'Mais uma vez, voc� est� falando dos parentes do Bolsonaro e n�o do cara que me apoiou', diz Nikolas Ferreira, ao ser confrontado com o envolvimento da fam�lia do presidente em esquemas de rachadinha. (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Segundo no ranking de vota��o da C�mara Municipal de Belo Horizonte nas elei��es deste domingo (15), Nikolas Ferreira (PRTB) ostenta 29.388 votos e uma cole��o ainda maior de certezas. R�gido, seu discurso tem pinceladas de acusa��es de tribunal. Especialmente quando o assunto s�o os parlamentares de esquerda, espectro pol�tico que ele classifica como “naturalmente errado” e “mau”.
Formado em Direito pela Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC-MG) e frequentador da Comunidade Evang�lica Gra�a e Paz, Nikolas atribui o sucesso de sua campanha justamente � personalidade austera. “As pessoas v�em em mim um jovem conservador, com valores e princ�pios firmes. A popula��o est� cansada de frouxos na pol�tica e gente politicamente correta”, avalia.
Ao Estado de Minas, Ferreira falou tamb�m sobre as propostas de seu mandato. Al�m de “combater a esquerda”, ele diz que pretende “investir no social”, a fim de mostrar que a pauta tamb�m � cara � direita.
'As pessoas veem em mim um jovem conservador, com valores e princ�pios firmes. A popula��o est� cansada de frouxos na pol�tica e gente politicamente correta', diz Nikolas Ferreira, segundo vereador mais votado de BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Voc� disse � imprensa no domingo (15) que ser� “uma muralha contra a esquerda”. Quais pautas desse espectro pol�tico pretende combater e por que acha que amea�am a cidade?
Uma das quest�es � a ideologia de g�nero. A esquerda quer abordar isso nas escolas. E estou atento, pois o que eles n�o conseguem passar no �mbito da Uni�o e do estado, eles tentam aprovar na esfera municipal. Outro ponto que vou combater � qualquer discurso que venha relativizar a vida, qualquer tipo de palestra ou atividade que defenda o aborto. Vou trabalhar para que nenhuma dessas pautas passe. A esquerda, ela � muito criativa. Eu n�o consigo descrever tudo o que ela pode fazer no �mbito municipal porque eles s�o muito criativos. Coisas que n�o s�o nem da compet�ncia do vereador, eles querem pautar na c�mara. A ideologia de g�nero, o aborto e o feminismo s�o exemplos disso. Eles fazem uma gin�stica mental muito grande para inserir o progressismo dentro da nossa cidade. Mas, enquanto eu estiver na c�mara, vou fazer de tudo para que nenhuma proposta ideol�gica deles passe.
Mas o voc� n�o est� a servi�o apenas do seu eleitorado. Como todo vereador, ter� que atuar em benef�cio de todos os cidad�os, incluindo os que se identificam com a esquerda. Como pretende equilibrar suas prefer�ncias e deveres?
Pode ter certeza de que as pautas que forem boas para a cidade, principalmente as econ�micas e de educa��o, tudo o que seja para facilitar a vida das pessoas e para o bem comum da capital, eu vou apoiar, mesmo se o autor das propostas for uma pessoa de esquerda. Agora, quanto aos projetos de lei da esfera ideol�gica, eu preciso representar os 29.388 que me elegeram.
Voc� acusa a esquerda de agir conforme “ideologias”, mas tamb�m tem a sua, que � religiosa e conservadora. N�o acha que precisa ficar atento a isso para exercer seu mandato de forma satisfat�ria?
O cristianismo n�o � uma ideologia. Ele tem como base Cristo. Quer dizer nada mais que ser um imitador de Cristo.
Mas tem gente que n�o acredita em Cristo.
Eu sei. Mas trata-se da cosmovis�o, no sentido de que, ainda que voc� n�o concorde, aquilo ali vai estar certo. Voc� n�o pode ignorar uma religi�o que construiu a civiliza��o ocidental inteira.
