aqui a propor��o de pessoas infectadas e mortas pela doen�a � bem maior, o que tende a gerar mais cautela entre os eleitores. Enquanto o Brasil registra uma taxa de 710 �bitos devido ao coronav�rus por milh�o de habitantes, no Uruguai esse �ndice � de 12 mortes.
Segundo Lavareda, o impacto de um aumento na absten��o sobre o resultado das elei��es depender� de como esse fen�meno afetar� diferentes segmentos da sociedade.
"Se a pandemia afastar das urnas especialmente idosos (grupo de risco da covid-19) e os mais pobres, que historicamente t�m taxas maiores de absten��o, naturalmente candidatos que tenham apoio maior desse segmentos perder�o mais votos com a absten��o", exemplifica.
� um fen�meno que poderia afetar, por exemplo, o candidato a prefeito de S�o Paulo Celso Russomano (Republicanos). Segundo pesquisa Ibope do in�cio de outubro, o candidato lidera as pesquisas com 26% de inten��o de voto, mas tem seu melhor desempenho entre os que ganham at� um sal�rio m�nimo. Nesse grupo, 34% responderam que votar�o em Russomano. Nesse segmento, por�m, apenas 69% dos entrevistados disseram que com certeza comparecer�o �s urnas, enquanto 31% responderam que, devido ao coronav�rus est�o na d�vida (22%) ou n�o ir�o "de jeito nenhum" (9%).

J� na m�dia geral dos entrevistados em S�o Paulo, 75% garantiram que votar�o no dia 15 de novembro.
"Este ano, vamos ver aqui algo parecido com a elei��o dos Estados Unidos (onde o voto n�o � obrigat�rio). N�o basta o candidato pedir voto, tem que convencer o eleitor a sair pra votar", nota Lavareda.
Em outras cidades pesquisadas pelo Ibope, a disposi��o em votar mesmo na pandemia � ainda menor, caso de Salvador, onde 69% pretendem ir �s urnas com certeza, e Rio de Janeiro (71%). Por outro lado, esse percentual sobe em capitais como Bel�m (83%) e Vit�ria (84%).
Aplicativo do TSE deixar� mais simples justificar o voto
O cientista pol�tico Julian Borba, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que uma absten��o alta "pode acarretar problemas de representatividade do eleitorado no sistema pol�tico", na medida em que certos segmentos tendem a ser mais afetados. O eleitor, ele explica, faz um c�lculo entre o "custo" de comparecer � urna e o peso do seu voto. Com isso, em geral s�o os mais pobres, menos escolarizados e moradores de �reas menos urbanas que se abst�m em maior propor��o.
"E esse problema de altera��o da representatividade ocorre mais fortemente na elei��o vereadores", nota o professor, j� que os candidatos ao Poder Legislativos costumam ter uma base eleitoral mais segmentada.
Para Borba, enquanto o risco para a sa�de causado pela pandemia vai elevar o "custo" de comparecer � urna nesta elei��o, a possibilidade de justificar a aus�ncia por aplicativo de celular, por outro lado, reduzir� o "custo" de faltar ao pleito e justificar depois.
Pela primeira vez neste ano, o aplicativo e-T�tulo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), poder� ser usado pelos eleitores para justificar a falta at� 60 dias depois da elei��o, com objetivo de reduzir aglomera��es nas sess�es eleitorais onde tradicionalmente isso � feito. Segundo a Corte, a tecnologia de geolocaliza��o impedir� que o eleitor justifique sua aus�ncia mesmo estando na sua cidade de vota��o.
"N�o comparecer j� � muito pouco custoso, pois a multa para quem deixa de votar e n�o justifica � de apenas R$ 3,50. Agora, o custo de absten��o est� sendo praticamente zerando, j� que basta se cadastrar (no aplicativo), justificar meu voto e est� tudo ok. Ent�o, pode se esperar tamb�m um efeito negativo nesse sentido", prev� o professor da UFSC.
Neste ano, por�m, outro fato pode ter o efeito de contribuir para um n�mero menor de absten��o, mesmo que mais gente falte ao pleito. Borba lembra que esse dado costuma ser inflado por eleitores que j� morreram, mas que continuam no cadastro da Justi�a Eleitoral. Nos �ltimos anos, no entanto, o TSE est� gradativamente realizando o recadastramento biom�trico dos eleitores, o que deve reduzir esse efeito de brasileiros que constam como eleitores mesmo ap�s a morte.

TSE descarta dia extra de elei��o
Embora a absten��o tenha crescido neste ano na maioria dos pleitos realizados pelo mundo, relat�rio do Instituto Internacional pela Democracia e Assist�ncia Eleitoral diz que medidas como permitir o voto antecipado (urnas em funcionamento antes do dia da elei��o) e/ou o voto por correio foram importantes para evitar um aumento maior da aus�ncia ou at� mesmo ampliar o comparecimento dos eleitores em alguns pa�ses, mesmo no contexto de pandemia.
Essas medidas, por�m, n�o ser�o adotadas no Brasil. O TSE avaliou que manter as urnas em funcionamento por mais um dia teria um custo elevado, de R$ 180 milh�es, o que inclui gastos com mes�rios e com as For�as Armadas, que auxiliam a Justi�a Eleitoral no transporte das urnas eletr�nicas em �reas remotas do pa�s.
Como alternativa para reduzir as aglomera��es e encorajar os eleitores a votar, o TSE decidiu que a elei��o ter� in�cio uma hora mais cedo que o normal, �s 7h da manh�, e reservou as tr�s horas iniciais de vota��o como preferenciais para eleitores acima de 60 anos, que integram o grupo de risco da covid-19. O hor�rio de encerramento, por�m, foi mantido �s 17h.
Para diminuir o risco de cont�gio, a Justi�a Eleitoral decidiu que n�o ser� usado o sistema biom�trico, em que a identifica��o do eleitor � feita pelo reconhecimento de sua digital. Al�m disso, todas as se��es eleitorais ter�o �lcool em gel para limpeza das m�os dos eleitores antes e depois da vota��o, e os mes�rios receber�o m�scaras, face shield (protetor facial) e �lcool em gel para prote��o individual. O uso de m�scaras ser� obrigat�rio tamb�m para os eleitores, que dever�o providenciar sua pr�pria prote��o.
A pandemia tamb�m provocou o adiamento da elei��o, que inicialmente ocorreria em outubro.
"O cuidado com a sa�de � muito importante. E o direito de votar e ajudar a escolher o rumo da sua cidade pelos pr�ximos quatro anos vem logo em seguida. Convocamos os eleitores a participar desse momento relevante para a democracia com muita responsabilidade, tomando todos os cuidados sanit�rios indicados", afirmou o presidente do TSE, ministro Lu�s Roberto Barroso, ao anunciar as medidas em setembro.
Questionado pela BBC News Brasil, o TSE contestou a ideia de que o uso de aplicativo para justificar o voto v� aumentar a absten��o. "Trata-se de uma funcionalidade de facilitar a vida do eleitor que j� n�o iria votar por estar fora do seu domic�lio eleitoral, em um cen�rio de pandemia, no qual buscamos evitar aglomera��es", disse a Corte, por meio de nota.
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O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
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- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
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Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
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Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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