Voc� tem certeza de que quer afirmar isso? N�o acha muito impositivo?
N�o � impositivo, � a realidade. As universidades foram criadas por quem? Precisamos dar m�rito a quem tem m�rito. Depois que a esquerda erguer a sua maior institui��o de caridade do mundo, como as mantidas pelas igrejas evang�licas e cat�licas, quando ela construir uma civiliza��o, quando ela apresentar fil�sofos que mudem a hist�ria da humanidade, a� ela pode querer reivindicar alguma coisa. At� l�, ela s� vai ser uma ideologia que matou milh�es de pessoas. De todo modo, � importante ressaltar que eu vou combater a Duda no campo ideol�gico. Naquilo que disser respeito ao trabalho que ela fizer na c�mara voltado ao bem comum, pretendo reconhecer.
No domingo, voc� afirmou n�o reconhecer Duda Salabert como mulher. Sua postura foi avaliada como transf�bica pela comunidade LBGTQI+. N�o teme ser processado, considerando que transfobia agora � crime equipar�vel ao racismo?
� biologia. Eu n�o estou falando algo que eu acho. Ele � um homem. E � importante deixar claro que n�o existe nenhuma criminaliza��o com rela��o � biologia. Simplesmente estou falando aquilo que a ci�ncia diz. Por favor, me aponte onde eu tive uma atitude homof�bica e onde h� jurisprud�ncia ou qualquer ordenamento jur�dico que diz que fui transf�bico. Chamar um homem de homem n�o � transfobia, � dizer aquilo que ele � � luz da ci�ncia. Mudem a ci�ncia.
Voc� foi um dos cinco vereadores a quem o presidente Jair Bolsonaro manifestou apoio expl�cito. Como � a sua rela��o com ele?
Conheci o presidente Jair Bolsonaro em 2015. Estive no gabinete dele (ent�o deputado federal pelo Rio de Janeiro) por conta de uma viagem que fiz para acompanhar a segunda vota��o do impeachment da (ex-presidente) Dilma (Rousseff). Viajei junto com o deputado federal Cabo J�lio Amaral (PSL-MG). L�, apresentamos o movimento Direita Minas para Bolsonaro. Nesta �ltima semana, eu estive novamente no Pal�cio da Alvorada, tomei um caf� com o presidente. A gente conversou e ele ent�o manifestou apoio � minha campanha.
Voc� diria que apoia irrestritamente o presidente?
Com certeza.
Inclusive no que diz respeito � condu��o da pandemia de COVID-19?
Ele lidou de maneira certa com a pandemia. A gente p�de ver isso. Enquanto ele estava defendendo que a economia era “vida”, que havia condi��o de manter o com�rcio aberto de forma segura e respons�vel, prefeitos e governadores assumiram uma postura ditatorial, impedindo as pessoas de ir e vir, quebrando um princ�pio b�sico da nossa Constitui��o, que � a liberdade. Isso sem subestimar o v�rus, mas com aten��o � economia, porque ela tamb�m � vida.
Sem as pol�ticas adotadas pelos prefeitos, n�o ter�amos tido mais mortes?
A forma como se lidou com isso foi hist�rica. Inclusive o �tila “Marinho” (�tila Iamarino, microbiologista brasileiro com p�s-doutorado em virologia pela Universidade de Yale) disse que morreriam tr�s milh�es de pessoas. As pessoas ficaram completamente hist�ricas com rela��o a isso. S� que, de repente, convencionou-se que estava liberado andar em �nibus lotados, pegar um avi�o com algu�m sentado ao lado. Mas, na rua, o distanciamento social precisava ser mantido. Ficam algumas perguntas diante disso: se o distanciamento funciona, para qu� a m�scara? Se a m�scara funciona, por que o distanciamento? E se os dois funcionam, por que a quarentena? Para mim, as medidas impostas na pandemia, al�m de hist�ricas, foram pol�ticas. A gente observa v�rias hipocrisias e inconsist�ncias. Por exemplo, fechar os shoppings tradicionais e deixar o (shopping popular) Oiapoque aberto durante um per�odo. Qual o sentido disso? Qual o sentido de obrigar uma pessoa a entrar em um shopping com m�scara mas, quando ela se senta, permitir que ela retire?
A ci�ncia demonstra que flexibilizar, ainda que com a ado��o de medidas de higiene, � perigoso dentro de um cen�rio de alto risco de transmiss�o do v�rus. Por isso a quarentena: os cuidados s� s�o eficazes quando a propaga��o da COVID est� mais controlada.
Muitas pessoas poderiam ter sido curadas inclusive com o protocolo de hidroxicloroquina. Realmente, as pessoas que usaram o medicamento de maneira precoce tiveram resultado. Num momento de pandemia, para salvar vidas, � preciso fazer algo. N�o tem condi��o simplesmente dizer �s pessoas para ficarem em casa. E na favela, como � que faz? ‘Ah, fica em casa, a economia a gente v� depois’. Mas e o p�o de todo dia que o trabalhador precisa colocar na mesa? A pessoa n�o morre de COVID, mas morre de fome.
E quanto ao combate � corrup��o, que foi uma das bandeiras da sua campanha? O presidente tem sido associado a alguns esc�ndalos.
Em qual crime ele est� envolvido?
Por exemplo, o esc�ndalo da rachadinha. Os filhos dele s�o investigados em opera��es conduzidas pelo Minist�rio P�blico e pela Pol�cia Federal….
Voc� est� falando do presidente ou dos filhos dele?
Segundo as autoridades, a esposa do presidente recebeu, mais de uma vez, recursos supostamente oriundos da pr�tica de rachadinha.
Mais uma vez, voc� est� falando dos parentes do Bolsonaro e n�o do cara que me apoiou.
Voc� acha poss�vel excluir completamente o presidente desses esc�ndalos?
� simples: alguma das contas banc�rias que recebeu o dinheiro rachadinha � dele? J� existe alguma senten�a? N�o � mais prudente aguardar o desenrolar da hist�ria?
Como pretende construir sua rela��o com o prefeito reeleito Alexandre Kalil (PSD)?
Eu vou fazer o meu papel legislativo de fiscalizar o prefeito e fazer uma oposi��o firme a ele. Porque n�o pode um prefeito que, de manh�, acha que � rei e, de tarde, ele tem certeza. Ele fechou os estabelecimentos, n�o tem nenhum planejamento. Ent�o eu vou cobrar planejamento. Se vier uma segunda onde, ele vai fechar a cidade de novo sem estabelecer di�logo com a popula��o? Ent�o, pode ter certeza de que se ele agir novamente sem di�logo, eu vou estar l� para ser oposi��o.
Quais s�o as suas principais propostas? O que o povo de BH pode esperar do voc�?
Estrutura��o da seguran�a p�blica. Vou trabalhar tamb�m para desburocratizar a libera��o de alvar�s, para que o empreendedor, realmente, consiga empreender aqui. Quero propor ao executivo a redu��o do peso do estado sobre o empreendedor. Tenho inclusive um projeto que prop�e revogar leis in�teis em BH, o chamado “revoga�o”. Se n�o me engano, foi o (vereador) Mateus Sim�es (Novo) quem come�ou isso por aqui e eu vou dar continuidade. Pretendo ainda atuar na parte social, para mostrar que n�o � s� a esquerda que se preocupa com o social. No �mbito da educa��o, quero inserir educa��o financeira e empreendedorismo no curr�culo das escolas. E, no que diz respeito � seguran�a p�blica, vou trabalhar para fortalecer a Guarda Municipal, para termos mais liberdade econ�mica aqui no munic�pio.